Capítulo 4 Bancar a vítima

A mente de Sadie fervilhava em um turbilhão de pensamentos enquanto ela recolhia suas coisas às pressas e saía do escritório.

Uma vez lá fora, seus olhos percorreram a avenida movimentada, buscando um táxi, quando um Maybach preto parou suavemente à sua frente.

O vidro desceu devagar, revelando um rosto que, sem esforço algum, arrancava suspiros por onde passava. Era Noah.

"Entre", ele disse, a voz firme e impositiva como sempre.

Parte dela queria ignorá-lo e seguir seu caminho, mas a lembrança da ligação angustiante de Laura mais cedo a fez ceder.

Sem dizer uma palavra, ela abriu a porta e se acomodou no banco traseiro, uma escolha deliberada para manter distância.

"Eu disse que iria te compensar, mas não pense que bancar a vítima vai me fazer sentir pena de você", Noah comentou, com um tom de reprovação.

Bancar a vítima?

A ironia de suas palavras foi tão absurda que ela não conseguiu conter uma risada seca, desprovida de qualquer humor genuíno.

"Quando vamos nos divorciar?", a voz de Sadie saiu baixa, quase indiferente, mas carregada de um cansaço profundo.

Noah, intrigado com sua risada, respondeu: "Relaxe, não há pressa, não é o momento certo."

"E para onde estamos indo agora?", Sadie indagou, frustrada.

"Estamos voltando para a propriedade da minha família, pois meu avô quer te ver", Noah explicou, sua voz suavizando.

O nome de Nigel Wall, o avô de Noah, trouxe um aperto no peito que ela não soube identificar se era alívio ou saudade.

Em meio ao caos que sua vida se tornara desde o colapso financeiro de sua família e o desaparecimento de seus pais, Nigel, assim como Laura, sempre era um porto seguro.

Noah já tinha sido esse tipo de luz em sua vida.

Agora, tudo parecia cinza outra vez.

Sadie permanecia em silêncio, concordando com um aceno implícito.

Após um longo silêncio, a voz dela rompeu o ar, mal passando de um sussurro. "Um mês."

"O quê?" Noah franziu a testa, confuso.

"Quero que o divórcio seja finalizado dentro de um mês", ela declarou, firme.

Se o processo se arrastasse, Noah poderia descobrir sua grávida.

Dada sua ligação com Kyla, ele certamente exigiria que ela interrompesse a gravidez, mas ela estava determinada a não abrir mão do filho.

Os traços de Noah endureceram, denunciando sua frustração. "A decisão já foi tomada, Sadie. Pare de jogar esses jogos mentais comigo."

Ele sabia o quanto ela ainda se importava com ele, e isso o fazia sentir uma culpa incômoda. Mas ele não podia permitir que os sentimentos dela se tornassem moeda de troca nessa negociação fria e inevitável.

"Até que tudo esteja resolvido oficialmente, precisamos manter as aparências. Não vamos deixar nada transparecer", ele disse.

Os olhos de Sadie arderam com lágrimas não derramadas ao ouvir suas palavras duras.

"Você realmente não tem um pingo de consideração por mim, não é?", ela murmurou, a voz embargada.

Então, ela se virou para a janela e abaixou o vidro, permitindo que o vento frio secasse as lágrimas teimosas que se acumulavam em seus olhos.

O carro deslizou suavemente pela estrada sinuosa até alcançar a Mansão Wall, uma construção imponente no topo de uma colina luxuosa de Buihron.

O brilho das luzes da cidade, a meia hora dali, parecia um mundo distante.

Noah abriu a porta do carro para Sadie, protegendo graciosamente sua cabeça com a palma larga da mão, um gesto repleto de consideração.

Apesar de saber que tudo não passava de uma encenação, Sadie não pôde evitar se sentir momentaneamente seduzida pelo charme dele.

À medida que seguiam pelo caminho, a mão quente de Noah envolveu a sua com uma firmeza inesperada.

