Capítulo 3 Seja meu ou saia daqui morto.

Ele se levantou e me encarou. Seus olhos não mostravam nada além de frieza.

"Hmm, que pena. Terá que morrer virgem e solteiro."

Suas mãos caminharam em direção ao meu rosto. Fechei os olhos, prevendo o impacto que, para minha surpresa, nunca veio.

Ao invés disso, senti o toque gelado de seus dedos. Suas mãos ásperas deslizaram por minha bochecha, não em um gesto de carinho, mas de zombaria. Seu polegar empurrava minha pele, como se estivesse removendo um grão de arroz perdido.

"Nem teve tempo pra uma foda. Que desprezível."

Senti um arrepio percorrer minha espinha ao ouvir seu tom de escárnio. O silêncio que se seguiu foi cortado pelo som do metal deslizando de sua bainha. Meu coração disparou.

"Mas não se preocupe,"– ele murmurou, pressionando a lâmina contra minha garganta.-"Posso te dar uma experiência inesquecível antes do fim."

O brilho prateado refletiu em seus olhos vazios. Eu sabia que não havia misericórdia ali.

Mas eu não morreria sem lutar.

Aproveitei a proximidade, impulsionei meu joelho para cima e atingi seu abdômen com força. Ele grunhiu, cambaleando um passo para trás. Foi o que bastou.

Me lancei para o lado, tentando escapar, mas um puxão violento me fez cair de cara no chão. Ele agarrou meu tornozelo e me arrastou de volta, a lâmina tilintando ao ser erguer no ar.

"Gostei da sua teimosia"– ele disse, rindo baixo.- "Isso só torna tudo mais divertido."

O impacto contra o chão fez meu corpo arder em dor, os grãos de poeira se infiltrando em minha pele arranhada. O aperto em meu tornozelo era cruel, os dedos dele marcando minha carne enquanto me puxava para perto, como um predador saboreando a presa encurralada.

"Ah, não fuja agora..."–Sua voz era um murmúrio arrastado, quase um ronronar satisfeito.-"Isso só me faz querer brincar mais."

Um arrepio subiu por minha espinha quando senti seu joelho pressionar minha lombar, me prendendo no chão. O peso dele era uma lembrança cruel de minha vulnerabilidade.

"Vamos ver até onde sua resistência aguenta, hm?"

A lâmina fria deslizou pelo meu pescoço, traçando um caminho lento até minha clavícula. Cada movimento era calculado, um jogo entre dor e expectativa. Ele não cortava profundamente-não ainda-mas os pequenos arranhões deixavam uma trilha ardente em minha pele.

"Eu adoro quando eles tremem assim"–ele riu, sentindo meu corpo se contrair sob o seu toque.-"É lindo."

O metal desceu, roçando meu peito antes de deslizar pelas laterais do meu tronco. Ele estava se divertindo.

"Diga"–ele sussurrou perto do meu ouvido, os lábios quase tocando minha pele.-"O que sente agora? Medo? Excitação? Ambos?"

Minha respiração estava irregular, um misto de dor, ódio e algo que eu me recusava a nomear. Mas ele percebeu. Ele sempre percebia.

"Você está começando a entender, não está?"–Seu tom era de triunfo, como se cada suspiro trêmulo meu fosse um troféu.-"O que significa pertencer a alguém de verdade."

(Visão Of/Viktor)

A lâmina fria percorreu o peito de Viktor, traçando um caminho lento e superficial, como se seu algoz estivesse apenas preparando o terreno para o verdadeiro sofrimento. Ele tentou se manter firme, mas o tremor involuntário de seu corpo denunciava o medo e a dor.

Um dos capangas bufou, impaciente.

"Tá brincando demais com ele, chefe."

O homem que segurava Viktor sorriu, sem tirar os olhos dele.

"Onde está a diversão em simplesmente acabar com isso?"- Sua voz era quase gentil, mas carregada de um sadismo latente.– "Ele precisa aprender. Sentir."

