Capítulo 2 Sombras do Passado

A porta do dormitório rangeu levemente, e Heitor e Alexei se entreolharam, o coração disparado. O eco dos passos se aproximava, parecendo ressoar em cada parede da mansão. Instintivamente, Alexei empurrou Heitor para trás de uma cama, enquanto ele se espremeu contra a parede, tentando fazer-se invisível.

A figura que entrou era um dos instrutores, Nikolai, conhecido por sua severidade e por ter um olhar que parecia penetrar na alma de qualquer um. Ele parou no centro do quarto e olhou ao redor, como se sentisse a presença deles. O silêncio era palpável, e Heitor prendeu a respiração.

Nikolai permaneceu ali por um longo momento, seus olhos frios examinando cada canto. Finalmente, ele se virou e saiu, fechando a porta com um estrondo que fez o coração de Heitor pular. Ambos permaneceram em silêncio por mais alguns minutos, até que Alexei soltou um suspiro pesado.

- Precisamos ser mais rápidos - sussurrou ele. - Não podemos nos arriscar assim de novo.

Heitor concordou com a cabeça e puxou o diário para perto. - Precisamos decifrar isso antes de irmos ao porão. Se o que está aqui for verdade, pode ser nossa única chance de entender o que acontece no Razumov.

Alexei acenou afirmativamente e começou a folhear as páginas novamente. - Esses códigos parecem datar de anos atrás... Pode haver informações sobre outros órfãos que desapareceram. Se soubermos o que aconteceu com eles, talvez possamos evitar o mesmo destino.

Heitor olhou pela janela empoeirada. A neve caía suavemente do lado de fora, cobrindo o mundo em branco e silente. Mas dentro da mansão, a escuridão era densa e cheia de mistérios não revelados.

- E se encontrarmos algo que não deveríamos? - perguntou Heitor, a dúvida se infiltrando em sua mente. - E se houver consequências?

- Então enfrentaremos as consequências juntos - respondeu Alexei com firmeza. - Não estamos sozinhos nisso.

Com uma nova determinação, eles começaram a trabalhar nos códigos. As horas passaram como minutos enquanto eles tentavam decifrar os símbolos complexos. Cada descoberta parecia abrir novas portas para segredos inimagináveis.

Finalmente, depois de muito esforço, Alexei exclamou: - Aqui! Este símbolo... é uma referência a um local específico no porão! Diz algo sobre um "sala de testes".

Heitor franziu a testa. - Testes? Que tipo de testes?

Alexei continuou a ler em voz baixa: "Os que falham são levados à sala de testes para reavaliação." A expressão dele escureceu. - Isso... isso não é bom.

O medo cresceu dentro de Heitor como uma tempestade prestes a estourar. Eles estavam prestes a descobrir verdades que poderiam mudar tudo.

- Precisamos ir agora - disse Heitor, levantando-se rapidamente. - Quanto mais tempo esperarmos, mais perto ficamos da descoberta do nosso próprio destino.

Os dois saíram do dormitório com cautela, atentos ao menor ruído. O corredor estava deserto, mas a sensação de serem observados nunca desaparecia completamente.

A descida até o porão era uma jornada aterrorizante; cada degrau rangia sob seus pés como se estivesse alertando os guardas do orfanato sobre sua presença ilícita. Ao chegarem à porta do porão, Heitor hesitou.

- Você está pronto? - perguntou Alexei, sua voz quase um sussurro.

Heitor respirou fundo e girou a maçaneta com firmeza. A porta rangeu ao abrir-se lentamente, revelando um espaço escuro e úmido que parecia absorver toda a luz ao seu redor. O cheiro de mofo e algo metálico invadiu suas narinas.

Dentro do porão havia várias caixas empilhadas desordenadamente e equipamentos cobertos por lençóis brancos empoeirados. No fundo da sala estava uma porta pesada com o mesmo símbolo que encontraram no diário: o círculo com linhas cruzadas.

- É aqui! - disse Alexei com os olhos brilhando de adrenalina e medo.

Antes que pudessem avançar mais, um barulho ecoou atrás deles: passos rápidos se aproximando pela escada estreita. O coração de Heitor disparou novamente; eles não tinham muito tempo.

- Rápido! Para trás daquelas caixas! - sussurrou Heitor enquanto puxava Alexei para um canto escuro da sala.

Eles se agacharam atrás das caixas enquanto sombras dançavam na entrada do porão. A tensão era palpável; ambos podiam ouvir os passos se aproximando cada vez mais.

E naquele momento crítico, enquanto aguardavam pelo desconhecido, Heitor percebeu: as sombras não eram apenas externas; elas também habitavam suas próprias almas, lembranças dos traumas vividos naquele lugar sombrio e gelado onde esperanças eram apagadas como chamas em uma tempestade de neve. O verdadeiro teste estava apenas começando...

            
            

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