- Entre, senhorita Valtieri - disse Alexander de seu lugar ao lado da janela, com uma pasta na mão.
Isabela entrou e fechou a porta atrás de si, ajustando inconscientemente o blazer enquanto caminhava até a mesa.
- Sente-se.
Ela obedeceu, notando que sobre a mesa havia vários documentos empilhados. Não conseguia ver claramente do que se tratavam, mas a forma como estavam organizados sugeria que eram importantes.
Alexander caminhou até sua cadeira e se sentou em frente a ela, deixando cair a pasta com um leve golpe.
- Hoje não quero rodeios - disse com um tom cortante. - Há algo que você precisa saber sobre a Cain Enterprises e sua relação com o passado de sua família.
O estômago de Isabela se contraiu ao ouvir aquelas palavras. Sua expressão permaneceu neutra, mas por dentro sua mente estava correndo a mil por hora.
- Minha família, senhor? - perguntou com voz controlada.
Alexander abriu a pasta, revelando um conjunto de documentos que ela reconheceu imediatamente. Eram os mesmos arquivos que ela havia tentado abrir dias antes.
- Há dois anos, a Cain Enterprises adquiriu uma série de negócios que pertenciam aos Valtieri. Negócios que, infelizmente, estavam à beira da falência devido a más decisões financeiras e, segundo se relatou, um desfalque interno.
Isabela sentiu a cor sumir de seu rosto. Sabia que isso não era toda a verdade, mas manteve a compostura.
- Eu não sabia disso, senhor.
Alexander soltou uma risada curta e sarcástica.
- Não sabia? Isso é curioso. Porque quando tentou acessar esses arquivos, parecia bem interessada nos detalhes.
Isabela apertou as mãos em seu colo, tentando manter a calma.
- Como mencionei antes, foi um erro, senhor. Não estava procurando nada em particular.
Alexander a observou por alguns longos segundos, avaliando-a. Depois, deslizou um dos documentos em sua direção.
- Estes são os termos da aquisição. A Cain Enterprises absorveu os ativos dos Valtieri, incluindo várias propriedades e pequenas empresas. Foi um acordo limpo, ajustado às leis corporativas. Mas o que sempre me intrigou foi a rapidez com que sua família caiu.
Isabela levantou os olhos, encontrando o olhar gelado dele.
- Intrigado?
- Sim. Sua família era conhecida por sua astúcia nos negócios, mas de repente tudo desmoronou. Foi como se alguém tivesse puxado os fios certos no momento exato.
A insinuação por trás de suas palavras a deixou sem fôlego. Ele estava admitindo, indiretamente, sua participação na destruição dos Valtieri?
- Deve ser difícil para você, senhorita Valtieri - continuou Alexander, inclinando-se ligeiramente em sua direção -, trabalhar aqui sabendo que a Cain Enterprises está, de certa forma, conectada com o que aconteceu com sua família.
Isabela sentiu suas defesas começarem a vacilar.
- Meu sobrenome não define minha capacidade para realizar meu trabalho, senhor - disse, tentando manter firmeza na voz. - Estou aqui para trabalhar, não para olhar para o passado.
Alexander recostou-se em sua cadeira, sorrindo levemente.
- Essa é uma resposta interessante. Mas permita-me lembrá-la de algo: nos negócios, o passado nunca está realmente enterrado. Sempre encontra uma maneira de voltar.
O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Finalmente, Alexander levantou-se de sua cadeira, caminhando ao redor da mesa até ficar em pé diante dela.
- Se há algo que você deseja saber sobre o que aconteceu com sua família, este seria o momento de perguntar.
Isabela levantou os olhos, sentindo seu coração martelar em seus ouvidos. O que estava fazendo? Era uma armadilha para ver até onde ela iria?
- Não tenho perguntas, senhor Cain - respondeu com firmeza, embora todo o seu ser desejasse o contrário.
Alexander assentiu lentamente, como se sua resposta confirmasse algo que ele já suspeitava.
- Muito bem, senhorita Valtieri. Isso é tudo por agora. Pode se retirar.
Isabela se levantou, pegando seu caderno sem dizer mais uma palavra. Caminhou até a porta, sentindo que suas pernas estavam pesadas como chumbo.
- Uma última coisa, Isabela - disse Alexander antes que ela saísse.
Ela parou, sem ousar se virar.
- Da próxima vez que tentar acessar algo classificado, lembre-se de que sempre estou observando.
O tom de sua voz não era uma ameaça direta, mas a mensagem era clara. Ela assentiu rapidamente e saiu, fechando a porta atrás de si.
Quando chegou à sua mesa, Isabela sentiu que lhe faltava o ar. As palavras de Alexander ainda ecoavam em sua mente. Havia algo em seu tom, nas suas insinuações, que sugeria que ele sabia mais do que estava dizendo.
Enquanto tentava se acalmar, seu telefone vibrou. Uma mensagem de um número desconhecido apareceu na tela:
"O passado nunca morre. E a verdade também não."
Isabela apertou o telefone contra o peito, sentindo que seu mundo se tornava ainda mais incerto. Sabia que estava jogando um jogo perigoso, mas não tinha intenção de recuar. Não até descobrir toda a verdade.