Capítulo 5 Eu seria grata se parasse de me incomodar

"Já chega!", a voz de Nigel cortou o ar, fazendo Isabel se calar imediatamente.

Sadie e Isabel nunca se davam bem.

Isabel, sempre carregando um ar de superioridade, enxergava Sadie como uma intrusa indesejada, uma herdeira falida tentando se agarrar à fortuna da família Wall.

No passado, Sadie aprendeu a navegar por essa hostilidade com paciência forçada, engolindo seu orgulho mesmo diante dos insultos velados.

Mas agora, com o divórcio à vista, ela não via mais razão para se submeter a esse jogo humilhante.

Ignorando o olhar gelado de Isabel, Sadie atravessou a sala com passos firmes e se sentou ao lado de Nigel, sem hesitar.

Foi nesse instante que a porta se abriu e Noah entrou.

Kyla se levantou de imediato e caminhou até ele, entrelaçando o braço no dele com um sorriso doce.

"Noah, finalmente você voltou", ela murmurou, a voz suave e carregada de doçura artificial, como a de uma esposa ansiosa pelo retorno do marido.

Noah reagiu com frieza. Seus olhos se estreitaram e, sem hesitar, ele afastou o braço, rompendo o contato. "O que você está fazendo aqui?"

Antes que Kyla pudesse se recuperar do impacto e pensar em uma resposta, Isabel interveio, a voz carregada de suavidade calculada: "Fui eu quem a convidei. Faz tempo desde a última vez que nos encontramos, então achei que seria uma boa oportunidade para colocarmos a conversa em dia."

Dois anos antes, Isabel havia caído em um golpe de investimento que lhe custara uma fortuna. Foi Kyla quem interviera para ajudá-la a remediar o desastre, um favor que a tornara, aos olhos de Isabel, a nora ideal.

Kyla baixou o olhar e suspirou, lançando um olhar hesitante para Sadie, como se buscasse compaixão. "Talvez eu não devesse ter vindo... Melhor eu ir embora agora. Não quero causar problemas para você, Noah."

Ela se virou abruptamente em direção à porta, seu movimento carregado de um drama calculado.

Noah, embora claramente irritado, estendeu a mão para detê-la, mantendo a expressão neutra. "Não complique as coisas, fique."

Sadie, observando tudo à margem, sentiu um aperto familiar no peito. Legalmente, ela era esposa de Noah, mas, agora, se sentia como uma intrusa indesejada. A sensação de deslocamento se intensificou, tornando impossível continuar ali.

"Nigel, vamos para o escritório?", ela sugeriu, se esforçando para manter a voz firme.

Nigel se apoiou pesadamente na bengala e abriu um sorriso carregado de ironia, dizendo: "Posso estar velho, mas ainda tenho muita lenha para queimar! Sadie é a única que reconheço como minha neta por afinidade. As outras nem chegam perto!"

Ele fez uma pausa significativa antes de endurecer o tom: "E mais uma coisa, se eu descobrir que alguém aqui machucou Sadie, pode dar adeus às minhas ações."

Kyla crispou os dedos, os punhos cerrados com tanta força que as unhas quase perfuravam a pele, enquanto seus olhos brilhavam de inveja.

Isabel, visivelmente abalada, mordia o lábio, lutando contra a vontade de reagir.

Noah, por sua vez, odiava se sentir encurralado, ainda mais por Nigel.

"Então vá em frente e doe suas ações", ele retrucou asperamente, puxando o braço de Kyla para sair.

"O que você acabou de dizer, seu ingrato..." A voz e o corpo de Nigel tremiam de fúria enquanto ele lutava para manter a compostura.

Sadie se aproximou rapidamente, o segurou pelo braço e o guiou com delicadeza para o refúgio seguro do escritório.

Uma vez lá dentro, ela falou, seu tom baixo e cheio de aceitação resignada: "Não adianta forçá-lo... Desde o início, o coração dele nunca foi meu."

Observando a postura impecável de Sadie, Nigel soltou um suspiro pesado, uma mistura de admiração e pesar transbordando em seu olhar. "No fim das contas, quem está perdendo é Noah, não você."

