Capítulo 4 O primeiro pagamento

O celular vibrou ao lado do notebook de Ayumi, interrompendo seu fluxo de pensamento. Ela estava mergulhada em mais um capítulo de sua história quando viu a notificação na tela:

**"Seu pagamento foi processado com sucesso."**

Por um instante, ela não soube o que sentir. Era um valor pequeno, insignificante para muitos, mas para Ayumi, aquilo representava o início de uma nova fase. Ela abriu o aplicativo da plataforma onde publicava suas histórias e confirmou: o dinheiro estava lá, pronto para ser transferido.

Seus olhos se encheram de lágrimas. Há alguns meses, mal conseguia imaginar um futuro para si mesma. Estava afogada em dívidas, sem perspectiva e sem qualquer apoio. Agora, mesmo que ainda estivesse longe de resolver todos os seus problemas, havia uma luz no fim do túnel.

Ela segurou o celular com força, como se aquele pequeno dispositivo fosse seu amuleto da sorte. Foi nele que encontrou a esperança que tanto precisava.

- Eu consegui... - sussurrou para si mesma.

### A Luta do Dia a Dia

Ayumi não perdeu tempo. Fez a transferência do valor para sua conta bancária e, sem hesitar, correu até a mercearia do bairro. Precisava de itens básicos: arroz, macarrão, ovos. Há semanas, estava vivendo com o mínimo, e agora poderia se dar ao luxo de comprar um pouco mais de comida.

Ao chegar ao caixa, o atendente, um senhor de meia-idade, a reconheceu.

- Você sumiu, Ayumi. Pensei que tivesse ido embora da cidade.

Ela sorriu, um pouco envergonhada.

- Só estava... ocupada.

O homem assentiu, passando os itens pelo scanner.

- É bom ver você por aqui de novo.

Ela pagou e saiu da loja com as sacolas na mão, sentindo um misto de alívio e ansiedade. O dinheiro ainda era pouco. As dívidas estavam longe de serem quitadas. Mas aquele pagamento lhe deu uma certeza: se continuasse se esforçando, poderia sair daquela situação.

### Noites Sem Dormir

Determinação era algo que nunca faltou a Ayumi. Mesmo depois de um dia exaustivo escrevendo, ela se recusava a parar. Durante as madrugadas, ficava sentada em sua cadeira, com uma xícara de chá ao lado e os olhos grudados na tela.

Os dedos corriam pelo teclado enquanto sua mente trabalhava a mil. Criar histórias era um desafio, mas também um prazer. Quanto mais escrevia, mais entendia que não estava apenas contando histórias para os outros - estava contando sua própria história.

E era isso que fazia seus leitores voltarem. Eles se viam refletidos na sua escrita. Cada personagem carregava um pedaço de sua alma, de suas dores e suas esperanças.

Mas escrever até altas horas da noite tinha um preço. Na manhã seguinte, Ayumi acordou com o som irritante do despertador e uma dor de cabeça latejante. O corpo estava cansado, os olhos pesados.

- Só mais cinco minutos... - murmurou, se encolhendo na cama.

Mas cinco minutos se transformaram em uma hora. Quando finalmente se levantou, percebeu que havia perdido tempo valioso. O desespero tomou conta dela.

Ela se apressou para ligar o notebook e retomar a escrita. Não podia se dar ao luxo de descansar. Precisava produzir mais capítulos, engajar mais leitores, garantir que o próximo pagamento fosse maior.

Era exaustivo, mas Ayumi sabia que era um sacrifício necessário.

### O Convite Inesperado

No meio da tarde, enquanto revisava um capítulo, recebeu um e-mail inesperado. Era de um dos editores da plataforma.

*"Olá, Ayumi. Seu crescimento nas últimas semanas nos chamou atenção. Gostaríamos de convidá-la para um programa de autores exclusivos, onde poderá receber mais por suas histórias. Podemos conversar?"*

Ela releu a mensagem várias vezes, tentando absorver o significado. Um convite assim significava que estavam reconhecendo seu trabalho. Poderia ganhar mais, expandir seu público e, talvez, sair do sufoco financeiro mais rápido.

Seu coração disparou.

Mas, ao mesmo tempo, sentiu medo. O que significava ser uma autora exclusiva? Teria que abrir mão da liberdade de postar onde quisesse? Teria que seguir regras que poderiam limitar sua criatividade?

Ela respirou fundo e decidiu responder.

