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O grito de Nikolai ecoou pela sala, cortando o ar pesado e úmido. Heitor e Alexei congelaram, como presas encurraladas por um predador. O caderno com os registros ainda estava aberto nas mãos de Alexei, suas páginas reveladoras expostas sob a luz fraca.
- Eu perguntei o que vocês estão fazendo aqui! - repetiu Nikolai, sua voz carregada de raiva e algo mais... talvez medo.
Heitor deu um passo à frente, segurando o diário que encontrara no depósito como se fosse um escudo. Seu coração batia tão forte que ele tinha certeza de que Nikolai podia ouvir.
- Queremos respostas, Nikolai! - disse ele, sua voz tremendo no início, mas logo ganhando firmeza. - Por que estamos aqui? O que significa tudo isso?
Nikolai estreitou os olhos, avaliando os dois garotos. O jovem ao lado dele deu um passo adiante, mas Nikolai levantou a mão, impedindo-o.
- Vocês não têm ideia de onde estão se metendo - disse ele, com um tom que oscilava entre ameaça e advertência. - Este lugar não é um orfanato comum. Vocês são parte de algo muito maior do que conseguem compreender.
- Maior como? - interrompeu Alexei, sua voz carregada de indignação. - Experimentar com crianças? Decidir quem vive e quem... desaparece?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Nikolai permaneceu imóvel, mas algo em sua postura mudou. Ele suspirou profundamente, como se o peso de um segredo antigo estivesse finalmente o esmagando.
- Vocês querem saber a verdade? - perguntou ele, sua voz subitamente mais baixa, quase um sussurro. - Então sigam-me.
Heitor e Alexei trocaram um olhar hesitante. Era um convite ou uma armadilha? Ainda assim, ambos sabiam que não poderiam recuar agora. Guardaram os cadernos e seguiram Nikolai em direção ao fundo da sala.
Ele usou a chave que encontrara momentos antes para abrir uma porta oculta na parede. Quando ela se abriu, revelou um túnel estreito e escuro, iluminado apenas por lâmpadas fracas penduradas em intervalos irregulares.
- Este é o coração do Acrópole Sombria - disse Nikolai enquanto entravam no túnel. - Aqui estão as respostas que vocês buscam... e talvez mais do que gostariam de saber.
O corredor parecia infinito, suas paredes de pedra exalando um frio que penetrava até os ossos. Cada passo ecoava como se a mansão inteira estivesse ouvindo. O jovem ao lado de Nikolai mantinha-se em silêncio, mas seu olhar vigilante não perdia um movimento sequer dos dois garotos.
Finalmente, chegaram a uma sala ampla e circular, cheia de telas, painéis de controle e arquivos organizados em estantes metálicas. No centro, um grande monitor exibia o mesmo símbolo que estava no diário: o círculo com linhas cruzadas.
- Bem-vindos à Sala de Comando - disse Nikolai, gesticulando ao redor. - É aqui que o futuro é decidido.
Heitor franziu a testa. - Futuro?
Nikolai se virou para encará-los, sua expressão severa suavizando por um instante.
- Vocês foram escolhidos - começou ele. - Desde o momento em que chegaram aqui, vocês foram avaliados. Não apenas por suas habilidades físicas, mas por sua inteligência, lealdade e resiliência. Este não é um orfanato comum, como já perceberam. É uma instalação projetada para formar agentes de elite.
- E aqueles que não passam nos testes? - interrompeu Alexei, cruzando os braços. - O que acontece com eles?
Nikolai hesitou, seus olhos endurecendo. - Eles... são dispensados.
- Isso significa mortos, não é? - disse Heitor, sentindo a raiva crescer.
- Não é tão simples assim - respondeu Nikolai. - Alguns são enviados para outros programas. Outros... não sobrevivem às exigências.
Heitor sentiu seu estômago revirar. Tudo que ele desconfiava era pior do que imaginava.
- E nós? - perguntou Alexei, com a voz tremendo. - Por que estamos aqui agora?
Nikolai apontou para o monitor central, que começou a exibir imagens dos dois garotos em diferentes momentos: treinando, lutando, até mesmo conversando em segredo.
- Vocês dois são especiais - disse ele. - Heitor, sua inteligência e determinação o tornam um líder natural. Alexei, sua habilidade de adaptação e instintos o tornam um sobrevivente nato. Vocês são o que chamamos de "potenciais elevados".
- Potenciais para quê? - perguntou Heitor.
- Para serem as armas perfeitas.
As palavras pairaram no ar como uma sentença. Heitor sentiu a fúria borbulhar dentro de si.
- Não somos armas. Somos pessoas! - gritou ele.
Nikolai suspirou novamente, como se esperasse aquela reação. - Vocês podem escolher lutar contra isso ou aceitar. Mas a verdade é que, se não abraçarem seu potencial, alguém mais o fará. E esse alguém pode não ter suas... qualidades morais.
Nesse momento, a porta do túnel atrás deles se fechou com um estrondo. O jovem que acompanhava Nikolai sacou uma arma, apontando-a diretamente para Heitor e Alexei.
- A escolha é de vocês - disse Nikolai, com frieza. - Mas saibam que não há escapatória do Acrópole Sombria.
Heitor olhou para Alexei. Eles estavam em um beco sem saída, mas algo em seus olhos dizia que não desistiriam sem lutar. As sombras os cercavam, mas, no fundo, uma fagulha de esperança ainda queimava.
A luta pela verdade estava apenas começando.