Capítulo 3 Conflito e descobertas

Clara acordou com a sensação de que algo estava prestes a mudar em sua vida, mas ainda não sabia exatamente o quê. O encontro com Lucas havia mexido com ela de uma maneira que ela não esperava. Havia algo na calma dele, na maneira como ele parecia lidar com os altos e baixos da vida, que a fazia questionar seu próprio ritmo, sua própria maneira de viver. Ela estava acostumada a se apressar, a seguir a correnteza da vida sem muito questionamento, mas aquele café havia quebrado algo dentro dela.

Nos dias seguintes, Lucas e Clara mantiveram o contato. Ele enviava mensagens esporádicas, sempre com um tom casual, mas Clara começava a sentir que a amizade deles estava tomando outro rumo. Ela não sabia se estava pronta para mais um relacionamento, ou se realmente queria se abrir para alguém novamente. Mas a presença dele parecia ser um alicerce, algo que ela não queria perder.

No entanto, as dúvidas começaram a surgir. Clara não conseguia evitar pensar no que Lucas havia dito naquele café: "Eu sei que você está pensando que isso tudo é estranho, mas eu sinto que algo bom pode surgir daqui." Aquelas palavras ficaram ecoando em sua mente. "Algo bom". O que isso significava? Ela não sabia se estava pronta para abrir seu coração de novo, especialmente depois das decepções que tivera nos últimos anos.

Naquela sexta-feira, Clara estava revisando algumas fotos no estúdio quando recebeu uma ligação de Lucas. Seu coração deu um pulo, e ela hesitou por um segundo antes de atender.

- Oi, Clara! - a voz dele soou animada do outro lado da linha. - Eu queria te convidar para um evento no sábado à noite, uma exposição de arte que vai acontecer no centro. Eu sei que você gosta desse tipo de coisa. Vai ter uma sessão de fotos incríveis. O que acha? Vai ser legal, você vai ver!

Clara pensou por um momento. Ela estava no meio de um projeto importante e a ideia de ir a uma exposição parecia ser uma distração bem-vinda. Além disso, ela não queria ser rude. Era claro que Lucas estava tentando algo mais do que uma simples amizade, mas ela ainda estava confusa sobre o que realmente sentia por ele.

- Eu adoraria ir, Lucas, mas... não sei. Eu tenho muita coisa para fazer no trabalho e não queria te dar uma resposta rápida sem pensar direito - respondeu ela, tentando ser honesta, mas também não queria desapontá-lo.

- Eu entendo, não tem problema. Não queria te pressionar. Mas se você mudar de ideia, vai ser bom te ver lá - ele disse com a mesma calma de sempre.

Ela sentiu um peso de arrependimento quando desligou a ligação. Talvez tivesse dito a coisa errada, ou talvez tivesse ficado com medo de algo que nem ela mesma compreendia. Ela decidiu sair do estúdio mais cedo naquela sexta-feira, para espairecer um pouco. O parque perto de sua casa sempre foi um lugar que a ajudava a encontrar um pouco de paz, e ela sabia que aquele seria um bom momento para clarear a mente.

No caminho para o parque, ela refletia sobre a conversa com Lucas. Ele não parecia estar fazendo pressões, mas Clara sentia que havia algo não dito entre eles. Ele sempre a tratava com uma gentileza que era diferente do que ela costumava receber, como se quisesse mais, mas ao mesmo tempo respeitasse o espaço dela. Isso a fazia se sentir confortável, mas, ao mesmo tempo, aumentava a ansiedade.

Quando chegou ao parque, Clara se sentou em um banco perto do lago. O som suave da água batendo nas pedras, as árvores ao redor e o cheiro de terra molhada pareciam lhe dar uma sensação de tranquilidade. Ela fechou os olhos por um momento, deixando seus pensamentos fluírem.

"Eu não posso me deixar levar por essa atração", pensou ela, com a mente confusa. "Ele é diferente, eu sei, mas e o meu medo? E o medo de me machucar de novo? Eu não quero passar por isso novamente."

Ela se levantou, decidida a seguir em frente, quando sentiu uma leve brisa no rosto. Ao olhar para a direita, ela viu uma figura conhecida se aproximando. Lucas estava caminhando em sua direção, com um sorriso sincero no rosto. Ele parecia relaxado, sem a pressão de uma situação romântica, o que de alguma forma a fez relaxar também.

- Clara? - ele a chamou, parando a poucos metros dela. - Eu não esperava te encontrar aqui. Eu sei que você talvez tenha outra coisa em mente, mas queria te pedir uma coisa.

Clara o olhou com curiosidade, ainda sentindo um misto de nervosismo e alívio por vê-lo ali.

- Claro, o que aconteceu? - perguntou ela, tentando não parecer tão surpresa.

- Eu pensei que talvez você quisesse conversar. Eu não quero te pressionar, mas senti que nossa última conversa ficou meio... em aberto, sabe? E não sei se isso é algo que só eu estou sentindo, mas... sinto que tem algo que estamos deixando passar. Algo que poderia ser bom para nós dois.

Clara se viu paralisada por um momento. O que ele estava dizendo? Aquela voz calma, aquele olhar atento... Era como se ele realmente estivesse disposto a entender o que ela sentia, sem pressa de apressar nada. Ele não estava a pressionando para dar uma resposta rápida, mas, ao mesmo tempo, estava sendo honesto sobre o que queria. E isso fez Clara perceber algo: ela também queria ser honesta consigo mesma.

- Eu... também senti isso. Acho que temos algo, mas... - Clara hesitou, as palavras parecendo se perder em sua garganta. - Eu estou com medo. Não sei se estou pronta para me abrir de novo. Tenho medo de errar.

Lucas a observou em silêncio, com o olhar compreensivo que ela já começava a reconhecer. Ele não disse nada imediatamente, mas deu um passo à frente, mais perto dela.

- Não tem pressa, Clara. Não quero que você se sinta pressionada. Eu só quero que você saiba que, independentemente de como as coisas se desenrolarem, você não precisa ter medo de ser você mesma. Eu não estou aqui para correr com nada. Só... para ver onde as coisas podem ir. Juntos, se você quiser.

As palavras dele eram simples, mas carregadas de uma sinceridade que Clara não podia ignorar. Ela não sabia o que o futuro reservava para ela e Lucas, mas naquele momento, ela soube que estava disposta a descobrir. Ela precisava seguir seus sentimentos, mesmo que eles fossem assustadores.

- Eu não sei o que vai acontecer, Lucas. Mas estou disposta a tentar - respondeu Clara, com um sorriso tímido, mas genuíno.

E, com aquele simples gesto, algo mudou entre eles. Algo que não precisava ser apressado, mas que agora parecia estar se formando de maneira natural, como se os dois finalmente estivessem prontos para seguir adiante, passo a passo.