*"Obrigada pelo convite. Estou interessada e adoraria saber mais detalhes."*

Ela clicou em enviar e fechou os olhos por um instante. Estava dando um passo importante, mas sabia que precisaria analisar bem suas opções.

### A Conversa com a Irmã

No fim do dia, Ayumi pegou o celular e discou o número de sua irmã mais nova, Hana.

- Alô? - A voz do outro lado soava surpresa.

- Hana, sou eu.

- Onee-chan?! - O tom da irmã mudou para pura emoção. - Você sumiu!

Ayumi sorriu, mesmo com os olhos marejados. Não tinha visto ou falado com a irmã há meses. A vida difícil a afastou de todos, mas nunca deixou de pensar nela e nos irmãos.

- Desculpe por isso. Mas eu precisava resolver algumas coisas.

Hana fez uma pausa antes de responder.

- Você está bem?

- Estou... melhorando. Consegui um trabalho. Um diferente. Estou escrevendo histórias online.

- Sério? - Hana riu. - Você sempre foi boa nisso.

- Acho que finalmente encontrei algo que posso fazer de verdade.

- Isso é incrível, Onee-chan!

Elas conversaram por mais alguns minutos, e Ayumi sentiu uma leveza que não sentia há muito tempo. Conversar com Hana a fez lembrar do seu propósito. Tudo que fazia não era apenas por ela. Era por sua família.

Um dia, queria ganhar o suficiente para comprar uma casa para eles. Queria tirá-los das dificuldades.

E esse dia estava cada vez mais perto.

### Determinação Redobrada

Naquela noite, Ayumi voltou a escrever, mas com um novo sentimento dentro de si: esperança. Pela primeira vez, sentia que estava no caminho certo.

Ela abriu um novo documento e começou a digitar, determinada a transformar sua história - e sua vida - em algo extraordinário.

**Capítulo 5: O

A tela do notebook iluminava o rosto cansado de Ayumi enquanto ela lia e relia o e-mail do editor. O convite parecia uma oportunidade incrível, mas também carregava um peso. Ser uma autora exclusiva significava mais dinheiro, estabilidade, mas também significava seguir regras que poderiam limitar sua liberdade criativa.

Ela apoiou o queixo nas mãos, sentindo-se dividida.

- Será que vale a pena? - murmurou para si mesma.

Era difícil tomar essa decisão sozinha. Nos últimos meses, acostumou-se a depender apenas de si mesma, mas agora sentia a necessidade de conversar com alguém.

### O Conselho de um Estranho

Depois de hesitar por alguns instantes, decidiu sair um pouco para clarear a mente. A noite estava fria, mas o ar fresco ajudaria a organizar seus pensamentos. Caminhou até uma pequena loja de conveniência e comprou um café quente.

No caixa, o atendente, um rapaz de cabelo descolorido e olhar tranquilo, notou sua expressão preocupada.

- Noite difícil? - perguntou, entregando o troco.

Ayumi deu um sorriso fraco.

- Algo assim.

- Parece que precisa tomar uma decisão importante.

Ela o olhou, surpresa.

- Como sabe?

O atendente deu de ombros.

- Trabalho aqui todas as noites e vejo muitas pessoas com essa mesma expressão. Geralmente, significa que estão lutando contra algo dentro delas.

Ayumi segurou o copo de café com mais força. Talvez fosse tolice, mas sentiu vontade de desabafar um pouco.

- Recebi uma proposta de trabalho. Melhor do que a situação atual, mas não sei se realmente é a escolha certa.

O rapaz sorriu.

- Se você já conseguiu tanto sozinha, então sabe o que está fazendo. Mas às vezes, oportunidades aparecem porque estamos prontos para crescer. Só você pode decidir se esse é o momento certo.

As palavras dele ficaram ecoando na mente de Ayumi enquanto voltava para casa.

### O Salto de Fé

Naquela noite, depois de horas refletindo, ela tomou uma decisão. Pegou o celular e digitou uma resposta ao editor.

*"Aceito a proposta. Vamos conversar sobre os detalhes."*

Enviar aquela mensagem foi como saltar de um penhasco sem saber se haveria um colchão para ampará-la. Mas, no fundo, Ayumi sabia que precisava arriscar.

Na manhã seguinte, recebeu a resposta do editor, marcando uma reunião online para discutir os termos do contrato.

Ela respirou fundo. Seu destino estava prestes a mudar - para melhor ou pior, só o tempo diria.

Mas uma coisa era certa: Ayumi não voltaria atrás.

            
            

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