No entanto, enquanto Clara tentava deixar de lado os medos que a consumiam, ela sabia que o caminho à frente não seria simples. Lucas, com sua calma e sinceridade, parecia estar pronto para dar o próximo passo, mas Clara não tinha tanta certeza de que estava pronta para corresponder à altura.
No sábado seguinte, Lucas a convidou para almoçar. Eles escolheram um restaurante pequeno e aconchegante, um lugar que ela adorava, com um ambiente tranquilo, perfeito para conversar sem pressa. A ideia era continuar o que haviam começado: uma amizade, com a possibilidade de algo mais, mas sem pressões.
- Então, como foi a sua semana? - perguntou Lucas, sentado diante dela, com um sorriso aberto, enquanto o garçom trazia o cardápio.
Clara hesitou por um momento, mas logo começou a falar, buscando se soltar.
- A semana foi boa. Ocupada, como sempre. Eu passei o dia inteiro no estúdio, e, no final, consegui tirar umas fotos bem interessantes para um novo projeto. Às vezes eu sinto que isso é tudo o que consigo fazer direito - disse ela, com uma leve risada.
Lucas a observava atentamente, com aquele olhar curioso, como se estivesse absorvendo cada palavra, sem pressa de fazer qualquer julgamento. Era uma das coisas que Clara mais apreciava nele: ele parecia estar genuinamente interessado no que ela tinha a dizer, sem apressar a conversa, sem a expectativa de uma resposta específica.
- Isso é ótimo, Clara. Eu sei o quanto você ama a fotografia. Fico feliz que tenha encontrado algo que te inspire. Eu, por outro lado, passei a semana resolvendo alguns problemas da bicicleta. E, no final, encontrei tempo para me perder em um livro de poesia. Sabe, eu sempre me sinto em paz quando consigo encontrar um momento para mim, mesmo em meio à correria - disse Lucas, recostando-se na cadeira e observando Clara com uma leveza que a fazia se sentir à vontade.
Clara sorriu, apreciando a calma dele. Em certo ponto, ela começou a perceber que ele estava se tornando alguém que ela não queria mais deixar de lado. Mas, ao mesmo tempo, as dúvidas voltaram. Ela não sabia se estava fazendo certo, se estava permitindo que algo maior surgisse entre eles de forma natural. Estava com medo de se entregar completamente, e isso a deixava inquieta.
O almoço seguiu com mais conversas sobre livros, arte e a vida cotidiana. Era uma conversa descontraída, mas Clara começou a sentir uma conexão mais forte, algo além da amizade. Ela sabia que Lucas estava sendo honesto consigo mesmo, e isso a fazia querer ser mais verdadeira também.
Quando o garçom trouxe a sobremesa, Lucas sorriu, mas havia algo em seu olhar que Clara não soubera identificar. Era como se ele estivesse preparando algo, como se a conversa fosse tomar outro rumo.
- Clara, eu sei que talvez eu esteja sendo apressado, mas queria te perguntar uma coisa. Não é algo grande, mas... gostaria de sair para um jantar comigo na próxima sexta-feira? Só nós dois. Não sei, talvez seja algo simples, mas... - ele fez uma pausa, como se estivesse procurando as palavras certas. - Eu só queria passar mais tempo com você, sem pressões. Acho que, talvez, isso seja algo que precisamos fazer para ver o que realmente existe entre nós.
A fala dele a pegou de surpresa. Clara parou por um momento, sentindo o coração bater mais rápido. Ela sabia que esse convite estava carregado de significado, mas, ao mesmo tempo, ela não sabia se estava pronta para dar esse passo. Ela olhou para Lucas e viu a sinceridade em seus olhos. Ele não estava tentando apressá-la, não estava forçando nada. Ele só queria saber se ela também sentia algo, se também estava disposta a explorar o que poderia ser entre eles.
- Eu... não sei. Eu gosto de você, Lucas. Gosto da sua companhia, do jeito que você me faz sentir. Mas eu não sei o que isso significa, e estou com medo de me envolver demais - Clara respondeu, a voz hesitante, mas verdadeira. - Eu... não sou boa em lidar com esse tipo de coisa. Já me machuquei antes, e a ideia de me entregar completamente novamente me assusta.
Lucas a observou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse processando suas palavras. Mas, ao invés de parecer magoado ou frustrado, ele apenas sorriu, como se tivesse esperado por essa resposta.
- Clara, eu entendo o que você está dizendo. Eu não quero que você faça nada que te faça se sentir mal. Eu só quero que a gente seja honesto, sem pressa. O que eu sinto por você é real, mas eu não vou te pressionar a dar um passo que você não quer dar - disse ele, com um tom calmo e sereno, como sempre.
Clara sentiu um alívio imediato, como se ele tivesse tirado um peso de seus ombros. Ele não estava tentando forçá-la a seguir um caminho para o qual ela não estava pronta. Ele estava respeitando seus sentimentos, o que a fazia se sentir mais segura ao seu lado.
- Eu realmente gosto de você, Lucas. Acho que, no fundo, eu só preciso de um pouco mais de tempo. Não sei se estou pronta para um compromisso, mas... - ela fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. - Eu quero continuar te conhecendo. Não quero que isso acabe aqui. Acho que, se você me der tempo, eu vou conseguir entender o que estou sentindo.
Lucas sorriu mais uma vez, com uma expressão de compreensão.
- Eu vou te dar o tempo que você precisar, Clara. Eu só quero estar ao seu lado, de qualquer forma. Não há pressa, nunca vai haver pressa. Se você me deixar entrar na sua vida, vou esperar o tempo necessário.
Aquelas palavras aliviaram o coração de Clara. Ela não precisava ter todas as respostas imediatamente. Podia ir devagar, sem medo de fazer algo que não queria. Com Lucas, ela sabia que havia a liberdade de ser quem realmente era, sem precisar se esconder atrás de suas inseguranças.
O almoço terminou com um clima mais leve entre os dois. Lucas pagou a conta e sugeriu que fizessem uma caminhada pelo centro da cidade, já que o tempo estava agradável. Clara aceitou, e os dois caminharam lado a lado pelas ruas, sem pressa de chegar a lugar nenhum, apenas aproveitando o momento juntos.
Enquanto caminhavam, Clara sentiu que estava fazendo o certo. Ela ainda não sabia onde aquele caminho a levaria, mas sabia que, por ora, estava disposta a dar um passo de cada vez.
E, à medida que o dia se transformava em noite, com a luz suave do entardecer iluminando as ruas da cidade, Clara percebeu que, talvez, o que ela mais precisava naquele momento era aprender a confiar - primeiro em si mesma, e depois nas possibilidades que a vida tinha a oferecer.