Capítulo 3 QUANTO MAIS DINHEIRO MENOS LIBERDADE

Ayla, ainda sentada contra a porta, escutou passos do lado de fora. O som dos passos aumentava de volume. Alguém estava indo ao seu encontro.

-Senhorita Ayla? Estou aqui para ajudá-la com a bagagem.

Ela não fez menção de se mover.

-Vá embora! Não preciso de nenhuma ajuda. Não irei a lugar algum.

-Senhorita... seu pai me pediu para ajudá-la pois seria muito difícil para a senhorita fazer tudo sozinha. E ele me pediu para te lembrar que você é a última esperança da família.

Por mais que não quisesse, sentiu uma fúria. O ódio subiu desde o estômago até a garganta. Queria berrar, queria xingar. Mas nada saiu. Ela se levantou,

abriu a porta e deixou a moça entrar. Uma empregada, não mais que 17 anos. Seu cabelo ruivo trançado chegava à cintura.

-Obrigada Amanda. Apesar de ter rejeitado a ajuda, eu não poderia fazer nada sozinha.

-Que isso, senhorita. É minha obrigação. Não há de quê!

-Sabe Amanda... o que você faria no meu lugar? Eu realmente sou apenas um brinquedo que eles podem comprar e vender, como em qualquer loja?

-Realmente não sei o que te falar, senhorita... minha família não tem dinheiro. Eu vivia numa fazenda, antes de vir para a cidade. Eu não entendo nada disso de dívida, não.

-Se não fosse a irresponsabilidade de meu pai, nada disso estaria acontecendo. Como vou me casar com um homem que eu nem conheço? E eu até achava que essas coisas de casamento arranjado já tinham ficado para trás... mas pelo visto, estou muito enganada.

Amanda terminava de guardar as últimas peças de roupa e um livro surrado, assim fechando o baú.

-Sabe, senhorita... acho que esse negócio de dinheiro é quem manda. Quanto mais dinheiro a família tem, menos liberdade tem também. Bom, já podemos falar pros meninos buscarem sua bagagem, pois está tudo pronto aqui. Durante a semana eu termino de arrumar o resto de suas coisas pro patrão mandar para sua nova casa, senhorita.

-Obrigada. Respondeu Ayla, sem nenhum ânimo na voz ou em sua face.

A empregada desceu primeiro para pedir que os outros dois empregados subissem para pegar a bagagem. Ayla foi descendo vagarosamente as escadas, em seguida. Não dirigiu a palavra a mais ninguém. Não se despediu de ninguém. Não olhou para sua mãe e muito menos para o seu pai. E saiu pela porta.

            
            

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