Eu podia fingir que não ligava. Podia continuar sendo o cara despreocupado que sempre fui, mas a verdade estava me encarando de frente.
Joyce sempre esteve ali. Desde a infância. Desde os dias em que eu pegava no pé dela só para ver sua expressão irritada. Mas agora... agora era diferente.
Peguei o celular antes que pudesse me arrepender. Meu dedo pairou sobre o contato dela. Eu deveria mandar uma mensagem?
- Tá ficando maluco, Noah? - Murmurei para mim mesmo.
Antes que eu tomasse uma decisão, a porta do meu apartamento se abriu sem cerimônia. Liam.
Ele me olhou com uma expressão divertida, jogando as chaves na mesa.
- Cara, o que aconteceu? Parece que alguém morreu.
- Nada.
- Nada? Então por que você tá andando de um lado pro outro igual um maluco?
Bufei, jogando a garrafa no sofá.
- Joyce tá em um encontro.
Liam arqueou uma sobrancelha, antes de soltar uma risada curta.
- Ah, então é isso.
- Isso o quê? - Cruzei os braços, sem paciência.
- Você tá com ciúmes.
- Eu não tô com ciúmes. - Respondi rápido demais.
Liam me encarou como se eu fosse um idiota.
- Noah, você tá literalmente surtando porque a Joyce tá saindo com outro cara. Aceita logo. Você gosta dela.
Eu abri a boca para negar, mas... não saiu nada.
- Eu... - Tentei falar, mas nem eu mesmo sabia o que dizer.
Liam riu de novo, batendo no meu ombro.
- O jogo começou, irmão. Você vai deixar esse Daniel ganhar?
Minha mandíbula travou. Droga. Eu nem tinha percebido, mas, naquele momento, algo dentro de mim despertou.
Talvez fosse a hora de parar de fugir.
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[Joyce]
O encontro foi... bom.
Daniel era um cara legal, sabia conversar, me fazia rir. Mas eu sentia que algo estava faltando. Não sabia dizer exatamente o quê.
Quando saímos do restaurante, ele me acompanhou até a frente da minha casa. O silêncio entre nós foi um pouco estranho.
- Eu gostei de sair com você. - Ele disse, sorrindo.
- Eu também.
Ele hesitou por um segundo, como se estivesse pensando em fazer algo. Então, ele se inclinou, como se fosse me beijar.
Mas, antes que acontecesse, uma buzina soou alto, nos fazendo dar um pulo para trás.
Eu me virei e vi Noah, encostado no carro, com um sorriso de canto nada inocente no rosto.
- Opa, atrapalhei alguma coisa?
Eu quis matá-lo naquele momento.
Daniel franziu a testa.
- Quem é ele?
- Ele é só... - Comecei a dizer, mas Noah interrompeu, jogando um braço nos meus ombros.
- Sou o melhor amigo dela. - Disse com um tom casual demais.
Meu sangue ferveu.
Daniel me olhou, parecendo confuso, mas no fim apenas suspirou.
- Tudo bem. A gente se vê na faculdade, Joyce.
Ele acenou e entrou no carro. Assim que ele foi embora, eu me afastei de Noah, cruzando os braços.
- Qual é o seu problema?
Ele me olhou, fingindo inocência.
- Eu? Nenhum. Só achei que você precisava de um resgate.
- Eu não precisava de nada, Noah! Você não pode simplesmente aparecer do nada e... e...
Ele deu um passo para mais perto, o sorriso brincalhão sumindo um pouco.
- E o quê?
Engoli em seco. O olhar dele estava intenso, como se estivesse me analisando de um jeito que nunca tinha feito antes.
- Você tá estranho. - Murmurei.
Ele deu de ombros.
- Talvez. Ou talvez eu só tenha percebido que não gosto de ver você com outro cara.
Meu coração deu um salto no peito.
Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se virou e foi embora.
Me deixando ali, completamente confusa sobre tudo o que estava acontecendo.