Capítulo 4 Lobão

Lobão Narrando

Tava ligado que hoje tinha reunião na sede, então já cheguei no pique. Fui tomar um banho, água gelada pra acordar de vez. Ainda com a toalha enrolada na cintura, saí do banheiro e ouvi o celular vibrar na cama.

Peguei o bicho pra ver quem era, e claro, era a Naomi. Essa mina é föda, não falha nunca. Tava mandando mensagem, daquele jeitão direto dela:

"Posso colar aí? Tô a fim de sentar." Ri sozinho, pensando na mina. Ela é prática, sem enrolação, e é disso que eu gosto. Respondi só com um.

"cola aí mais tarde" e joguei o celular de novo na cama. Não ia me atrasar pra reunião por causa dela, mas também não ia dispensar. Fui me arrumar.

Ela Senta, faz o que tem que fazer, depois se manda. Sem cobrança, sem drama, sem aquela ladainha de "o que a gente é?". Cada um no seu corre, e é isso. Importante é que ela não cobra nada, nem dinheiro nem atenção. Gosto assim.

Enquanto eu passava a mão no cabelo, já pensando no rolê, vi que o tempo tava voando. Me vesti rápido, peguei a chave da moto e o celular que tava largado na cama. Dei uma última olhada no apê. É pequeno, mas é meu canto. Moro sozinho, e prefiro assim. Já tive minha cota de dividir espaço com gente que só enche o saco. Lembrei da última vez que tentei morar com alguém, Aquela desgraçada. Mulher bonita, mas cheia de ideia torta. Quando ela meteu o pé, fiquei sozinho, na minha solidão que é minha melhor Companhia.

Montei na moto e dei partida. A sede fica perto, então nem demorei. O vento batendo na cara sempre me ajuda a organizar os pensamentos. Gosto disso. Cheguei lá em poucos minutos. Os caras já tavam reunidos, trocando ideia, fumando, e aquele clima de sempre. A sede é nosso ponto de encontro, nossa segunda casa. Ali a gente resolve tudo, seja problema ou festa.

A reunião começou no pique, nem teve aquele blablablá de sempre. O Chefe já chegou falando sobre a Penha. A gente tomou o morro numa invasão cabulosa, uma pá de tiro pra todo lado, mas no final, o bagulho foi nosso. Agora, ele tava ali pra decidir quem ia chefiar a parada. Nessas reuniões, eu sempre fico na minha, tá ligado? Deixo o Chefe resolver o que é melhor pro Comando. Não sou de meter o bedelho onde não me chamam.

Aí o Chefe joga a pergunta na mesa.

- Quem vai assumir o Morro da Penha?

Ficou aquele silêncio, só dava pra ouvir o barulho da TV ligada lá na outra sala, do radinho dos moleque da segurança. Ninguém se atreveu a abrir a boca até que o Lúcifer pediu pra falar. Eu nem estranhei, o moleque é filho do Chefe, sempre tem moral pra falar nas reuniões.

- Fala aí, filho - o Chefe deu a palavra.

E o moleque, sem mais nem menos, me joga na fogueira:

- Pai, na minha opinião, quem devia assumir a Penha é o Lobão.

Mano, eu travei. Olhei pra cara do Lúcifer sem entender nada. Que porra o cara tava querendo? A gente mal se tromba, nunca trocamos ideia direito, e agora ele me mete numa dessa? Meu sangue começou a ferver, mas segurei a onda.

O Chefe, com aquele sorriso de quem já tinha planejado tudo, acenou com a cabeça.

- É uma boa ideia. Lobão tá na ativa faz tempo, já mostrou que é firmeza. Tá decidido. Mas aqui no Comando, é tudo na ordem e na disciplina. Quem concorda que o Lobão seja o novo chefe da Penha, levanta a mão.

Cara, eu queria sumir. Nem tive tempo de reagir. A galera começou a levantar a mão, um por um. Parecia até combinado, porque foi geral. Todo mundo botou fé no bagulho, menos eu. Fiquei ali, parado, com a mão no joelho e a cara fechada.

"Porra, tão querendo me foder mesmo", pensei. Eu sabia que chefiar um morro não era só ganhar respeito e dinheiro. Era muita responsabilidade, muita cobrança, e se algo desse errado, a culpa ia cair todinha nas minhas costas.

O Chefe deu mais um sorriso, olhando pra mim.

- Tá decidido, Lobão. A Penha agora é sua. Não me decepciona, Vamos organizar o baile da posse, e você já tem o aval pra sondar a quebrada, procurar uma goma de responsa.

Eu engoli seco, mas não podia dar mole na frente de todo mundo. Dei um aceno com a cabeça, mas por dentro eu tava püto. Depois que a reunião acabou, fui atrás do Lúcifer pra entender qual era a dele.

- Qual é, Lúcifer? Que porra foi essa?

- Relaxa, Lobão. Você tá preparado. Não vou te largar na mão.

"Preparado", ele disse. Mano, eu sabia que esse trampo ia me meter em um milhão de tretas. Mas agora não tinha mais volta. A Penha é minha, e eu vou ter que segurar o rojão.

Troquei uma ideia com uns mano lá, tá ligado? Só aquele papo de leve sobre o que tava rolando. A cabeça já tava a milhão, mas eu tentava disfarçar pra ninguém sacar que eu tava meio bolado com essa história de chefiar o morro. É responsa demais, mas fazer o quê? Na guerra, soldado não escolhe missão.

Enquanto eu tava ali, encostado, o Chefe me chamou de cantinho. Ele olhou pra mim daquele jeito sério, o olhar que já dizia que vinha mais pepino.

- Lobão, escolhe dois soldados aí. Um pra sub e outro pra gerente.

Dei uma olhada rápida pros lados, analisando quem tava na cena. Não queria errar na escolha, tinha que ser dois caras que eu podia confiar, que tavam prontos pro corre e sabiam segurar a bronca. Respirei fundo e mandei:

- Canhoto pra sub, Bauru pra gerente.

O Chefe deu aquele sorriso discreto e assentiu com a cabeça.

- Já é. Amanhã cedo, esteja aqui na sede. Vou convocar Canhoto e Bauru também. O papo vai ser com os três.

Fiz o toque de mão com ele, como quem diz que tá fechado, e me meti o pé pra casa. A noite já tava findando, e a madruga chegando.

Quando cheguei na frente do prédio, lá tava a Naomi, me esperando. Ela tava encostada no muro, quando me viu, abriu aquele sorriso.

- Tá atrasado, hein, Lobão - ela falou, cruzando os braços, mas com aquele olhar de quem tava de boa.

- Foi mal, aí. Coisa de trabalho - respondi.

A gente entrou, Minha cabeça tava tão cheia com esse lance do morro que esqueci do combinado. Mas fazer o quê? Festinha era bom pra esfriar a mente. Subi com ela e, quando abri a porta, a Mina já veio pra cima, porra, tava fogosa, a gente fez o que tinha que fazer, Naomi meteu o pé, e eu tomei banho e me deitei.

- Caralho, eu vou ser chefe de quebrada, Mano é responsa demais - Falei pra mim, mesmo. Antes de pegar no sono.