- Serei rápida. Não quero passar vergonha diante do rei vizinho. - Fiz minha melhor cara de timidez, ciente de não ter o rosto completamente visto por causa do véu de rendas floradas.
- Vamos mostrar... - Fiz uma jogada de mão descartando a possibilidade.
- Não precisa, apenas me mostrem o caminho.
- Não podemos. A vossa alteza irá fugir. - Disse um deles.
- Eu irei comer. Como posso fugir de barriga vazia? - Encarei ambos.
Um franziu o cenho, e, trocando olhares novamente, me apontaram a direção:
- É por ali. - Lancei uma cara de satisfação na direção deles, não poderia sorrir, causaria mais desconfiança.
Seguindo para a cozinha, fui acompanhada até a porta pelos dois.
Assim que abri as portas do espaço, avistei várias pessoas, a maioria cozinhando, outros ajudando. Um banquete estava sendo feito.
"Certamente é para a recepção do rei."
Permaneci perto da entrada, observando cada movimento deles. Quando fui percebida, parada na entrada da cozinha, eu os vi pararem o que estavam fazendo para se curvarem levemente.
- Bem-vinda, sua alteza! - Em uníssono, fui cumprimentada.
Recebi em silêncio. Não era culpa deles a minha infelicidade, porém, de alguma forma, eram cúmplices do meu pai.
- O que deseja? - O chefe de todo o grupo deu um passo à frente, me olhando atentamente, mas não se aproximou.
Analisei o espaço enquanto o respondia, fazendo aquilo para ser mais convincente de que estava apenas curiosa e provavelmente sendo inocente.
- Estou sem um desjejum. Então aproveitei para conhecer a cozinha e pegar algo para comer.
- Oh! Sinta-se à vontade! - O homem recuou.
- Vou escolher algo e depois provar um pouco de cada um, gosto de provar as diversidades. - Não demonstrei minha intenção, fingindo estar interessada no banquete quase completo, estendido sobre a mesa longa perto de onde estava.
- Temos um provador real, sua alteza.
- E hoje serei eu. - Não deixei espaço para contestar, mas ele o fez.
- Alteza, não é seguro.
- Por acaso estão tentando matar o rei? - Os encarei.
- Ou essa é a ordem do rei? Matar o rei Tauron e a filha bastarda, como matou a prometida dele?
O silêncio foi um tapa no rosto.
"Não pertenço a esse lugar."
- Estarei bem aqui. Não preciso de mais nada! - Dispersei a atenção deles.
Ele baixou a cabeça em compreensão e então ordenou que todos voltassem a suas tarefas.
Me aproximei da mesa, fingindo não espionar as pessoas ao redor.
O espaço era grande o suficiente para o dobro de uma dezena de pessoas, sobrando um espaço considerável por mais o tamanho da mesa longa.
"Acabei de acusar um grupo de pessoas de tentativa de envenenamento e não me sinto culpada. Parece certo."
Capturei um pequeno bolinho, o joguei na boca, comendo rapidamente. Era uma delícia, poderia me aliviar a fome.
Aprovando a criação, saí provando cada especialidade. Nem todos estavam aprovados, mas fazer aquilo me ajudava a ser realista para os soldados guardando a porta e para o chefe de cozinha, que acabava de tirar a atenção de mim, acreditando não ter outras intenções.
Observava o meu entorno constantemente, havia armários, fornos, mesas, muitas panelas e utensílios. Tudo era grandioso, no entanto, o que me interessava era a porta, não muito longe da equipe ajudante.
"Geralmente se precisa de uma segunda porta para ter mais agilidade em entregas pelos fundos."
Restava saber o quão longe ela me levaria.
- Isso não serve! - Reclamou o chefe, depois de provar uma sopa feita por seu subordinado.
"Isso vai ser descartado a qualquer momento." Esperei.
Depois de alguns bolinhos aqui e ali, alguém precisou abrir a porta para descartar a sopa.
Mal a porta abriu, eu já passava por ela, quase esbarrando no pobre homem assustado com uma panela enorme e fervente.
- Espere! - Ouvi um dos soldados.
Corri como nunca, agarrada aos lados do vestido. Como havia pensado, a porta dava acesso sem vigília à floresta que rodeava o castelo.
"Sorte que você não se importa com os pobres empregados da cozinha, papai." Se o rei se importasse com aquelas pessoas, haveria uma extensão de muro ali.
A neve parecia estar com vinte centímetros de altura acima do chão. Tive que sair quase pulando, enquanto chutava a neve muito pesada em contraste com o peso do tecido do vestido, que já ficava úmido.
- A princesa fugiu!!! - Ouvi os gritos atrás de mim.
O castelo inteiro já tinha recebido o alerta.
"Corre, Esmen!" Me forcei a continuar firme.
O caminho feito até a floresta era pior que estar dentro dela. As árvores afastadas, grandes, robustas e bonitas melhoraram o volume da neve. As raízes longas me faziam tropeçar vez ou outra quando passava por perto de seus troncos.
Minha corrida foi aliviada com menos alguns centímetros de neve. O meu maior problema era que não conseguia despistar os soldados atrás de mim. Havia uma tropa que eu não podia contar, todos dispostos a agradar seu rei capturando a princesa fujona.
Corri muito, as pernas fraquejavam de cansaço. Eu era uma boa corredora, sempre vivi no campo, mas nunca tinha experimentado correr nessa época.
O frio maltratava minha pele, parecia penetrar os ossos. Os dentes batiam incessantemente. O véu era extremamente fino sobre meus olhos e rosto, este sempre balançava por causa da minha respiração ofegante.
- Lá está ela! - Ouvi alguém gritar atrás de mim.
Olhei por cima do ombro, apenas para encontrar a poucos metros alguns soldados a cavalo.
Mal voltei os olhos para frente, as pernas fraquejaram. Me vi soltando o tecido do vestido grosso para tentar proteger meu rosto.