Ele sabia que, por mais que desejasse, não poderia interferir nas escolhas da geração mais jovem.

Ainda assim, ver Sadie sendo tratada dessa forma o incomodava profundamente.

Com um ar resignado, ele abriu a gaveta, tirou um documento e o colocou diante dela.

"Sadie, por favor, assine isto."

No instante em que os olhos de Sadie captaram a palavra "ações" no contrato, uma tensão afiada se espalhou por sua mente.

Segurando o papel com firmeza, ela o deslizou de volta pela mesa, sua voz serena, mas carregada de uma resolução imutável: "Isso não me pertence. Quando me casei com Noah, sabia que o coração dele já tinha dona. Agora que ela voltou, o mínimo que posso fazer é encerrar essa história de uma vez."

Com uma expressão solene, Nigel perguntou cautelosamente: "Você alguma vez se arrependeu de ter se casado com ele?"

Sadie piscou, surpresa pela pergunta direta. O silêncio pairou entre eles antes que um sorriso amargo surgisse em seus lábios. Lentamente, ela balançou a cabeça, admitindo: "Não, nunca me arrependi."

Apesar da dor intensa, seu amor por Noah era algo que ela nunca poderia se arrepender.

Agora, porém, esse amor estava se tornando muito pesado, prestes a esmagá-la.

Sadie empurrou o documento para longe, se recusando a assinar.

Nigel, percebendo que não conseguiria fazê-la mudar de ideia, suspirou discretamente e lhe entregou um cartão.

Enquanto ela se levantava para sair, ele a lembrou que, caso as coisas se tornassem insuportáveis, ela não tinha razão para continuar sofrendo.

Ele cuidava de Sadie com a ternura reservada a uma neta querida, mesmo que, para isso, precisasse se opor ao próprio neto.

Após sair da imponência da Mansão Wall, Sadie não voltou para a casa que ainda dividia com Noah.

Em vez disso, ela se refugiou em um flat modesto, administrado por um hotel. O pequeno apartamento, mobiliado e acolhedor, lhe oferecia não apenas o essencial, mas, acima de tudo, a tranquilidade que tanto precisava.

Longe da presença sufocante de Noah e das lembranças dolorosas que a cercavam, ela começou a valorizar esse espaço como seu verdadeiro lar.

Depois de um banho revigorante, Sadie pegou o celular e percorreu a lista de contatos, sentindo um aperto no peito.

Por mais que analisasse os nomes, não havia ninguém que pudesse fingir ser seu namorado.

Como ela explicaria para Laura que apareceria sozinha?

A frustração tomou conta dela, e seus dedos passaram pelos cabelos em um gesto impaciente.

No fim, ela suspirou e aceitou o inevitável.

Se Laura questionasse, ela simplesmente contaria a verdade, sem rodeios, sem desculpas.

Com a mente um pouco mais tranquila, ela se ocupou arrumando o flat.

Pelo menos hoje, o pequeno ser dentro dela parecia colaborar, sem causar incômodos.

O silêncio acolhedor foi interrompido pelo vibrar do celular sobre a mesa e o nome de Noah brilhava na tela.

O coração de Sadie disparou. Ela hesitou, os dedos pairando sobre o aparelho.

Sua razão dizia para deixá-lo esperando, mas, no fim, ela cedeu e deslizou o dedo pela tela.

A voz de Noah soou fria e cortante do outro lado da linha: "Onde diabos você está, Sadie? Por que não está em casa? Não está causando problemas de novo, está?"

Sadie soltou uma risada carregada de amargura. "Eu? Causando problemas? Considerando que estamos nos divorciando, não vejo como meu paradeiro é da sua conta."

"Eu..."

Sadie o interrompeu com tom firme: "Escute, eu aceitei o divórcio. Não vou ficar grudada em você. Sendo assim, eu seria grata se parasse de me incomodar, senhor Wall."

Sem esperar por uma resposta dele, Sadie encerrou a chamada, deixando Noah para remoer em silêncio do outro lado.

Noah permanecia imóvel, apertando o celular com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.

A irritação subiu quente por sua garganta quando ele se deu conta de que ela havia desligado na cara dele.