Capítulo 3 Primeiro Dia de Aula

Querido diário, me desculpa. Eu simplesmente esqueci de você, minha vida está tão divertida que eu nem lembro de escrever, já se passou duas semanas desde a última vez que peguei uma caneta para escrever nas suas folhas. Mas em compensação eu tenho várias novidades para contar, bom, começando pelo começo, eu fui para a escola e foi bem legal, as meninas me trataram bem, e fiz algumas amizades, os meninos ficaram mais no canto deles não trocaram ideia comigo, mas não faz mal, são feios, não gostei de nenhum.

As aulas foram bem interessantes, gostei da maioria dos professores, mas tem uma velha que é chata demais, pensa numa mulher insuportável, grita igual uma mula, mas tirando isso o resto é legal.

Bem, pra não dizer que não tinha nenhum menino bonito, até que tem um nome dele é Flávio, tem os olhos verdes, é alto e meio corcunda, ah, e tem um jeitinho meio lerdo, parece que tá anda se arrastando, mas é o melhorzinho... Percebi que as meninas são dividas aqui na sala, as mais feinhas ficam de um lado e as mais bonitas do outro lado, e adivinha onde tinha uma cadeira vaga que nesse caso seria a minha? Exatamente, do lado feio da sala. Que ódio!!!

Ah, mal tive aulas e já estamos em recesso para o carnaval, estou ansiosa porque é minha primeira festa de rua na vida, nunca tinha participado de uma antes, minha mãe disse que eu vou poder ir nesse carnaval para conhecer como funciona uma festa de verdade, estou empolga, louca pra alguém chegar em mim e me pedir um beijo; minha mãe não pode nem sonhar em ler esse diário, se não ela me arranca o couro.

Aliás diário, sabe que eu nunca beijei ninguém? Pois é, é verdade, nem uma bitoquinha. Será que é muito difícil? Bom, eu sei que grande parte do pessoal da minha sala já não é mais bv nem bvl, então eu tenho que dar um beijo em alguém pra ser igual as outras garotas, concorda?

Ai, tomara que venha um menino bem bonitão e me beije no meio da festa igual cena de filme, tô doidinha pra isso acontecer.

Mudando de assunto, agora já não moro mais com minha tia, minha mãe conseguiu uma casa de aluguel, quanto ao meu pai, voltou pro Goiás para ficar trabalhando e mandando dinheiro pra gente, lá ele tem um emprego bom. Bem, péssimas bocas as que dizem que parente é bom mas bom mesmo é eles longe, isso é a pura verdade, minha tia tem a língua que parece um chicote, só não fala mal de si mesma porque é hipócrita demais para enxergar os próprios defeitos, meu tio que mora na casa da minha vó também não fica atrás, pensa numa coisa feia é homem fazendo fofoca, ainda mais meu tio que parece uma raposa queimada, feio que dói, não sei como minha mãe veio bonita, porque aquela família dela parece cruza de ogro com ornitorrinco.

Acredita que a pobre coitada da minha tia inventou que me viu dando ideia em alguém!? Tô te falando. E olha que isso não é nem possível, porque até agora não conversei com nenhum gatinho, só vi de longe. Cara, minha tia é o próprio capeta, que cão. Agora minha mãe fica desconfiando de mim atoa achando que tô dando por aí, mas que inferno, odiei vim pra esse lugar. Errada eu estava quando pensei que minha tia era uma flor de tangerina, aquilo é próprio demônio, mas como não tem a mínima chance de ir embora daqui e voltar pra minha cidade, é como diz o ditado: já que tá no inferno abraça o capeta.

E lá vamos nós embarcar nessa louca aventura, e cruzar os dedos para não sair mais fofocas com meu nome.

De qualquer modo, a cidade é legalzinha, minha turma é bacana e aqui tem muitas festas, não vou deixar a língua tapete da minha tia abalar meu ano, tô pro que der e vier.

            
            

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