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PV Jake Wolf
Passado
2 Anos antes...
Odeio plantões de doze horas, porque sempre fica uma parte minha no hospital. A parte energizada fica na sala de cirurgia, e a parte cansada sai comigo para meu apartamento. Ela simplesmente me persegue até que esteja novinha em folha de novo, o que infelizmente hoje não poderá acontecer. Terei que ir direto para o aeroporto, pegar um voo para Houston e depois um táxi até a escola de Helena. E por último, quem sabe, procurar o meu irmão sumido.
Irei pegar a minha Chapeuzinho e me distrair, depois voltar para a realidade.
Sei que é estranho dizer que a vejo como uma pequena amiga, mas é assim que eu a vejo. A Chapeuzinho é apenas uma menina de nove anos, que faz meu solitário mundo vermelho, sorrir. Sei que ela ainda não entende muita coisa, é nova demais. Talvez seja isso, a inocência que nossas conversas têm e suas brincadeiras me fazem ser criança novamente, mesmo tendo quase vinte e dois. Ela é a companhia perfeita para minha solidão.
Nos conhecemos no hospital de Houston. Dei uma passada lá, já que Dr.Harry disse que tinha uma menina que tinha sofrido uma fratura craniana e precisava de um exame completo. Como eu não tinha achado meu irmão, decidi ajudar. Helena era a menina que tinha sofrido a fratura, e ela também tinha causado uma pequena fratura em outra menina. Foi uma briga. A menina me chamou atenção por causa dos seus olhos que eram de um azul-claro e que brilhavam de forma travessa quando entrei na sala.
Assim que cheguei perto dela para levá-la ao exame e dar os pontos, ela pulou da maca e correu feito um cordeirinho. Fiquei alguns segundos observando onde ela poderia ir até decidir ir atrás da pestinha fujona. Corri o hospital inteiro até encontrá-la perto de uma barraca de sorvete. Praticamente babando.
2 meses antes
Fui até ela e me abaixei.
-Você é rápida - observo admirado com sua esperteza.
- Obrigada, você também não é nada mal - diz dando um sorriso grande e travesso.
- Você quer um sorvete?
- Quero! - diz eufórica, pulando.
- Só te dou um sorvete se você não correr, que tal?
- Tudo bem - confirma, levantando a mão para fechar o acordo e se apresentando - Sou Helena Whitley e você?
- Jake Wolf - pego em sua pequena mão também me apresentando e selando o trato.
- Um sorvete, por favor! - peço para o moço da barraquinha - Qual sabor, Helena?
- Morango - responde pegando o sorvete e saindo andando à minha frente enquanto eu pago. Assim que pego o troco começo a andar ao seu lado de volta ao hospital.
- Você está sozinha?
- Não, estou com Robert.
- Robert, o xerife? - pergunto curioso, ele é pai de Annie ex-namorada do meu irmão.
- Sim, sou um dos filhos adotados dele - comenta encerrando o assunto e adentrando outro com uma pergunta surpreendente.
- Você quer ser meu amigo, lobo mau? - ela pergunta, brincalhona.
- Amigo? Espera aí, você me chamou de lobo mau? - pergunto sem conseguir segurar o riso.
- Sim para as duas perguntas.
- Se eu fosse mau não te compraria sorvete.
- Isso não quer dizer nada. Além do mais, você tem cara de lobo mau. Pelo menos os olhos. E se você for meu amigo, teremos que criar códigos só nossos.
- Então eu serei o lobo mau, e você a Chapeuzinho vermelho - digo me abaixando até estar a sua altura assim que paramos em frente à porta do hospital.
- Chapeuzinho vermelho? Gostei. Isso quer dizer que você vai ser meu amigo? - especula desconfiada.
- Sim.
- Oba! - diz pulando e me abraçando, mas se afastando rapidamente para me fazer uma pergunta - Se você é meu amigo você não vai me costurar, né? - sorri e balanço a cabeça.
- Amigos, amigos, e negócios à parte - digo bagunçando seu cabelo enquanto entramos os dois junto para dentro do hospital.
Naquele hospital depois de fazermos todos os exames, ficamos até tarde conversando. E percebi que o que eu estava procurando algo para afastar minha solidão, e que estava procurando no lugar errado. Tinha acabado de achar a pessoa mais incrível que já conheci. Que mesmo com pouca idade me fez esquecer e perder as horas. Me fez sorrir em um dia mais do que nos últimos anos.
Foi aí que tudo começou. Sei que Helena e suas travessuras irão me distrair do recente sumiço do meu irmão mais novo. E quem sabe me tire os pensamentos que me atormentam desde que eu o vi na última vez, o que faz muito tempo. O sangue em suas roupas, o olhar frio e extremamente maduro em seu olhar. Era como se ele estivesse se transformado.
Meu irmão tinha sumido, e aquele homem que eu vi não era ele. Não podia ser.