Ela hesitou, seus dedos se apertando levemente, tentando escapar discretamente do toque dele.

Mas ele, sem esperar pela resistência, deu um leve passo para trás, quase tropeçando, antes de parar e olhar para ela com um olhar surpreso.

Nesse momento inesperado, Sadie ergeu a cabeça para encontrar o olhar dele e os lábios dos dois se tocaram suavemente.

Um calafrio percorreu a espinha de Sadie e, por um momento, ela ficou paralisada.

"Noah...", ela sussurrou, sua voz embargada, mal conseguindo articular a palavra enquanto dava um passo para trás.

No entanto, sua tentativa de afastamento foi interrompida pela aparição súbita de Nigel, que surgiu de dentro da casa imponente.

Num movimento quase involuntário, ela deixou que Noah recuperasse sua mão enquanto Nigel se aproximava com sua bengala, a batendo de leve no chão com um ar de falsa irritação.

"Bem, bem, olha quem finalmente resolveu dar as caras! Eu já estava começando a pensar que vocês tinham me esquecido", Nigel exclamou, a voz cheia de uma reprimenda disfarçada de brincadeira.

Normalmente, Sadie teria dado um passo à frente, tentando apaziguar a situação, mas nesse momento, ela se viu paralisada, sem saber qual papel deveria desempenhar diante de Nigel.

Os olhos de Nigel, sempre astutos e refinados pela experiência no mundo dos negócios, captaram imediatamente a tensão entre o casal.

"Esse rapaz está sendo um idiota, te colocando sob um estresse desnecessário", Nigel disse, seu tom suavizando à medida que seus olhos, que antes fulminaram Noah com um certo desprezo, se voltavam para Sadie, demonstrando uma empatia genuína.

Noah, mantendo os lábios pressionados numa linha fina, não respondeu e apenas refletiu sobre as palavras de Nigel.

"Eu estou bem, Nigel", Sadie murmurou, forçando um sorriso que não alcançou seus olhos, que brilhavam com uma solidão não dita.

A preocupação de Nigel por ela era evidente, mas ela sabia que, por mais que ele se importasse, nada mudaria a realidade da situação.

A voz de Nigel era gentil, carregada de preocupação enquanto ele segurava a mão de Sadie. "Você ainda insiste que está bem? Você parece pálida. Venha, vamos jogar uma partida de damas. Faz muito tempo desde a última vez que fizemos isso."

Com um aceno hesitante, Sadie se permitiu ser conduzida para o interior da imponente casa.

De longe, Noah observava a cena, os olhos fixos nela com uma mistura de confusão e preocupação.

Ele já estava mentalmente preparado para o divórcio, mas ver Sadie ao lado de Nigel, tão à vontade, despertava algo em seu peito que ele não soubera que existia: arrependimento.

Ao entrar na sala de estar, Sadie teve seu olhar imediatamente atraído para Kyla. Elegante e com a postura impecável que sempre a caracterizara, Kyla estava sentada no sofá, segurando uma xícara de café, rindo de forma leve e descontraída com Isabel Wall, a mãe de Noah.

Quando Kyla a percebeu, seus olhos se arregalaram em uma surpresa que não poderia ser mais forçada. "Oi, você é uma das funcionárias de Noah, não é?"

Isabel, por sua vez, não perdeu tempo e interveio com um tom afiado, mal escondendo seu desdém: "Foi assim que Noah a apresentou? Olhando para o estado em que ela está, é claro por que ele não quer admitir o relacionamento deles."

A mulher fez uma pausa, lançando um olhar significativo para Kyla antes de acrescentar: "Mas felizmente, você voltou, Kyla."

Kyla lançou um olhar apologético para Isabel. "Sinto muito, Isabel. Acho que a decisão de estudar no exterior foi um erro. Se eu tivesse ficado, talvez você e Noah não precisassem se preocupar tanto com tudo isso."

Isabel bufou, claramente irritada. "Bem, o importante é que você voltou. Agora, algumas pessoas que já passaram do seu tempo terão que saber se afastar."