Capítulo 9 Uma oportunidade poderosa

Ponto de vista de Clarice.

Uma sensação estranha percorreu todo o meu corpo quando Victor pegou em meu antebraço. Eu não sabia explicar o que havia acontecido. O toque quente dele na minha pele me deixou paralisada e uma sensação incômoda subiu por dentro de mim. Apertei as pernas para controlar o calor, como se isso pudesse dar jeito em algo.

― São só por alguns meses.― Olhando para meus olhos, ele insistia.

O homem frio e calculista estava disposto a fazer o que fosse necessário para conseguir o que queria. O acordo bilionário parecia uma solução para alguns problemas.

Passei a andar mais rápido, tentando me afastar de Victor e de todas aquelas palavras vazias. O som de um assobio me fez acelerar o passo, mas ignorei. Continuei caminhando, sem olhar para trás.

― Espera, garota! ― Ele agarrou meu antebraço.

Parei, virando-me para ele com raiva.

― Se acha que vou cair nesse seu jogo de sedução, está muito enganado! Se eu aceitar o acordo, não quero que você se apaixone por mim, entendeu?

― Ah, você é quem tem que tomar para não ficar louca por mim ― ele falou, rindo um pouco, ―, pois logo, eu vou embora.

― Idiota! ― Dei meia volta e continuei andando, os passos rápidos.

― Você vai andando para casa? ― As pupilas azuis de Victor estavam me observando, mas desviei o olhar.

Os pingos grossos da chuva começaram a molhar o meu vestido rosa e eu me senti vulnerável quando notei a maneira como ele me avaliava de cima a baixo.

― Vou te levar até sua casa. ― Ele era persistente...

― Não! ― Eu respondi sem pensar. ― Os vizinhos estão comentando que somos amantes. ― Imediatamente, lembrei da primeira semana depois da morte da minha mãe.

Eu voltava para casa sozinha, sentindo os olhares condenatórios em minha direção.

― Eis um motivo para você aceitar a minha proposta. ― Ele tentou me acalmar, mas as palavras dele não mudaram nada. ― Vem logo!

Entrei na caminhonete e puxei o vestido até os joelhos. Olhei de soslaio para ele enquanto ele estendia uma pequena toalha branca para mim.

- Pode se secar com isso!

Enxuguei os braços e o pescoço enquanto ele ligava o carro. De vez em quando, eu o reparava no porte intimidador do homem ao meu lado. Alguns botões da camisa de linho aberta revelavam o músculo do peitoral por entre os ombros largos.

― Como está a sua irmã caçula? ― Fingindo que se importava, ele indagou. ― Você não falou nada sobre ela.

― Alice está com a minha vizinha. Ela não quer ir para a escola desde que... ― Minha voz falhou no final, o nó na garganta estava apertando.

― Entendo! ― Ele fez uma curva, e logo entrou em uma rua sem asfalto. ― Ela precisa de você!

Logo, o carro parou em frente à casa com pintura desgastada. Olhei para o lado e tentei abrir a porta, mas não consegui. O cheiro de madeira invadiu minhas narinas quando ele se inclinou para abrir.

― Espera! ― Ele me tocou no meu ombro.

Eu hesitei, mas antes que eu pudesse fazer algo, ele desceu do veículo e correu até o outro lado antes de abrir a porta para mim.

― Vem! ― Gentilmente, ele estendeu a mão.

― Consigo fazer isso sozinha ― recusei, irritada.

Ao pôr os meus pés no chão, tentei dar o primeiro passo na terra molhada. Seus braços largos me seguraram quando meus pés escorregaram pela lama.

― Não toque em mim! ― Gritei, tentando me libertar.

― Você é muito brava, ― ele comentou enquanto vinha atrás de mim até a porta da casa. ― Aposto que não tem namorado.

― Claro que já tive, eu ia me casar com ele.

― Com essa doçura toda... ― Victor zombou. ― Aposto que ele não aguentou e te deixou.

― Clarice, seja educada, ― Sarah apareceu na porta e olhou para Victor, dando um sorriso acolhedor. ― Entre! Fiz biscoitos.

― Onde está Alice? ― Passei direto, sentindo meu peito apertado.

― A sua irmã está brincando com meu neto. ― Sarah colocou a forma de biscoitos na mesa e, em seguida, fez um gesto para eu seguisse ela até outro canto da sala. ― Um peão da fazenda disse que vai morar aqui com a família e o senhor Carlos Corte Real mandou você sair das terras amanhã.

Eu a olhei, tentando disfarçar a preocupação.

― Não se preocupe, eu dou um jeito! ― Sorri sem graça.

Fui direto para o meu quarto, onde havia apenas uma cama de madeira. Fechei e permiti que as lágrimas escapassem do canto dos meus olhos. Minha mãe sempre dizia que "a nossa força se aperfeiçoa nos momentos de fraqueza". Victor me oferecia uma oportunidade poderosa e estava na hora de reunir forças para me vingar da família Corte Real.