Capítulo 4 Ravi Lockwood.

Chego em casa exausto após a viagem. Assim que abro a porta, sou imediatamente atingido por gritos vindos da sala. Meu coração dispara e um sentimento de apreensão toma conta de mim. Sem hesitar, corro na direção do barulho, preocupado com as vozes alteradas.

Ao entrar, vejo Zadock segurando Ava pelos braços e sacudindo-a furiosamente, enquanto grita acusações contra ela. Ele a acusa de ter se casado comigo apenas para dar um golpe, já que ambos nunca chegaram a oficializar um casamento.

As palavras dele ecoam pelo ambiente, carregadas de ódio. A tensão na sala se torna sufocante. Tudo parece acontecer em câmera lenta. Ava se encolhe, os olhos arregalados, sem conseguir reagir.

A raiva que sinto dissipa qualquer resquício de dúvida que pairava em minha mente desde que voltei de San Diego para Viena. Sem pensar duas vezes, avanço na direção deles.

Antes que Zadock possa acertar um tapa no rosto dela, meu punho encontra o dele com força, fazendo-o soltar Ava e cair no chão.

- Encoste mais um dedo nela, e você vai desejar ver a morte na sua frente.

Zadock solta uma risada cínica.

- Que lindo! - debocha. - Veio defender a mulherzinha.

- Ravi... - ouço a voz fraca de Ava.

Deixo meu irmão caído e me viro para minha mulher. Enxugo suas lágrimas com delicadeza e a envolvo em um abraço apertado.

- Amor, você está bem? - Deposito um beijo em sua testa e seguro seu rosto entre as mãos.

Ela apenas assente, confirmando minha pergunta.

- Suba. Vou resolver isso aqui, e depois conversamos.

Ava concorda novamente e, sem dizer nada, corre escada acima.

- Que cena mais comovente, irmãozinho! - Zadock comenta, o sarcasmo evidente na voz.

Endireito-me e me viro para encará-lo. Ele já está de pé novamente.

- O que você está fazendo aqui?

- Assim que soube que meu irmãozinho havia se casado, corri para parabenizá-lo. - Ele sorri de forma zombeteira. - Mas, claro, muito magoado por não ter sido convidado.

- Você está proibido de voltar a Viena. Ou já se esqueceu disso?

Zadock dá de ombros.

- Essa proibição é inútil quando se trata do meu próprio irmão. E, além disso... você se casou com uma golpista!

Aproximo-me dele, agarrando a lapela do seu terno com força.

- Cale essa maldita boca! Não ouse falar da Ava, Zadock! - rosno, entre dentes.

Empurro-o para longe e encaro seu olhar de ódio.

- Ah, então é isso. Você está revoltado porque ela se casou comigo. Agora você percebe que todo o seu esforço para parecer algo que não era não valeu de nada. Por mais que tenha tentado me afastar dela para conquistá-la, tudo foi em vão.

Zadock me encara, em silêncio.

- E adiantou alguma coisa? Não. Porque, no final, fui eu quem se casou com ela.

Vejo seus olhos se encherem de fúria.

- Como você pode defendê-la? Ela nos enganou, Ravi! Ela deveria ser minha esposa, não sua! Se você não tivesse estragado tudo, ela estaria comigo!

Solto uma risada.

- Olha só... parece que temos um invejoso aqui.

Zadock cerra os punhos.

- Inveja? Não fui eu que roubei a noiva do próprio irmão!

Cruzo os braços e o encaro.

- Sério mesmo? Você bateu a cabeça antes de vir para cá? Teve amnésia?

Aproximo-me novamente, apontando um dedo para o seu rosto.

- Você destruiu seu próprio relacionamento. E, no fim, perdeu uma mulher perfeita, inteligente, esforçada e com um caráter impecável.

- Ahhh... agora entendi tudo. - Zadock sorri de forma doentia. - Então quer dizer que ela abriu as pernas para você? Aquela vagabunda pagava de santinha e...

Antes que ele possa terminar, meus punhos encontram seu rosto.

A tensão explode. Nosso ódio transborda.

Eu e Zadock nos lançamos um contra o outro, trocando socos e empurrões. A sala se transforma em um campo de batalha. Móveis são derrubados, vidros estilhaçam. A adrenalina percorre minhas veias, misturada à dor e à tristeza de ver a relação com meu próprio irmão se deteriorar dessa forma.

Mas eu não vou permitir que ele fale da minha mulher desse jeito.

Neste momento, Marco intervém e separa a briga, arrastando Zadock para fora da casa.

Respiro fundo, tentando acalmar minha respiração acelerada e o coração pulsante. Sento-me no sofá e, ao olhar para minha mão, vejo que está ensanguentada.

- Vi...

Levanto os olhos para a escada. Ela está ali, parada.

Lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ava desce aos prantos, e eu corro ao seu encontro. Envolvo-a em um abraço apertado, tentando confortá-la em meio ao caos que tomou conta da noite.

