Entre o amor e o destino
img img Entre o amor e o destino img Capítulo 2 A conexão
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Capítulo 6 As sombras do passado img
Capítulo 7 O peso da escolha img
Capítulo 8 O peso das decisões img
Capítulo 9 O desafio do amor img
Capítulo 10 O caminho a frente img
Capítulo 11 Novos desafios, img
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Capítulo 2 A conexão

Os dias seguintes ao acidente passaram como se estivessem dentro de uma bolha de incertezas. Clara tentou seguir sua rotina, mas algo estava diferente. Ela não conseguia parar de pensar em Lucas. Não só pela culpa do acidente, mas pela forma como ele a fez sentir naquele hospital. Uma sensação estranha e inexplicável de que seus destinos haviam se cruzado de alguma forma. Ela não queria admitir, mas a ideia de não vê-lo novamente a deixava ansiosa.

Foi uma sexta-feira, quatro dias depois do acidente, quando ela recebeu uma mensagem de texto de um número desconhecido.

"Oi, Clara. É o Lucas, o ciclista do acidente. Eu sei que foi uma situação estranha, mas achei que seria bom te agradecer por ter ficado comigo até o fim. Eu não tenho como pagar essa gentileza, mas queria te convidar para um café. Só para conversar, sem mais nem menos. Se você não estiver ocupada, claro."

Clara leu a mensagem mais de uma vez. Seu coração acelerou, e um sorriso involuntário apareceu em seu rosto. Ela estava tentada a não responder imediatamente, achando que poderia ser impulsivo, mas a curiosidade foi mais forte.

"Oi, Lucas! Eu também gostaria de conversar. Eu estava pensando muito sobre o que aconteceu. Vamos sim, no Café Lume? Às 16h, pode ser?"

A resposta veio em segundos: "Perfeito. Nos vemos lá."

O café Lume era um local tranquilo, com um ambiente aconchegante, onde Clara gostava de ir quando queria escapar da rotina. Estava um pouco ansiosa, mas ao mesmo tempo sentia uma sensação reconfortante ao pensar na possibilidade de vê-lo novamente. Ela sabia que não podia deixar que o acidente fosse o único marco do encontro entre eles. Talvez fosse o início de uma amizade, ou quem sabe algo mais.

Quando chegou ao café, ela entrou e procurou por Lucas. Ele estava sentado em uma mesa no canto, lendo um livro, como se fosse um hábito dele. O sorriso no rosto dele, quando o avistou, fez o peito de Clara apertar.

- Oi, Clara - disse ele, levantando-se e estendendo a mão. Ela a apertou com firmeza, sentindo uma onda de nervosismo. - Não sei como você conseguiu me reconhecer. Eu estou com óculos escuros e sem bicicleta.

Clara riu, tentando aliviar a tensão.

- Não é difícil. Mesmo com óculos escuros, você tem um jeito diferente. Algo... tranquilo. Acho que isso me chamou a atenção logo no hospital.

Ele sorriu, se sentando novamente.

- Pois é, não sou do tipo de entrar em pânico. Acho que se fizéssemos isso sempre, seria um caos. Eu sou mais do tipo que tenta resolver as coisas calmamente.

Clara assentiu, sentindo-se mais à vontade com a conversa. Ela sabia que Lucas era diferente de qualquer pessoa com quem tivesse interagido antes. A maneira como ele parecia ver a vida e as situações ao seu redor a fazia se sentir... mais leve.

- Então, como você tem se sentido? - perguntou Clara, tomando um gole de seu café, buscando uma maneira de continuar a conversa de forma natural.

- Melhor, mais aliviado, mas... não sei, ainda sinto um pouco de dor. Nada demais. O que me preocupa mesmo é que, depois de tudo, você pode achar que sou alguém problemático. Um ciclista que é atropelado por uma motorista, parece até uma piada, não? - Lucas riu, mas havia uma pitada de melancolia em sua voz.

Clara o observou por um momento. Ele falava com uma leveza que contrastava com a profundidade de suas palavras. Era como se ele estivesse tentando se esconder por trás do humor, mas algo em seu olhar entregava que não era tudo tão simples.

- Eu não te vejo como alguém problemático, Lucas. Aconteceu. Não é uma coisa que você causou. E, para ser honesta, não achei que isso fosse o tipo de coisa que definiria quem você é - respondeu Clara, tentando manter o tom casual, mas com sinceridade.

Ele a encarou com um sorriso um pouco mais aberto, como se suas palavras tivessem lhe tocado de alguma forma. E talvez tivessem. Clara percebeu que, apesar de ele tentar disfarçar, havia algo que o afligia. Algo muito mais profundo do que o acidente em si.

- E você? Como está? - perguntou Lucas, agora mais atento a ela.

Clara hesitou por um momento. Ela não sabia como explicar a sensação que estava vivendo. Ela estava em um ponto da vida em que as coisas pareciam estagnadas, sem rumo. O trabalho a cansava, os relacionamentos a deixavam insatisfeita, e, embora amasse sua carreira como fotógrafa, ela não encontrava mais a satisfação que antes lhe dava.

- Eu... não sei. Estou bem, eu acho. Mas algo me falta, sabe? Eu sempre pensei que tivesse as coisas sob controle, mas, ultimamente, sinto que não estou mais feliz, nem com o trabalho, nem com as pessoas à minha volta. A vida tem se tornado... uma repetição de dias vazios - confessou ela, olhando para a xícara de café com os dedos, um pouco envergonhada.

Lucas a observou em silêncio, parecendo refletir sobre o que ela dissera. Ele não parecia ter pressa para falar, como se tivesse o tempo de escutar cada palavra com atenção.

- Eu entendo o que você quer dizer. Às vezes, a vida parece nos empurrar para um lugar que não sabemos como sair, e a gente acaba apenas... existindo, sem realmente viver - respondeu Lucas, seus olhos fixos nela.

Clara sentiu um calafrio passar por seu corpo. Era como se ele tivesse colocado em palavras o que ela estava sentindo. Era isso, exatamente. A vida havia se tornado uma sucessão de dias que não a preenchiam, de escolhas que não pareciam suas. Mas por que ela estava compartilhando tudo isso com alguém que mal conhecia? Talvez porque ele, de alguma maneira, a entendesse.

A conversa seguiu por mais algum tempo, com ambos compartilhando histórias e desabafos. Cada palavra parecia criar uma conexão mais forte entre eles. Quando o café terminou, Lucas se levantou, sorrindo para Clara.

- Eu sei que você está pensando que isso tudo é estranho, mas eu sinto que algo bom pode surgir daqui - disse ele, com um tom de voz quase esperançoso. Clara olhou para ele e, por um momento, se pegou pensando que ele estava certo.

- Eu também sinto isso - respondeu ela, sorrindo timidamente. - Mas não sei o que isso significa ainda.

Lucas deu de ombros, com aquele sorriso tranquilo, como se nada mais fosse tão importante. Mas Clara sabia que, naquele momento, algo estava se formando entre eles, algo que poderia ser mais do que simples amizade. E, por mais que ela tentasse ignorar, a ideia de que seu destino estava, de alguma forma, entrelaçado ao dele, não a deixava em paz.

Enquanto saíam do café juntos, caminhando lado a lado, Clara não soube dizer ao certo onde aquilo os levaria, mas sentiu que o encontro não tinha sido uma coincidência. Algo estava prestes a acontecer, e ela estava pronta para descobrir o que era.

            
            

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