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(Visão e/Viktor)
Minha cabeça latejava como se estivesse prestes a explodir. A dor pulsante se espalhava pelo meu crânio, e o gosto amargo de sangue escorria pela minha boca. Mal tive tempo de reagir antes de ser jogado contra algo duro, o impacto ecoando pelo cômodo silencioso.
O pano foi arrancado dos meus olhos de uma vez, e meus sentidos foram tomados pelo cenário ao meu redor.
O quarto era pequeno, sufocante. As paredes descascadas tinham um tom esverdeado e sujo, como se ninguém tivesse pisado ali por anos. O teto estava deteriorado, e algumas lascas de tinta pendiam como se fossem cair a qualquer momento. O único ponto de luz vinha da janela coberta por poeira, projetando sombras assustadoras pelo chão de madeira velho e rangente.
No centro, uma cadeira solitária.
E à minha frente, um homem de terno, com o rosto oculto pela penumbra. Atrás dele, mais três homens imóveis, suas presenças pesadas como se estivessem prontos para me conter caso eu tentasse qualquer coisa.
Minha respiração acelerou. Meu peito subia e descia rápido, mas cada movimento fazia a dor na minha cabeça se intensificar.
Então, o silêncio foi quebrado por uma risada baixa.
-"Parece que nosso convidado finalmente acordou..."
A voz do desconhecido era fria, mas carregava um tom brincalhão que me fez arrepiar até a alma. Minhas mãos suavam, meu corpo tremia levemente, e meus lábios rachados se abriram, mas nenhuma palavra saiu.
Eu só conseguia encarar aquela figura na minha frente, sem saber se deveria ter mais medo dele... ou do que estava por vir.
Meu coração martelava no peito, mas, acima do medo, algo queimava dentro de mim: raiva.
- "Que porra é essa?" - minha voz saiu rouca, mais por causa da pancada do que pelo nervosismo. Tentei me mexer, mas meus pulsos estavam amarrados nas costas. Ótimo. Como se já não bastasse ter sido demitido hoje, agora eu estava sequestrado?
O cara de terno inclinou a cabeça, como se estivesse se divertindo.
- "Nada de 'obrigado por me trazer até aqui'? Que garoto ingrato."
Minha testa franziu. O tom debochado dele fez meu sangue ferver.
- "Trazido? Você quer dizer sequestrado, né, seu desgraçado?!"
Os três brutamontes atrás dele sequer se mexeram, mas o homem principal riu baixo. Aquele riso me fez querer socar a cara dele, mas, com as mãos presas, só me restava cuspir palavras.
- "Olha, se isso é um engano, ótimo. Me solta logo e cada um segue seu caminho."
Nada. Ele apenas me encarava.
- "Agora, se você tem algum motivo pra isso, que tal explicar de uma vez?" - continuei, puxando o ar com força. Minha cabeça latejava, meus lábios ardiam, mas eu não ia ficar quieto esperando o pior sem lutar.
O homem se abaixou um pouco, se aproximando. Eu tentei recuar, mas a cadeira me manteve preso.
- "Você vai descobrir logo, logo."
Aquele tom brincalhão de novo.
Minhas mãos cerraram atrás das costas.
Que merda estava acontecendo?
O homem de terno tirou a carta do bolso e a abriu com a calma irritante de quem já sabia que tinha o controle da situação.
- Viktor Monteiro... - Ele pronunciou meu nome lentamente, saboreando cada sílaba. - Dezessete anos. Estudante do terceiro ano. Trabalha meio período, ou melhor, trabalhava, já que foi demitido hoje.
Minha respiração ficou pesada. Como esse cara sabia disso?
- Vive sozinho num apartamento minúsculo no centro, se virando como pode. Sem histórico criminal, sem parentes próximos que se importem. Um garoto sozinho no mundo, quase como se tivesse sido jogado pra escanteio.
Minha mandíbula travou. Meus punhos estavam cerrados atrás das costas, as unhas cravadas na pele.
Ele dobrou a carta lentamente antes de continuar, seus olhos frios grudados em mim.
- Agora, vamos ao que interessa... - O tom brincalhão dele deu lugar a algo mais arrastado, quase cruel. - Seu pai.
Meu peito apertou.
- "Que que tem ele?" - Minha voz saiu firme, mas por dentro meu estômago revirava.
- Heitor Monteiro. Histórico de agressão, alcoólatra, acumulou mais dívidas do que podia pagar... E agora, parece que alguém veio cobrar a conta.
Meu sangue gelou.
Aquele desgraçado. Eu passei anos fugindo dele, me livrando de tudo que tivesse relação com essa merda do meu passado. E agora, depois de tanto tempo, isso voltava pra me assombrar?
- "Eu não tenho nada a ver com ele." - Soltei entre os dentes. - "Se ele deve algo, que pague. Eu não sou responsável por essa merda."
O homem inclinou a cabeça, um sorriso pequeno se formando em seus lábios.
- Oh, mas é exatamente por isso que você está aqui, Viktor.