- Eu não queria isso... Eu não queria... - ela murmura entre soluços.

- Está tudo bem, amor. Você não provocou nada.

Caminhamos até o sofá e nos sentamos abraçados. Enquanto tento processar tudo o que aconteceu, as palavras de Zadock ainda ecoam em minha mente. A dor de ver o que aconteceu com a nossa relação esmaga meu peito.

- Oh, meu Deus... sua mão... - Ava toca meu braço com hesitação.

- Isso não é nada, fique tranquila. - Beijo sua cabeça. - Vem, vamos subir.

Nos levantamos e seguimos para o andar de cima, com Ava agarrada a mim como se temesse me soltar.

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Depois que Ava adormece, vou ao banheiro, lavar a mão ferida e tomar um banho.

Ao sair, seco-me e faço um curativo simples na ferida. Quando volto para o quarto, vejo Ava dormindo tranquilamente, abraçada ao meu travesseiro.

Saio do quarto em silêncio e desço as escadas.

A sala está limpa. As coisas quebradas não estão mais ali.

Marco entra, agora vestindo roupas casuais.

- Você limpou tudo?

- Sim. Como vocês deveriam estar em lua de mel, não têm empregados na casa, lembra?

- Obrigado.

Caminho até o sofá e me sento. Marco segue até a mesa de bebidas e serve dois copos. Ele me entrega um e erguemos os copos antes de tomarmos um gole.

- Mandei o Fridek segui-lo.

Olho para ele imediatamente.

- E para onde ele foi?

- Para a casa da Leila. Não ficou muito tempo lá... saiu irritado. Tenho certeza de que discutiram.

- Fique de olho nos dois. Qualquer coisa, me avise.

Assim que termino de falar, meu celular toca.

Olho para a poltrona e vejo que ele está ali.

- Deve ser o seu pai.

Estico o braço para pegá-lo.

- E é. - Atendo a ligação enquanto caminho até a varanda, sentando-me no sofá que há do lado de fora.

Coloco o copo no aparador ao lado e levo o telefone ao ouvido.

- Oi, papai.

- Soube que você e seu irmão brigaram.

- Sim... - suspiro. - Cheguei de viagem e ele estava aqui em casa... Ele ia bater na Ava!

- O quê?

- Ele está louco! - pego o copo e bebo um grande gole, quase o esvaziando. - Disse várias coisas absurdas... ainda teve a audácia de acusar Ava de ter se casado comigo por interesse. Ele está completamente fora de si!

- Eu não sei mais o que fazer com o seu irmão. Ele não tem mais sete anos para eu simplesmente trancá-lo em um colégio interno.

Fico em silêncio. Desde pequeno, nunca concordei com a forma como meu pai o criou... mas não sou o pai dele. Nunca pude interferir.

- Pai... Hoje fui até a casa daquele tal Jhon Smith.

- E o que descobriu?

- Não foi ele.

- Como assim?

- Pelas gravações do dia, ele estava em um hospital com a mãe. Ela é totalmente dependente dele, acamada.

- Mas o nome e os documentos usados batem.

- Sim, eu sei. Mas não foi ele.

E eu desconfio de algo.

Mas agora não posso falar precipitadamente. Quero confirmar minhas suspeitas. Quando tiver certeza, contarei tudo ao senhor.

Meu pai fica em silêncio por alguns segundos.

- Papai...

- Confio em você, meu filho. Sei que vai descobrir o que realmente está acontecendo e quem está por trás disso.

Ele faz uma pausa antes de concluir:

- Apenas me mantenha informado. Ainda sou o dono do museu.

Sorrio.

- Pode deixar, papai. Vou te manter informado sobre tudo.

- Quero que volte para a sua lua de mel. Isso vai ajudar a Ava a não pensar em nada do que está acontecendo.

- Iremos. Só preciso resolver algumas coisas nos próximos dias, e então partimos. Além disso, o casamento da avó da Ava está chegando... acho que ela se esqueceu disso. Na verdade, todos esquecemos com essa confusão toda.

- Verdade! Quando é mesmo?

- Daqui a algumas semanas. Depois que casamos, dona Dulce me disse que o senhor August marcou a data.

- Já estava na hora. - Sorrio.

- Se cuida, meu filho. Cuide da Ava. Vou pensar em algo para fazer com o seu irmão. Boa noite! Descanse.

- Boa noite, papai.

- Ah! E não esqueçam de passar aqui para nos ver antes de voltarem para a lua de mel.

- Pode deixar. Boa noite...

Desligo a chamada e pego meu copo, tomando o restante do líquido.

Fico ali, olhando para o céu noturno, imerso nos meus pensamentos.

De repente, um grito corta o silêncio da noite.

Meu corpo reage antes da minha mente processar. Levanto-me num salto, deixando o celular ali, e corro para dentro do apartamento.

Subo as escadas às pressas e, ao chegar no quarto, abro a porta de uma vez.

A cama está vazia.

Ava não está ali.