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O cheiro de ferro e suor se misturava ao ar condicionado da academia. O som dos pesos batendo no chão, a música vibrante tocando ao fundo e as conversas esparsas dos alunos criavam um ambiente agitado, mas de alguma forma, Verônica se sentia mais leve ali.
Miguel sorriu ao ver sua expressão de hesitação diante do aparelho.
- Não se preocupe, é normal no começo. Todo mundo já passou por isso. - Ele ajustou o peso da máquina e indicou como ela deveria posicionar as mãos. - Tenta agora.
Verônica respirou fundo e obedeceu, puxando as alças com esforço. Sentiu seus músculos tremendo, mas se recusou a parar.
- Isso! Agora solta devagar. - A voz dele era calma, encorajadora.
Ela repetiu o movimento algumas vezes até Miguel assentir, satisfeito.
- Viu? Você pegou o jeito rápido.
- Eu só espero acordar amanhã conseguindo me mexer. - Ela riu, massageando os braços.
Ele riu junto.
- Primeira semana sempre é assim, mas prometo que melhora. A chave é consistência.
Verônica olhou para ele e percebeu algo diferente em sua postura. Miguel não a encarava com condescendência, não parecia avaliá-la como um "projeto de transformação", mas sim como alguém que realmente se importava com seu progresso.
- Por que decidiu começar a treinar? - Ele perguntou, pegando uma toalha no balcão ao lado.
Ela hesitou por um instante. Seu primeiro instinto foi dizer "para me vingar", mas a conversa com Clara ecoou em sua mente.
- Eu queria mudar. Me sentir melhor comigo mesma.
Miguel assentiu.
- Essa é a melhor motivação. Se você fizer isso por você, não tem como dar errado.
Verônica abriu um pequeno sorriso. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que talvez estivesse no caminho certo.
- Obrigada pela ajuda, Miguel.
- Sempre que precisar. - Ele piscou e, por um instante, algo no peito dela se aqueceu.
Ao sair da academia naquela noite, sentiu o vento fresco no rosto e percebeu algo curioso: pela primeira vez em dias, não pensava em Gustavo.
O dia seguinte chegou com a promessa de renovação – e com uma dor muscular que fez Verônica se arrepender de cada minuto na academia. Sentiu cada músculo reclamar quando tentou se levantar da cama, gemendo ao esticar os braços.
- Meu Deus... isso é normal? - murmurou para si mesma, rindo baixinho da própria fraqueza.
Pegou o celular e viu uma mensagem de Clara.
Clara: E aí, sobrevivente? Ainda consegue andar ou já precisa de cadeira de rodas?
Verônica riu e digitou rapidamente.
Verônica: Mal consigo sair da cama, mas acho que estou viva.
Clara: Ótimo! Isso significa que o treino funcionou. Vamos sair hoje? Você precisa de um pouco de diversão.
Verônica: Diversão? Não sei se consigo me mexer o suficiente pra isso.
Clara: Para de drama! Uma saída leve, um barzinho tranquilo. Você topa ou não?
Verônica hesitou por um instante. Parte dela queria recusar e se enfiar em casa, mas outra parte – uma que começava a despertar – queria sentir-se viva novamente.
Verônica: Ok, mas você me deve uma massagem nos ombros.
Clara: Fechado! 20h, te pego em casa.
Ela suspirou e jogou o celular ao lado. Olhou para o teto por um instante, sentindo uma onda de ansiedade misturada com excitação.
Essa nova Verônica precisava de roupas novas.
Às oito da noite, Clara buzinava na porta. Quando Verônica entrou no carro, recebeu um olhar de aprovação da amiga.
- Uau! Quem é essa mulher e o que fez com a minha amiga?
Verônica sorriu, ajeitando os cabelos soltos. Escolhera um vestido preto justo, mas sem exageros, com um decote discreto e uma maquiagem leve.
- Digamos que estou tentando me reencontrar.
Clara sorriu e acelerou.
O bar tinha um clima sofisticado, com luzes âmbar e uma trilha sonora agradável. O cheiro de drinks cítricos e madeira polida pairava no ar. Elas se sentaram perto do balcão, pedindo um vinho para começar.
- Então... - Clara inclinou-se sobre a mesa. - Nenhuma novidade sobre Gustavo?
Verônica balançou a cabeça, dando um gole na bebida.
- Não, e pela primeira vez, acho que não me importo.
- Isso! É disso que eu estou falando! - Clara ergueu a taça. - A nova Verônica não se humilha por ninguém!
As duas brindaram, rindo.
- E quanto ao personal bonitão da academia? - Clara arqueou uma sobrancelha. - Miguel, né?
Verônica sentiu um leve calor subir pelo rosto.
- Ah, ele é só um cara legal.
- "Só um cara legal" com músculos e um sorriso irresistível. Sei.
Antes que Verônica pudesse responder, uma voz masculina se aproximou.
- Espero que não estejam falando de mim.
Verônica virou-se, surpresa. Miguel estava ali, encostado no balcão com um sorriso brincalhão. Vestia uma camisa preta ajustada e jeans escuros, bem diferente do look esportivo de mais cedo.
Seu coração deu um salto.
- Miguel! O que você está fazendo aqui?
- Eu que pergunto. Geralmente, minhas alunas se escondem de mim depois do primeiro dia de treino.
Clara olhou de um para o outro e sorriu maliciosamente.
- Acho que vou pegar mais vinho. Já volto. - Ela piscou para Verônica e saiu antes que ela pudesse protestar.
Agora, só os dois.
- Então... como está se sentindo depois do treino? - Ele perguntou, divertido.
- Sentindo cada músculo do meu corpo implorar por misericórdia.
Ele riu.
- Isso significa que fez direito.
- Ou que você me torturou.
- Depende do ponto de vista. - Miguel inclinou-se um pouco mais perto. - Mas, se quiser, posso te dar umas dicas para se recuperar mais rápido.
Verônica sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo em Miguel a fazia esquecer as razões pelas quais começara essa jornada. Pela primeira vez, não se tratava de vingança. Tratava-se dela mesma.
E talvez, apenas talvez, de algo novo que estava prestes a começar.