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Após receber a compra, Alana começou a fazer, pela primeira vez em três meses morando sozinha, as tarefas de casa. Se não fosse por sua mania de acompanhar os funcionários, teria sido bem pior. Passadas três horas limpando e organizando a cozinha e os alimentos, ela estava exausta. Foi só então que percebeu a mensagem do pai sobre a foto que havia encaminhado no início do dia: "Olha só, parece que em breve vou receber um jantar especial!".
"Espero que goste de salada e frutas, Sr. Edgar", respondeu em tom de provocação.
Passados dois dias, recebeu a resposta com o agendamento da entrevista. Para Alana, era como se a aprovação já tivesse chegado, e agora só restava assinar o contrato. Mal sabia ela o que significava o passo que estava dando ou as dificuldades que encontraria.
Vestindo uma roupa casual e confiante de que já estaria trabalhando ao final da manhã, Alana entrou na cafeteria com um sorriso despreocupado. Foi recebida por Bárbara, a mesma atendente do dia anterior. Ao ouvir que Alana estava ali para a entrevista, Bárbara a olhou de cima a baixo, avaliando a recém-chegada com incredulidade. Antes de abrir a porta da pequena sala de administração, inclinou-se para dentro e anunciou, em um tom que misturava indiferença e cansaço:
- Carla, a menina da entrevista está aqui.
O espaço era pequeno, mas funcional, capaz de acomodar no máximo quatro pessoas. As paredes brancas eram simples, com apenas por um quadro de cortiça onde horários de turnos, avisos gerais e um calendário de promoções mensais estavam pregados de maneira desorganizada. No centro da sala, uma mesa de escritório simples estava ocupada por pilhas de notas fiscais, pastas, um caderno espiral de anotações e uma garrafa térmica de café. Para Alana, aquele ambiente parecia quase exótico, algo distante de sua realidade até então.
Carla estava sentada atrás da mesa, cercada por papéis. Olhou rapidamente para Alana e indicou a cadeira à sua frente.
- Pode sentar. Qual é o seu nome?
- Alana - respondeu com um sorriso confiante.
Carla procurou o currículo de Alana em meio a uma pilha de outros, deu uma rápida olhada e disse:
- Pelo que percebi, você não tem experiência em nenhum emprego, certo? - perguntou Carla, cruzando os braços, claramente esperando ouvir algo padrão.
- Certo, esta é a primeira vez que procuro emprego - respondeu Alana, inclinando-se levemente para frente, reforçando a empolgação.
Carla levantou uma sobrancelha.
- E por que escolheu a nossa cafeteria?
- É perto de casa e eu adoro café! Achei que seria legal trabalhar aqui - respondeu Alana, despreocupada.
Carla reprimiu uma risada que se formava e manteve o tom neutro.
- E você entende que este é um trabalho que exige rapidez e lidar com pessoas o tempo todo?
- Claro! Não vejo problema nisso. Sempre fui muito sociável.
- Hm, sociável... e quanto à agilidade?
- Não acredito que seja um problema - "afinal, por que seria difícil?"
- Você colocou no seu currículo que sempre esteve em eventos sociais, conhece os melhores lugares para visitar. Talvez devesse procurar algo no turismo, não acha?"
Alana hesitou por um segundo; parecia haver algo de errado com suas experiências.
- Na verdade, não faz diferença. Meu pai decidiu que preciso provar a ele que posso trabalhar na nossa empresa; então, ele me desafiou a encontrar um emprego e me manter sozinha por um ano.
Carla ficou em silêncio por um momento, observando-a em estado de choque, como se tentasse entender o que estava acontecendo.
- Então, seu pai tem uma empresa, e você precisa se manter por um ano em qualquer trabalho? É isso?
- Não, faltam oito meses e meio para acabar o prazo - respondeu Alana com firmeza.
Carla olhou um pouco incrédula, mas realmente não faria muita diferença colocá-la no teste. Considerando que ela era bonita, comunicava-se bem e tinha que manter o emprego, por que não? Ninguém se candidata a essa vaga porque sonha em ficar nessa função; é sempre por necessidade.
- Aqui, o trabalho não é tão glamoroso quanto parece que você imagina, Alana. Você vai ficar em pé por horas, lidar com clientes difíceis sem perder a paciência e, frequentemente, precisará fazer mais do que servir café. Está preparada para isso?
Alana sentiu um frio na barriga, mas manteve o sorriso.
- Sim, estou. Sei que vai ser desafiador, mas estou pronta para dar o meu melhor.
Carla soltou um leve suspiro de puro sarcasmo e fez uma anotação no papel à sua frente.
- O salário é de R$ 1.600 por mês e, caso chegue com mais de cinco minutos de atraso, recebe advertência; três advertências e o contrato é anulado, escala de 6x1. Está bom para você, Alana?
"O quê? Só isso? Quem consegue viver com R$ 1.600,00 por mês? Mas tanto faz, só preciso ganhar tempo."
- Claro! Afinal, o que importa é a experiência - disse com um sorriso nitidamente forçado.
- Vamos ver como você se sai. Seu turno de teste começa amanhã às seis da manhã. Chegue com quinze minutos de antecedência.
Alana assentiu e levantou-se.
- Obrigada pela oportunidade, Sra. Carla. Prometo que não vou decepcionar.
Carla apenas deu um aceno breve, esperou Alana sair da sala e murmurou para si mesma:
- É cada uma que me aparece... - já voltando sua atenção para outro formulário.
No dia seguinte, Alana acordou cedo, superanimada, arrumou-se e chegou no horário solicitado. Primeiro, ela foi apresentada aos colegas, que a trataram com um aceno e nenhuma empolgação. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Carla entregou-lhe uma ficha para preencher com os dados do uniforme e o contrato de trabalho. No entanto, Alana não tinha registro na carteira de trabalho, e logo ficou de resolver o assunto após o turno.
Clarice foi escolhida para treinar Alana; basicamente, as principais atividades eram preparar o ambiente, organizar mesas, receber os clientes e garantir que esperassem o mínimo de tempo possível. Existia uma certa divisão de espaços de atendimento, mas Clarice já avisou que haveria momentos em que essa divisão não seria considerada, já que os clientes são de todos.
Para evitar ao máximo problemas, Clarice explicou todas as situações em que haveria desconto no pagamento. Alana escreveu tudo no bloco de notas do celular. Quando terminou o turno, parecia que o mundo havia ficado maluco. Foi resolver o registro da carteira de trabalho e, quando chegou em casa, comeu qualquer coisa e se aprontou para dormir.
No dia seguinte, seu ânimo já não era o mesmo; ela só queria que aquele pesadelo acabasse. Havia pensado em falar com o pai sobre o novo emprego, mas já não sabia se daria conta; era melhor deixar para esperar um pouco mais antes de contar.
Chegando à cafeteria, já foi recebendo as tarefas e quase não parou para descansar; a pausa de quinze minutos foi como nada. Suas pernas doíam, seus pés também; foi chamada a atenção várias vezes por Bárbara e, Clarice, apesar de ajudar em alguns momentos, também estava muito atarefada. Por sorte, não teve clientes difíceis naquele dia.
Depois de cinco dias de trabalho, Alana estava frustrada e sem ânimo nenhum; parecia que sua vida estava sem sentido e vazia.
Foi quando recebeu a mensagem do pai, avisando que ia visitá-la. Nos últimos quatro meses, eles mal se falaram por telefone, já que Alana se negava por causa da indignação que sentia.
Eram três horas da tarde de sábado; a casa estava uma bagunça, e ela estava muito cansada para arrumar. Decidiu simplesmente deixar como estava.