Antes que Viktor pudesse reagir, um soco brutal acertou seu estômago. O ar escapou de seus pulmões em um grito sufocado. Seu corpo se curvou instintivamente, mas uma mão impiedosa agarrou seus cabelos, puxando sua cabeça para trás com força.

"Isso foi só o aquecimento."

O estalo veio antes da dor. Um tapa ardido atravessou seu rosto, lançando sua cabeça para o lado. A ardência foi seguida pelo gosto metálico do sangue invadindo sua boca.

"Ora, ora... Ele ainda está consciente."– um dos capangas zombou.-"Acho que podemos nos esforçar mais."

Viktor sentiu a bota pesada se chocar contra suas costelas. O primeiro golpe foi um aviso. O segundo, uma sentença. O estalo ecoou pela sala, e a dor rasgou seu peito, arrancando-lhe um grito involuntário.

Risos.

"Isso foi um osso quebrando?"- Um dos homens perguntou, divertido.

O chefe se ajoelhou ao lado de Viktor, pressionando o local do impacto com crueldade. Viktor conteve um grito, cerrando os dentes.

"Tsc... Não tente se segurar. Quero ouvir você."

Outro chute. Outro estalo. A dor queimava como fogo, tornando cada respiração uma batalha. O suor e o sangue se misturavam em sua pele, e o mundo girava ao seu redor.

"Parece um cachorrinho ferido."– um dos capangas riu.

O chefe sorriu, inclinando-se perto do ouvido de Viktor.

"Vamos ver quanto tempo você aguenta antes de implorar."

Horas se passaram. O cheiro de sangue impregnava o ar, e cada respiração de Viktor era uma luta contra a dor que dominava seu corpo. Seus membros estavam dormentes, suas costelas doíam a cada pequeno movimento, e sua pele estava marcada por hematomas e cortes abertos.

O chefe limpou as mãos ensanguentadas na camisa de um dos capangas e soltou um suspiro, satisfeito.

"Bem, acho que já me diverti o bastante."–Ele se abaixou ao lado de Viktor, que mal conseguia erguer a cabeça.-"Você é mais resistente do que eu esperava."

Os capangas riram baixinho, mas esperaram pelo próximo comando.

O chefe segurou o queixo de Viktor com firmeza, forçando-o a encará-lo. Seus olhos analisaram cada detalhe de seu rosto machucado, avaliando algo além da dor e do ódio que ainda queimava em seu olhar.

"Tenho que admitir..."–Ele sorriu, um brilho perverso no olhar. -"Gosto de caras como você. Que não quebram tão fácil."

Viktor tentou afastar o rosto, mas a dor foi um lembrete cruel de sua posição. Ele não estava no controle.

O chefe soltou uma risada baixa e se levantou.

"Estou com uma proposta"-ele anunciou, casual, como se não tivesse acabado de espancá-lo quase até a morte.-"Ao invés de simplesmente te matar... que tal trabalharmos juntos? Digo, sexualmente..."

Viktor franziu a testa, forçando-se a manter o olhar firme.

"Vai... se foder..."–Sua voz saiu rouca, quebrada pelo esforço.

O chefe arqueou a sobrancelha, claramente divertido.

"Ah, você ainda tem força para me xingar? Impressionante."–Ele se virou para os capangas.-"Soltem-no."

Hesitantes, os homens obedeceram. O corpo de Viktor caiu no chão como um boneco quebrado. Cada músculo gritava em agonia, mas ele se recusava a demonstrar fraqueza.

O chefe se agachou novamente, perto o suficiente para que Viktor sentisse seu perfume misturado ao cheiro metálico do sangue.

"Você pode continuar se debatendo e acabar morto..."–Ele sussurrou, deslizando um dedo pelo corte em sua bochecha.-"Ou pode aceitar o contrato e viver."

Viktor apertou os punhos, seu orgulho brigando com a realidade cruel da situação.

Ele não queria morrer.