Minha garganta secou.
O que ele queria dizer com isso?
"Não... você está errado." - Rosnei, sentindo meu peito subir e descer rápido demais. Meu coração martelava dentro do peito, desesperado por respostas, por uma saída, qualquer coisa que me tirasse dessa sequência de merda.
"Aquele filho da puta me abandonou no mundo lá fora..." - Minha voz falhou por um instante enquanto meu olhar caía no chão encardido. - "Eu não quero saber de nada relacionado a-"
A risada abrupta do homem me cortou no meio da frase.
Um arrepio subiu pela minha espinha, e não foi no bom sentido.
"HAHAHAHAHA! VOCÊS ESTÃO OUVINDO ISSO?!"
A risada forçada dos outros três encheu o cômodo, tão falsa e irritante que me deu ânsia.
Estavam zombando de mim.
Filhos da puta.
Minha mandíbula travou, e eu senti minhas unhas cravarem na palma da mão. O cheiro de umidade e madeira podre só tornava tudo pior.
O homem de terno passou os dedos pelo queixo, como se estivesse refletindo sobre algo muito engraçado.
- Oh, Viktor... - Ele se inclinou um pouco para frente, e mesmo sem ver seu rosto direito, eu senti o peso daquele olhar. - Você fala como se pudesse simplesmente ignorar o passado. Como se pudesse escolher não ser envolvido nisso.
Engoli em seco.
- "Eu posso." - Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. - "Eu não tenho nada a ver com o Heitor. Se ele deve alguma coisa, que se foda, eu-"
Antes que eu terminasse, senti um impacto violento na lateral do rosto. A dor veio quente e ardida, fazendo minha cabeça virar para o lado.
Soltei um grunhido e pisquei algumas vezes, atordoado. Sangue escorreu do canto do meu lábio, pulsando de dor por cima da ferida que já estava ali.
O homem que me acertou - um dos três capangas - recuou, esperando alguma reação minha.
Não dei a eles o prazer de me ver reclamar. Apenas passei a língua pelos dentes, sentindo o gosto metálico do sangue.
- "Ah... então é assim?" - Sussurrei, rindo sem humor.
O cara de terno estalou a língua, como se estivesse decepcionado.
- Sabe, eu realmente esperava que você fosse um pouco mais esperto.
Ele ergueu a carta de novo e bateu levemente contra a palma da mão, antes de me encarar.
- A dívida do seu pai não foi paga, Viktor. E agora, adivinha só quem vai ter que pagar por ele?
O silêncio do cômodo era quebrado apenas pelo som da minha respiração pesada. O gosto de sangue ainda estava na minha boca, e a dor no meu rosto pulsava como um aviso do que estava por vir.
O homem de terno deu um passo à frente, os sapatos impecáveis contrastando com o chão encardido. Ele jogou a carta de lado, como se aquilo não importasse mais, e abriu um pequeno sorriso.
- Vamos começar devagar, sim? - Sua voz era tranquila, quase amigável, o que só tornava tudo pior.
Senti um aperto nos ombros quando um dos capangas se posicionou atrás de mim, segurando-me firme na cadeira. Outro se aproximou e puxou uma faca do bolso, a lâmina refletindo a pouca luz do lugar.
Meu coração disparou.
- "Vocês são um bando de covardes." - Cuspi as palavras, tentando ignorar o medo que rastejava pelo meu peito.
O cara de terno riu, como se aquilo fosse adorável.
- Você tem coragem, Viktor. Isso é bom. Mas sabe o que acontece com pessoas corajosas em situações assim?
Ele fez um gesto, e antes que eu pudesse reagir, a faca deslizou pela minha pele. Um corte fino, superficial, apenas o suficiente para queimar.
Eu travei a mandíbula, recusando-me a soltar qualquer som.
- Elas quebram.
Outro corte. Mais profundo, dessa vez.
Minha respiração engatou, e um tremor percorreu meu corpo.
Os outros riram, se divertindo com a cena.
O homem de terno se abaixou até ficar na minha altura, segurando meu queixo com firmeza. Seu toque era quase gentil, mas seus olhos... não havia nada de humano ali.
- Agora, vamos ver quanto tempo você aguenta antes de implorar.
Cuspi no seu rosto, sentindo a umidade da noite enquanto a luz da lua iluminava sua expressão gelada.
Lindo, sim, mas perigosamente fatal.
Era o que eu pensava antes de ser atingido por um olhar gélido e um sorriso arrogante que mais parecia um aviso mortal.
"Vá pro inferno, seu desgraçado."
Senti o enjoo subir mais uma vez, mais forte, ao ver aqueles dentes brancos se exibindo em um sorriso de desdém. Ele parecia se divertir com a minha raiva.
Nojento.
"Só se você quiser dançar com o diabo em pessoa, querido."– ele sibilou, a voz suave como veneno, antes de dar um passo em minha direção, a ameaça em cada movimento. A tensão no ar se tornava insuportável, e eu sabia que não sairia ileso dessa vez.