Capítulo 8 Um acordo bilionário

Ponto de vista de Clarice.

Finalmente, eu não precisava mais aturar aquilo.

― Que ótimo! ― Arranquei o avental e joguei no chão. ― Está satisfeito? ― Olhei Victor diretamente nos olhos,

As pessoas ao redor observaram, mas não importavam. Eu não tinha mais medo de nada, nem dele, nem de ninguém.

O que mais eu queria era ser independente, me envolver com coisas que realmente fizessem sentido para mim. Queria tentar algo diferente, sem precisar depender de homem nenhum. Só que, no fim das contas, eu era só mais uma mulher naquela cidade, tentando sobreviver num mundo que não estava nem aí para mulheres como eu.

O Victor? Eu não sabia por que ele insistia em me seguir. Tentei andar mais rápido, já que o caminho até a minha casa era longo.

- Clarice, espera! - Ele me alcançou rápido e puxou o meu braço. - Quero te fazer uma proposta.

- Se você acha que vou me deitar com você para pagar algum favor, então, você está muito enganado - rebati, libertando toda a minha raiva.

- O que foi? - Olhei para as pessoas que paravam ao redor. - VÃO CUIDAR DA VIDA AO INVÉS DE FOFOCAR!

- Clarice, para de gritar. - O rosto de Victor estava vermelho quando ele falou. - Você está parecendo uma maluca! - Irritado, ele me criticou. - Todo mundo está olhando!

- Volta para Itália e esqueça que existo.

- Isso é tudo o que eu quero. - Ele me seguiu, quase desesperado. - Preciso sair desse lugar.

- Se for por falta de despedida, então, goodbye! - Disparei num tom caçoísta.

- Nossa, mas ela fala inglês também... - A voz estava mais grave quando ele desdenhou.

- Qual é o teu problema? - Eu franzi a testa e comecei a balançar as mãos. - Por que continua seguindo?

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Ponto de vista de Victor.

O temperamento de Clarice era surreal. Era como se ela tivesse o céu e o inferno dentro de si. Toda vez que abria a boca, parecia que eu estava prestes a ser atingido por uma avalanche de palavras cortantes. Eu já sabia o que esperar, e estava pronto para enfrentar isso.

― Você é impulsiva, sempre tirando conclusões apressadas. Fica difícil falar o que eu preciso.

A chuva fininha começou a cair, e as gotas batiam em mim, mas eu nem ligava.

― Preciso de uma mulher para ficar casada comigo por alguns meses. ― Fui direto ao assunto.

― Babaca! ― Ela não pensou duas vezes antes de me xingar e dar as costas.

Eu não podia deixar barato. Precisava fazer ela ouvir o que eu tinha para dizer.

― Clarice, você quer casar comigo?

Ela me olhou como se eu fosse completamente maluco.

― Você é um doido de pedra? Eu não tenho tempo para brincadeira, preciso arrumar outro emprego e tenho que arrumar um lugar para morar com a minha irmã porque o seu pai mandou o idiota do capataz colocar os meus móveis para fora da casa nessa semana.

Dei de ombros, sabendo que podia dar a ela uma coisa que ela não poderia recusar.

― Posso te dar uma casa bem maior e uma boa pensão por cada mês que ficar casada comigo. ― Sorrindo, eu propus.

Ela me fulminou com os olhos.

― Está zombando de mim? ― Riu de nervoso, e eu podia ver o quanto aquilo a incomodava. ― Já te devo muito dinheiro. Aliás, eu sempre trabalhei, nunca pedi ajuda de homem nenhum. Não preciso de você!

Olhei firme para a garota que estava sendo arrastada para uma situação sem saída.

― Eu sei, babe!

Clarice gostava de se mostrar durona, mas tudo nessa vida tem um preço.

― É só por alguns meses. Tenho certeza de que meus pais vão parar de encher o saco depois disso. Vai ser um casamento de fachada.

Ela ficou quieta, encarando-me, como se estivesse processando o que eu dizia.

― Não vamos transar, se é isso que você está pensando. ― Deixei claro que só queria uma solução rápida para conseguir o que eu queria. ―

Ela me olhou com a expressão mais brava que eu já vi.

― Ótimo. ― Ela foi seca na resposta. ― Se eu aceitar, então vou ter meu próprio quarto e não vou fazer nada com você.

― Por mim, tudo bem, ― disse eu, com um sorriso torto ―, mas pensa direitinho na minha proposta.

― E quanto aos seus pais? ― Clarice levantou uma sobrancelha ao me interrogar. ― Eles querem que você case com a filha do coronel.

"Como ela sabia disso?" Franzi o cenho quando a questão martelou em meu pensamento.

― E mais um motivo para você pensar na minha proposta. Eles vão pirar que estou casado com uma...

― Pobretona? ― Ela me cortou com os olhos apertados, como se eu tivesse tocado na ferida. ― Mal-educada?

― Uma garota com um temperamento forte e que não aceita desaforo. ― Sorri, achando graça da situação.

Os olhos dela focaram-se em mim como se quisessem me fuzilar.

― Escolha outra mulher. Tem várias garotas de boa família que iam morrer de vontade de fazer um acordo bilionário.

― Eu sei! ― Respondi, com aquele sorriso cheio de segundas intenções. ― E é por isso que escolhi você.

― Está louco ou quê? ― A maneira como ela me olhava, com raiva e desprezo, só fazia as coisas mais interessantes. ― Eu disse não!

― Você é a única que não quer casar com um herdeiro bilionário.

― E daí?

― Não corro o risco de você se apaixonar por mim.

― Você é um presunçoso! ― Ela aumentou os passos, bufando.

Alarguei os passos para alcançá-la. Clarice podia tentar me ignorar, mas eu sabia o que queria.

― A minha noiva mora na Itália.

― Que ótimo! Peça para ela casar com você, então.

― Carmem não quer morar aqui.

― Isso não me interessa! ― Ela falou, já com a cara de quem não queria mais papo.

Persistente, toquei em seu braço, forçando-a a parar.