Gabriel tirou o casaco, revelando um terno bem cortado, e se sentou no sofá, observando o ambiente ao redor com curiosidade. Ele nunca havia estado na casa de Maya antes, e por um breve momento, parecia surpreso com a simplicidade sofisticada do lugar. Maya, por sua vez, ignorou o olhar dele e se concentrou em organizar os documentos.
- Aqui está o que temos até agora - ela começou, sentando-se à sua frente. - Precisamos revisar os pontos principais e nos certificar de que ambos estamos na mesma página. Weber é detalhista e vai querer garantias.
Gabriel assentiu, pegando uma das pastas que ela havia entregue.
- Certo. - Ele começou a folhear os papeis, o som das páginas sendo viradas ecoando no ambiente silencioso.
Por um tempo, eles trabalharam em calma, revisando cada detalhe do contrato, ajustando termos e discutindo pontos de vista opostos de maneira quase mecânica. Era como se, pela primeira vez, ambos estivessem focados em um objetivo comum sem deixar a rivalidade atrapalhar.
Depois de quase uma hora, Gabriel fechou a última pasta e se recostou no sofá, olhando para Maya com uma expressão que ela não conseguiu decifrar.
- Acho que estamos prontos - ele disse, com um sorriso satisfeito no rosto.
Maya assentiu, sentindo um misto de alívio e cansaço.
- Sim, acho que sim.
Mas, antes que pudesse se levantar, Gabriel a observou por mais alguns segundos, como se estivesse pensando em algo importante.
- Maya - ele começou, hesitante. - Eu sei que temos nossas diferenças. E sei que a rivalidade entre nós sempre foi intensa. Mas eu gostaria de acreditar que podemos trabalhar juntos sem que isso nos destrua.
Maya o encarou, surpresa pela franqueza. Por um momento, considerou o que ele estava dizendo. Havia verdade nas suas palavras. A tensão entre eles, por mais que fosse frustrante, também era o que os tornava formidáveis no campo profissional. No entanto, ela não estava disposta a deixar aquela tensão influenciar suas decisões pessoais.
- Podemos trabalhar juntos, Gabriel - ela disse, finalmente. - Mas não se engane, a rivalidade ainda está aqui. E sempre estará.
Gabriel sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.
- Eu não esperava menos de você, Almeida.
Eles ficaram em paz por alguns segundos, até que Maya se levantou, indicando que a reunião havia terminado.
- Te vejo na reunião com Weber - ela disse, caminhando até a porta.
Gabriel pegou seu casaco e seguiu para a saída, mas, antes de sair, parou por um momento e se virou para ela.
- E Maya... boa sorte. Vamos precisar.
Ela sorriu de canto, com um toque de ironia.
- Eu faço a minha própria sorte, Thorne. Mas obrigado, mesmo assim.
Ele deu um aceno leve e saiu, deixando-a sozinha novamente. Maya fechou a porta e soltou um longo suspiro, sentindo o peso da aliança temporária entre eles. Sabia que, por mais que tentassem manter as coisas profissionais, a linha entre rivalidade e algo mais estava cada vez mais tênue.
[Quebra de tempo]
- Aqui estão os relatórios que precisamos rever - ela disse, entregando a ele uma pasta. - A reunião com Weber está marcada para às seis da tarde, então precisamos garantir que tudo esteja em ordem até lá.
Gabriel pegou a pasta e começou a folhear os documentos, seus olhos, analisando cada página com atenção.
- Você realmente faz questão de estar no controle de tudo, não é? - ele comentou, sem desviar o olhar dos papeis.
Maya se sentou em uma cadeira oposta, cruzando os braços.
- E você? Quer que tudo seja uma grande aposta? Nós temos muito em jogo, Gabriel. Não posso simplesmente relaxar e esperar que tudo funcione.
Ele parou de folhear os papeis por um instante e a olhou, sua expressão se suavizando.
- Eu entendo, Maya. Não sou ingênuo a ponto de pensar que isso será fácil, mas precisamos ser mais flexíveis. Às vezes, um pouco de confiança pode ajudar.
Ela ergueu uma sobrancelha, surpresa com a sugestão.
- Confiança? Isso é fácil de dizer quando você não está levando toda a responsabilidade nas costas.
Gabriel suspirou, fechando a pasta e apoiando-a nas pernas.
- Eu não estou pedindo para você se jogar nos braços do destino. Estou pedindo para que possamos trabalhar juntos sem essa tensão constante.
Maya hesitou. Parte dela queria argumentar, mas havia uma verdade nas palavras dele que era difícil ignorar.
