__ Quando é que esse cara deixará de me encarar? Que saco! __ Exclamei alto para ele escutar. Posso ser baixinha, mas não fujo de uma briga seja ela qual for, e com quem for. O infeliz não me escuta, ou, me faz de cachorro. Das duas, uma. Ele está se aproximando, posso até sentir o seu cheiro. Droga! É maravilhoso! Uma mistura de ervas com alguma outra coisa, que não consigo identificar no momento.
Ele é grande e musculoso. Deve dar uns dois de mim. Não sei se é bonito, mas algo me diz que sim.
Porra!
Porque essa droga está na minha cabeça? Ele ser bonito não me importa. Quero apenas que ele se afaste, ou, se arrependerá amargamente.
__ O que quer comigo, moço? __ Indaguei sem esperança de resposta, mas não é que o infeliz respondeu. Só para me contrariar.
- Quero você! __ Pronunciou profundamente. De onde saiu essa voz gostosa? Pelos deuses. Me arrepiou todinha. Espera um pouco. Como assim ele me quer?
__ Quer um escambau. __ Proferi nervosa. Eu deveria estar o xingando, em vez disso estou admirando seu corpo e suas tatuagens.
__ Eu a espero há muito tempo.
__ Como me espera? Nunca lhe vi na vida.
__ Quem é você? __ Questionei me aproximando mais. Ele estava quase me falando, quando acordo assustada com alguém chamando-me.
Droga! Era um sonho!
__ Senhorita Liv! __ A aeromoça me chamou novamente. A olhei frustrada. Merda! Eu estava perto de descobrir quem é o homem. É a segunda vez que sonho com ele. A primeira foi há três dias, e agora esse, muito parecido, a diferença foi que ele falou.
__ Em que posso ajuda-la? __ Perguntei frustrada.
__ Bem, a chamei, pois, fiquei preocupada. A senhorita falava dormindo.
__ Agradeço! __ Disse educada, porque a minha vontade é de esganar ela. A aeromoça se afastou, então me levantei para usar o banheiro. Preciso lavar minha face. Quando entrei no cubículo a primeira coisa que fiz foi trancar a porta e me encostar nela. Sento-me quente por dentro, meus nervos estão à flor da pele.
__ Quem é esse homem minha amada Freya? Porque meu coração acelera quando penso nele? __ Perguntei para o silêncio. São tantas perguntas sem respostas. Nessas horas sinto mais falta da minha tia. Ela sim, sabia o que fazer. Fui até o lavabo para me lavar, pois, estou suada, e um pouco nojenta, tenho que admitir. Quando resolvi me olhar no espelho quase tenho um troço.
__ Que porra é essa? __ Gritei mal-humorada. A miséria dos meus cabelos estão ficando brancos. Isso mesmo. Brancos como a neve. É a metade da minha cabeça. Uma esta loira e a outra branca.
__ Por Freya! Isso faz parte, minha deusa? Tirar a beleza dos meus cabelos? __ Interpelei desgostosa. Suspirei exasperada. Será pedir demais que tudo acabe logo? Que me sinta normal de novo? Saí do banheiro e me sentei em meu lugar. Vinte minutos depois aterrisámos no aeroporto de Oslo - Gardermoen, na Noruega. Mesmo querendo aproveitar a viagem, não consegui, só em saber o que aconteceria a minha vontade é fugir. Parei de me lamentar e fui atrás de alguém que me levasse até a cachoeira. Vi uma pessoa gritando que precisa de um carro, ou de um guia turístico. Fui até ele e o comprimentei em seu idioma. Minha tia fez questão de me ensinar seu idioma, e me colocou para aprender outros também.
__ Bom dia! __ O saudei educada.
__ Bom dia, senhorita! Deseja um guia?
__ Sim. Preciso que me leve a essa cachoeira. __ Disse mostrando no mapa. O homem olhou-me incrédulo.
__ Senhorita, o tempo não está propício para tomar banho em cachoeiras.
Pronto que resolvi o problema. Precisei falar a língua universal de todos. O dinheiro! Ele aceitou com um grande sorriso. No caminho o homem que não fiz questão de saber o nome, não parava de falar. Irritante, diga-se de passagem.
__ Chegamos! __ Avisou-me. Olhei ao redor não vi nada, além de neve.
__ Onde está a cachoeira?
__ Meu carro não entra. Se andar cinco quilômetros, chegará ao seu destino. __ Explicou. Lhe dei todo o dinheiro que tinha. Para onde irei não será necessário.
__ Mas, senhorita, aqui tem uns quinhentas coroas norueguesas.
__ Eu sei. Como disse, agradeço novamente. __ Falei sorrindo. Minha caminhada até a cachoeira foi rápida. Quando a vi fiquei ainda mais quente por dentro. Tudo se aqueceu por dentro. Olhei meu reflexo nas águas. Meus cabelos estão quase todos brancos. Peguei o encantamento que minha tia leu aos vinte anos e comecei a ler.
__ Leve-me ao lugar onde minha alma pertence, para que o meu destino seja cumprido. Pelo mar, pela terra e pela deusa mãe freya. __ Bradei em voz alta. Sentir a luz tomando o meu corpo, e antes de desaparecer vir o motorista parado olhando em minha direção. Sorri, pois estava errada sobre ele. O mesmo voltou preocupado comigo. A luz tomou o meu corpo, e quando abri meus olhos já não estava mais no século XXI.
