Naquela semana, Clara estava mergulhada em seu trabalho no estúdio, com prazos apertados e uma grande exposição de arte se aproximando. Sua vida parecia um equilíbrio precário entre o trabalho, suas amizades e as pequenas interações diárias. No entanto, havia algo diferente naquele dia. Uma sensação de expectativa, talvez provocada pelas trocas de mensagens com Lucas, que havia se tornado um ponto constante de interesse na vida dela. Eles ainda não haviam dado o próximo passo - o jantar que ele a convidara para a sexta-feira ainda pairava no ar. Clara sabia que ele não estava cobrando uma resposta, mas ela também sabia que não poderia deixar essa oportunidade escapar.
Ela estava sentada em sua mesa de trabalho quando seu celular vibrou. O nome de Lucas apareceu na tela, e, por um momento, Clara hesitou. Ela olhou para a tela, ponderando se devia ou não responder naquele momento. Seu coração disparou. Ela ainda estava nervosa, como se a cada mensagem de Lucas algo novo estivesse em jogo.
"Oi, Clara! Pensando em você. Sei que estamos nos vendo pouco, mas queria saber se a oferta para o jantar de sexta ainda está de pé. Eu ficaria feliz em te ver. Beijos!"
Clara sorriu, o calor subindo em seu rosto. A maneira como ele a tratava, com paciência e sem pressão, era reconfortante. Mas ainda havia uma voz em sua cabeça que a alertava para os perigos de se entregar sem garantir que estava pronta para o que isso poderia significar.
Ela olhou para a mensagem por alguns segundos antes de decidir o que fazer. Era hora de dar o passo que ela sabia que deveria dar. "Oi, Lucas! Eu adoraria ir ao jantar. Me sinto um pouco nervosa, mas estou animada. Nos vemos sexta-feira então. Beijos, Clara."
Ela apertou "enviar" e se recostou na cadeira, com o coração batendo forte. A expectativa tomava conta dela. O que isso significava? Seria o início de algo mais, ou apenas mais um passo em sua jornada de autodescoberta?
Na sexta-feira, Clara se preparou com cuidado. Optou por um vestido simples, mas elegante, algo que a fizesse se sentir confiante sem parecer exagerada. Ao olhar no espelho, ela percebeu que o nervosismo ainda estava lá, mas também uma sensação de curiosidade. Era a primeira vez que ela realmente se entregaria a algo sem saber o que o futuro traria. E, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia um pouco mais livre.
Lucas a aguardava na entrada do restaurante, um lugar charmoso e intimista que ela já conhecia, mas que agora parecia ter uma energia diferente. Quando ele a viu, seus olhos brilharam, e um sorriso genuíno se formou em seu rosto. Clara não pôde deixar de sorrir também. Ele estava tão tranquilo, tão seguro de si, que a fazia se sentir um pouco mais leve. Era como se, ao lado dele, ela não precisasse se preocupar com nada.
- Olá, Clara. Você está linda - disse ele, com aquele sorriso que a fazia sentir algo inesperado no peito.
- Obrigada, Lucas. Você também está ótimo - respondeu ela, tentando não parecer nervosa.
Eles entraram no restaurante, e o garçom os conduziu até a mesa. O ambiente era acolhedor, com luzes baixas e velas nas mesas, criando uma atmosfera romântica e intimista. Clara se sentou, e Lucas a acompanhou, puxando a cadeira com um gesto cuidadoso. Ela percebeu como ele sempre estava atento aos pequenos detalhes, como se se importasse genuinamente com o bem-estar dela.
O jantar seguiu de maneira tranquila, com risadas ocasionais e conversas sobre coisas simples. Mas, ao longo da noite, Clara sentiu que as palavras que saíam de sua boca estavam começando a ser mais sinceras, mais abertas. Ela falava sobre sua vida, suas inseguranças, suas escolhas, e Lucas ouvia com atenção. Ele não interrompia, não a apressava. Apenas estava ali, permitindo que ela se expressasse como nunca fizera antes.
Durante o prato principal, Lucas começou a falar sobre algo mais pessoal, algo que Clara não esperava.
- Eu sempre achei que as coisas aconteciam por um motivo, sabe? Tudo o que vivemos nos leva a um lugar. Eu passei por momentos difíceis na minha vida - ele disse, olhando para o prato, como se estivesse lembrando de algo distante. - Tive que aprender a me adaptar a uma nova realidade, a lidar com perdas. E foi nesse processo que eu comecei a perceber que, se eu não me permitisse viver as coisas com leveza, com calma, eu nunca seria feliz. Por isso, quando te conheci, Clara, algo me disse que talvez a gente tivesse algo para aprender juntos.
Clara ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele. A sinceridade com que ele falava a tocou profundamente. Era como se ele estivesse abrindo uma janela para a alma dele, e ela sentia que, de alguma forma, ele queria que ela visse mais do que ele estava disposto a mostrar para o mundo.
- Eu... também me sinto assim, Lucas. Sempre fui alguém que quis ter tudo sob controle. Mas, por dentro, estava me sentindo tão perdida. Eu pensei que eu precisava me manter afastada, proteger meu coração, mas você me mostrou que talvez eu não precise fazer isso o tempo todo - Clara respondeu, a voz suave, mas cheia de verdade.
Lucas a olhou nos olhos, e ela viu algo em seu olhar que a fez se sentir ainda mais vulnerável. Era como se ele entendesse mais do que ela estava disposta a admitir.
- A vida, Clara... a vida é curta demais para não seguir o que o coração pede. E, agora, eu sei que o que estou sentindo por você é real. Não sei onde isso vai nos levar, mas quero ver aonde pode ir. Quero explorar esse sentimento, sem pressa, sem medo - ele disse, com um olhar profundo.
Clara ficou em silêncio, as palavras de Lucas ressoando em sua mente. Ela não sabia o que o futuro guardava para eles, mas algo dentro dela dizia que talvez, apenas talvez, ela estivesse pronta para dar uma chance ao que o destino parecia estar preparando.
Ao final do jantar, Lucas a acompanhou até o carro. Antes de ela entrar, ele segurou sua mão suavemente, com cuidado, como se fosse o gesto mais natural do mundo.
- Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente, Clara. Mas quero estar ao seu lado, de qualquer maneira. Apenas quero que você saiba que, independentemente de como as coisas evoluam, eu vou estar aqui - disse ele, com uma sinceridade que tocou seu coração.
Clara olhou para ele e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava pronta para se abrir novamente, para confiar no que estava por vir. Ela apertou a mão dele com delicadeza, sentindo o peso daquelas palavras em seu próprio peito.
- Eu também quero ver onde isso vai dar, Lucas - respondeu ela, com um sorriso tímido, mas verdadeiro.
E, com isso, os dois se despediram, mas Clara sabia que algo havia mudado dentro dela. Talvez fosse cedo para entender completamente o que estava acontecendo, mas o que ela sabia era que, ao lado de Lucas, ela se sentia mais inteira, mais disposta a enfrentar o que quer que o destino tivesse reservado.