Mas aceitar esse acordo significava vender sua alma para o diabo.

O silêncio na sala era pesado, apenas interrompido pela respiração trêmula de Viktor, que lutava contra a dor. Seu corpo estava marcado, seus músculos queimavam, mas seus olhos continuavam carregados de fúria.

O chefe analisava a cena com um olhar satisfeito. Ele gostava de ver um espírito resistente, alguém que não se quebrava tão facilmente. Mas, no fim, todos quebravam.

Ele se abaixou novamente, segurando o queixo de Viktor com força, obrigando-o a encará-lo.

"Você realmente é teimoso, não é?"-Sua voz era baixa, quase carinhosa, mas carregada de veneno.–"Acho que já decidi o que fazer com você."

Viktor cuspiu no rosto dele.

Os capangas ficaram tensos, esperando pela punição. Mas, para a surpresa de todos, o chefe riu. Uma risada baixa, arrastada, que fez a sala parecer ainda mais sufocante.

Ele limpou o rosto calmamente antes de se aproximar do ouvido de Viktor.

"Gostei disso"-sussurrou.–"Vai ser mais divertido te dobrar."

Viktor rosnou, mas sua voz falhou quando um soco brutal atingiu seu estômago. Seu corpo se contraiu, e ele engasgou com a própria saliva e sangue.

O chefe segurou seus cabelos e puxou sua cabeça para trás, obrigando-o a olhá-lo nos olhos.

"Eu ia te oferecer um contrato mais... interessante."-Seu polegar deslizou pelo maxilar machucado de Viktor.–"Mas já vi que você não é muito esperto."

Viktor riu, mesmo com a dor pulsando em cada centímetro do seu corpo.

"Vai... se foder..."-Sua voz saiu arrastada, mas carregada de desafio.

O chefe estreitou os olhos.

"Certo. Então vamos mudar a proposta."-Ele soltou Viktor, deixando-o cair no chão com um baque surdo.–"Se não quer ser minha puta, então pode ser meu empregado."

Viktor tossiu, cuspindo sangue no chão antes de encará-lo com ódio.

"E se eu não aceitar?"

O chefe sorriu.

"Então você morre aqui mesmo."

Os capangas sacaram suas armas, apontando-as para Viktor.

O silêncio pairou no ar. Viktor fechou os olhos por um momento, sentindo a dor latejante dominar seu corpo. Ele estava acabado.

Mas ainda não estava morto.

Quando abriu os olhos, viu o chefe esperando sua resposta, a expressão divertida e impiedosa.

Ele ainda tinha orgulho. Mas também queria sobreviver.

Engolindo a bile e o sangue que subia em sua garganta, Viktor respirou fundo.

"...O que exatamente faz um empregado seu?"

O chefe sorriu, triunfante.

"Ah... Isso você vai descobrir."

"Só digo uma coisa..."– Seu sorriso se alargou diante de Viktor. Psicopata.–"Seja meu ou saia daqui morto."

Notas da Autora:

Eu me sentia incapaz de enxergar o mundo lá fora. Para mim, ele não tinha cor-não era alegre, nem divertido. O riso soava falso, as palavras eram vazias, e cada sorriso escondia uma intenção por trás. As pessoas mentem por prazer, lucram em cima da ingenuidade dos outros e seguem em frente como se nada tivesse acontecido.

Você tem amigos verdadeiros? Isso é valioso. Uma família que realmente se importa? Isso também é valioso.

Oh... por um momento, eu me esqueci de que tinha tudo isso.

A segurança de um lar, o conforto de um abraço sincero, a certeza de que, não importa o que aconteça, alguém estará ao meu lado.

Mas Viktor... Viktor não tinha nada.

Nenhum lar para voltar. Nenhuma mão para segurá-lo quando caísse. Nenhuma voz para chamá-lo pelo nome com ternura. Ele existia-não vivia.

E talvez, no fundo, ele já tivesse aceitado isso.

                         

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