Capítulo 3 A Fera Devoradora de Homens

Na pequena vila de São Cristóvão, os habitantes sempre sussurravam sobre uma entidade que habitava as florestas densas que cercavam suas casas. Chamavam-na de "a fera devoradora de homens". As histórias falam de uma mulher de beleza estonteante, que atraiu homens para a floresta usando seu canto encantador. Mas, uma vez lá, eles nunca mais retornaram. O medo permeava o ar, e os homens evitavam as árvores altas e as sombras densas.

Certa noite, Marcos, um jovem destemido e curioso, decidiu que era hora de enfrentar seus medos. Com sua lanterna em uma mão e um facão na outra, aventurou-se pela trilha que leva à floresta. Ele não acreditou nas histórias, achou que eram apenas lendas criadas para assustar as crianças. No fundo do seu coração, no entanto, havia uma sombra de dúvida.

Enquanto caminhava, uma brisa suave passou por ele, trazendo consigo um canto melódico. Era hipnotizante, envolvente. Marcos, decidiu descobrir a verdade, o som. A cada passo, a floresta parecia se fechar ao seu redor, e as sombras dançavam em um ritmo quase mágico. Finalmente, chegou a uma clareira iluminada pela luz da lua, onde ela estava. A mulher era perfeita, com cabelos longos e negros como a noite, e olhos que brilhavam como estrelas.

"Eu sou Lira", disse ela, sua voz doce como o néctar das flores. "Você se atreveu a me procurar?"

Marcos ficou paralisado por um momento, perdido na visão dela. A beleza de Lira era hipnotizante, e ele se sentia atraído por ela de uma forma que nunca havia sentido antes. Uma curiosidade superou o medo, e ele perguntou: "Por que você seduz os homens para a floresta?"

Os olhos de Lira escureceram, uma sombra cruzando seu rosto encantador. "Não sou eu quem devora os homens; é a dor deles que alimenta esta terra maldita", afirmou, gesticulando para as árvores ao redor. "Eu sou apenas a guardiã dessa maldição."

Marcos reparou nas marcas profundas na cascata das árvores, como se o próprio lugar estivesse chorando. "O que você quer de mim?" ele disse, a voz tremenda. Lira se moveu dele, seu olhar penetrante buscando algo em seu interior.

"Liberdade", sussurrou. "Preciso de um coração puro para quebrar essa maldição. Se você me ajudar, poderei libertar todos que já foram consumidos por este lugar."

Marcos hesitou, consciente da responsabilidade que tinha. Ele queria ajudar, mas o que isso significaria para ele? A tentação era forte; a conexão entre eles cresceu como uma chama inextinguível. Diante de seu conflito interno, decidiu que não poderia ser egoísta. "Estou disposto a ajudar", declarou. "Como posso libertar-la?"

Lira transmitiu, mas havia uma tristeza em seus olhos. "Apenas você pode decidir. Você precisa dar o seu próprio coração."

O coração de Marcos disparou. Em troca pela liberdade de todos aqueles perdidos, ele faria o sacrifício. Com um gesto decisivo, retirou um pequeno punhal que carregava como amuleto e, com um movimento firme, cortou sua própria palma, deixando o sangue sobre a terra.

As árvores começaram a tremer, e uma luz intensa irrompeu do solo, enquanto gritos de homens esquecidos ecoavam pela floresta, suas almas finalmente libertas. Lira, agora envolta em luz, olhou para ele com gratidão. "Você fez o certo", ela disse, antes de desaparecer na aurora que a cirurgia.

Marcos caiu de joelhos, exausto, mas em paz. Sabia que, apesar da dor, tinha feito uma escolha certa. A floresta agora parecia diferente; as sombras não eram mais ameaçadoras e, com o primeiro raio de sol, ele soube que a ferra devoradora de homens finalmente tinha sido vencida.

            
            

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