Escandinávia século VIII
A paisagem é totalmente diferente. Há tanto verde, e as águas do rio me parecem mais cristalinas. Pela primeira vez me sinto completa, em paz. Amo o Brasil, mas nunca me senti assim lá. Inteira! Meu coração está em paz, é como se ele soubesse que este é o meu lar. Sentei um pouco no chão para descansar, de alguma forma me sinto cansada. Devo ter ficado umas meia hora sentada observando as águas descerem pela grande pedra pontiaguda. Observando bem parece a ponta de uma flecha. Me levantei e peguei a urna com as cinzas da tia Helga. Antes de jogá-la no rio, realizei uma oração á Freya.
__ "Dama Freya brilha através de ti
Que suas bênçãos possam ir contigo, dama amável, onde quer que seu caminho a leve." __ Entoei com força. O vento levou pelas águas cristalinas. Chorei como um bebê. Eu a amava tanto.
__ Vá em paz tia, Helga! __ Falei pela última vez. Logo mais, recolhi minhas coisas e comecei andar, tomei um susto quando ouvir uma criança gritando. Sair correndo que nem uma desesperada em direção ao grito. Quando a vi fiquei impressionada com tamanha beleza. É uma menina linda, cabelos loiros e longos, que alcançam seus pés pequenos. Pelos deuses! Essa menina é linda demais. Como Lili diz. O útero chega coça para ter um filho. Sorri com o pensamento. Bem não fui embora e já estou morrendo de saudades da minha cara de furico.
__ Olá pequenina! Está sozinha? __ Indaguei me aproximando, mas a garota se afastou amedrontada.
__ Não sou inimiga, pode confiar em mim. __ voltei a me aproximar __ Me chamo Liv! Precisa de ajuda?
__ Machuquei o meu pé, quando catei cogumelo na floresta. __ Respondeu com a voz doce. Mostrou seu pé com os olhos cheios de lágrimas.
__ Está doendo? __ Inquiri preocupada.
Que burra Liv, é claro que está doendo.
__ Sim, muito!
__ Onde mora? Onde estão seus pais?
__ Foram caçar, não sei quando voltam. __ Explicou gemendo. A olhei com um meio sorriso.
__ Lhe levarei para casa, e esperarei seus pais chegarem, depois seguirei viagem.
__ Faria isso por mim? Você não me conhece.
__ Eu não preciso lhe conhecer para realizar uma boa ação. __ me abaixei ficando de sua altura __ Me chamo Liv, e você?
__ Sou a Froya!
__ É uma honra conhece-la pequena Froya. __ Disse beijando ambos os lados de sua face. Ela achou graça. Pedi permissão para toca-la. Assim que peguei minha sacola do chão e meu violão, lhe carreguei. Foi um trabalho árduo. Não que a menina fosse pesada, o problema foi equilibrar ela e o violão. Sorte que ela não mora longe, devo ter andado aproximadamente um quilômetro e meio. A cabana é modesta. No formato de um triângulo, o teto é feito com algo, não consigo ver, pois, havia vegetação crescendo nele. É toda de madeira e na entrada há muitas runas simbolizando a terra, a magia. Há símbolos de animais. Parece-me um falcão, um gato e um javali. Ao adentrar o lugar sentir o cheiro de jacinto.
__ Acredito que não precisa espera meus pais, estou bem melhor!
__ Tem certeza, não é problema para mim.
__ Sim, Liv. Estou bem. __ pegou minha mão __ Você é uma mulher gentil e corajosa.
__ Agradeço pequena. __ Agradeci sem graça. Não sou muito adepta a elogios, sempre me envergonho.
__ Liv, nunca deixe de ser corajosa, e ser gentil, esses são os seus maiores poderes. __ Declarou caminhando até mim. A forma que andava não me parecia estar machucada. Ela apareceu com algo na mão.
De onde saiu isso?
__ Não deixarei Froya. __ olhei para sua mão novamente __ O que é isso em sua mão?
__ É um ovo de dragão. __ colocou em minhas mãos __ Ele é seu, contudo dependerá dele lutar contigo na grande batalha.
__ Como assim? Estou ganhando um dragão? __ A pergunta foi feita com muita euforia. Quem não ia querer ganhar um? Não me julguem.
__ Se ele nascer, te escolheu como senhora. __ beijou minha face __ Seja corajosa e gentil.
__ Eu não... __ Ia falar, porém, ela havia sumido. Procurei do lado de fora e nada. Quando ia voltar para a casa, ela também havia sumido. Abri um grande sorriso, aquele da propaganda da Even. Só pode ter sido a deusa Freya. Minha nossa eu realmente conversei com ela? Lili ficaria abismada como eu estou. Fiz uma pequena refeição, peguei o meu ovo de dragão e coloquei na minha sacola. Sem demora voltei ao meu destino, o qual não faço ideia. Apenas estou andando sem rumo, sei que ao chegar, saberei. Lembrei do meu ovo. Espero que ele choque. Nunca tive um animal, e agora terei um dragão só meu.