- E como você sugere que façamos isso? - ela perguntou, inclinando-se para frente, interessada.
Gabriel sorriu de leve, como se estivesse satisfeito por ela estar disposta a ouvir.
- Que tal um plano? Podemos dividir as tarefas para a reunião, cada um cuidando de sua parte e nos apoiando. Assim, conseguimos apresentar um front unido a Weber.
Maya refletiu sobre a proposta. Essa abordagem parecia mais prática do que as batalhas que estavam travando até agora.
- Tudo bem, vamos fazer isso - ela concordou, sentindo um leve alívio. - Mas, se você tentar me passar a perna, não hesitarei em lembrar que somos rivais.
Gabriel riu, um som inesperado e genuíno que a desconcertou.
- Está gravado. Não sou um traidor, Maya.
Por um instante, os dois se olharam, e Maya sentiu algo diferente no ar. A tensão entre eles parecia estar se transformando, mas ainda não sabia em que direção. Antes que pudesse refletir mais sobre isso, Gabriel quebrou o silêncio.
- Então, qual é a sua parte no plano?
Maya recuperou o foco e começou a discutir as estratégias. À medida que conversavam, ela percebeu que, apesar das diferenças, estavam começando a encontrar um ritmo. As ideias fluíam, e a energia na sala se tornava mais construtiva.
Ao longo da manhã, o tempo passou rapidamente. Eles revisaram cada detalhe, discutindo pontos importantes e até rindo de algumas situações embaraçosas que haviam acontecido nas reuniões anteriores. Maya se surpreendeu com a facilidade com que as palavras saíam, e com a capacidade de Gabriel de fazer piadas que, por mais inesperadas que fossem, conseguiram desarmar a atmosfera pesada entre eles.
Quando finalmente deram uma olhada no relógio, perceberam que tinham apenas algumas horas até a reunião. Maya se levantou, esticando as pernas.
- Preciso de um café. Quer algo?
- Um café também seria ótimo - respondeu Gabriel, observando-a com uma expressão que Maya não conseguia decifrar.
Ela foi até a cozinha, e enquanto preparava o café, sentiu os olhos dele a seguindo. Aquilo a deixou um pouco inquieta.
- O que foi? - ela perguntou, virando-se para encará-lo.
- Só estou admirando sua capacidade de manter tudo sob controle - ele respondeu, com o tom leve. - Não é fácil ser a única mulher em um ambiente dominado por homens.
Maya hesitou. Era uma observação que ela não esperava.
- Obrigada, mas não é só sobre ser mulher. É sobre ser competente. Todos nós temos que fazer o nosso melhor, independentemente do gênero.
Gabriel assentiu, claramente respeitando seu ponto de vista.
- É verdade. Às vezes, me pergunto se me esforço o suficiente.
Ela se virou para olhar para ele, surpresa.
- O que você quer dizer com isso? Você é um dos melhores no que faz.
Ele sorriu, mas não parecia convencido.
- Às vezes, o sucesso pode ser uma prisão, você sabe? As expectativas podem ser sufocantes.
Maya se virou para ele, o café agora pronto. Ela estava começando a ver uma camada mais profunda em Gabriel, uma vulnerabilidade que ele raramente mostrava.
- Você pode se sentir pressionado, mas isso não define seu valor. Ninguém espera que você seja perfeito, Gabriel.
Ele sorriu, mas havia uma tristeza nos olhos dele que a fazia questionar mais do que apenas sua carreira.
- Às vezes, eu só quero ser eu mesmo, sem todas essas expectativas.
Maya serviu o café e caminhou de volta, colocando a xícara na mesa diante dele.
- Então, que tal começarmos a agir como nós mesmos? - sugeriu. - Sem a pressão das máscaras.
Ele a olhou, uma expressão nova em seu rosto.
- Concordo. Vamos fazer isso.
Aquele momento de conexão parecia abrir um novo caminho entre eles, um lugar onde poderiam coexistir sem as tensões habituais. Mas, no fundo, Maya ainda sentia uma inquietação. O que isso significava para o futuro deles? E o que aconteceria quando a fusão finalmente se concretizar?
Mas, por enquanto, ela decidiu se concentrar no presente. Os desafios ainda estavam por vir, mas, de alguma forma, sentia que tinha um aliado inesperado ao seu lado.
Com as ideias alinhadas e um novo entendimento, eles se prepararam para a reunião que se aproximava. Maya não sabia o que o futuro reservava, mas estava disposta a enfrentar o que viesse, mesmo que isso significasse encarar Gabriel Thorne de uma nova forma.