Capítulo 5 Passado me assombra

...livre. Pela primeira vez em anos, Verônica não carregava mais o peso do passado. O encontro com Gustavo, em vez de trazer confusão ou dúvida, serviu apenas para reafirmar algo que já sabia: ela não era mais aquela mulher que aceitava menos do que merecia.

O ar da rua parecia mais leve quando ela saiu da cafeteria, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Seu celular vibrou no bolso. Uma mensagem de Miguel.

Miguel: Ainda de pé para amanhã?

Ela digitou rapidamente.

Verônica: Sim. Estou curiosa para saber qual surpresa você preparou.

A resposta veio quase instantaneamente.

Miguel: Então espero não decepcionar.

Verônica guardou o telefone e respirou fundo. Não, ele não decepcionaria. E, mais importante, ela sabia que, independentemente do que acontecesse, nunca mais deixaria alguém decidir seu valor.

Verônica acordou com a luz suave da manhã filtrando pelas cortinas. Espreguiçou-se na cama, sentindo uma leve excitação no peito. O encontro com Miguel era dali a algumas horas, e ela estava ansiosa para descobrir o que ele havia planejado.

Levantou-se e preparou um café forte. Enquanto saboreava o líquido quente, sua mente vagou por tudo o que havia acontecido nos últimos meses. O divórcio, a dor da rejeição, o medo de recomeçar... tudo parecia tão distante agora. Ela tinha se redescoberto, aprendido a se amar, e isso fazia toda a diferença.

Depois de um banho demorado, escolheu um vestido leve azul-claro, que valorizava sua pele e seus olhos. Um toque de maquiagem realçou sua beleza natural. Quando se olhou no espelho, viu uma mulher confiante, pronta para viver o que viesse.

Miguel havia combinado de buscá-la às dez. Quando o relógio marcou 9h58, a campainha tocou.

- Pontual como sempre - comentou, sorrindo ao abrir a porta.

Ele estava ali, vestido de maneira casual, mas impecável. O sorriso brincava nos lábios dele, e seus olhos brilhavam ao vê-la.

- Eu não perderia um minuto desse encontro - respondeu, estendendo a mão para ela.

Verônica pegou a bolsa e trancou a porta.

- Então, para onde vamos?

- Surpresa - disse Miguel, conduzindo-a até o carro.

Durante o trajeto, a conversa fluiu leve, natural. Ele a fazia rir, e isso era uma das coisas que mais gostava nele. O jeito como conseguia deixá-la à vontade, sem pressões ou expectativas.

Após cerca de vinte minutos, Miguel estacionou em um local afastado da cidade. Verônica olhou ao redor e viu um pequeno aeródromo.

- O que estamos fazendo aqui? - perguntou, curiosa.

- Hoje, quero te mostrar o mundo de um jeito diferente - disse ele, piscando.

Antes que ela pudesse questionar, ele segurou sua mão e a guiou até um pequeno avião de passeio. Um piloto os aguardava, sorridente.

- Você já voou antes? - Miguel perguntou, enquanto ela olhava a aeronave com uma mistura de surpresa e encantamento.

- Nunca assim... - admitiu, sentindo um frio na barriga.

- Então, será a primeira vez. Quero te levar para ver as coisas de cima, com outra perspectiva.

Ela sorriu. Nos últimos meses, sua vida tinha sido exatamente isso: aprender a enxergar tudo de um novo ângulo.

- Eu adoro a ideia.

Miguel apertou suavemente sua mão antes de ajudá-la a subir no avião.

Enquanto a aeronave ganhava altitude, Verônica olhou pela janela e viu a cidade se afastando, tornando-se apenas pequenos pontos no horizonte. O vento bagunçava seus cabelos, e uma sensação de liberdade tomou conta dela.

Miguel observava sua reação e sorriu.

- Eu sabia que você ia gostar.

Ela virou o rosto para ele e percebeu algo nos olhos dele: uma ternura genuína, uma admiração silenciosa.

Naquele momento, no alto, sentindo o coração pulsar forte, Verônica teve a certeza de que, qualquer que fosse o futuro, ela estava exatamente onde deveria estar.

                         

COPYRIGHT(©) 2022