Capítulo 3 Verdade ou Mentira

Quando o relógio marcou quatro e meia, Alana foi acordada pelo som do interfone; sem perceber, adormecera no sofá da sala. Com o som irritante do interfone, ela se levantou com um movimento brusco, confusa e desorientada. Ao atender, o porteiro avisou sobre a visita de seu pai, pedindo liberação para subir.

Ela se arrastou até a porta, o corpo pesado e os olhos ainda grudados pelo sono. Quando seu pai entrou, a recepção foi sonolenta, quase automática. Alana mal esboçou um sorriso e, ao ver o rosto dele, sentiu um nó na garganta. Não sabia o que esperar.

- Como está minha princesa? - disse ele, entrando devagar. Teve vontade de sair correndo quando percebeu o quão caótico estava o apartamento, nada parecido com um lugar habitável.

Alana bocejou enquanto se espreguiçava, tentando reunir forças para responder. A bagunça da casa, a bagunça de sua mente... tudo parecia se misturar. Ela estava exausta, emocionalmente drenada; com um aceno de mão, indicou que o pai sentasse.

- Estou... tentando - disse, com a voz baixa e desanimada.

Edgar notou o uniforme do café em meio à bagunça da casa.

- Que uniforme é esse?

- Comecei a trabalhar numa cafeteria aqui perto esta semana. Pai! Quem vive com R$ 1.600,00 por mês? - ela respondeu, a irritação surgiu tão rápido quanto um piscar de olhos, transparecendo em seu tom de voz.

Edgar a observou e estendeu os braços. Após alguns minutos de abraço em silêncio, respondeu:

- Filha, a maioria das pessoas sobrevive com muito pouco. Mas me conta como foi sua primeira semana.

- Horrível! Parece que todo mundo é contra mim!

Percebendo que Alana estava prestes a começar com birra, preferiu mudar de assunto.

- Então, que tal irmos jantar no seu restaurante favorito?

Só de pensar em ter que se arrumar e sair, o cansaço voltou com tudo.

- Pai, não estou em condições. Que tal pedir alguma coisa por delivery e comermos aqui?

- Hum... Que seja, então.

Ficaram abraçados em silêncio por um tempo no sofá enquanto esperavam o pedido chegar; parecia que nenhum dos dois tinha o que dizer. Alana nunca havia tido um momento assim antes; aos poucos, foi sentindo uma leveza no corpo e acabou por adormecer.

Edgar, olhando em volta, considerou pedir para uma diarista limpar tudo, mas respirou fundo e decidiu não intervir; se não cumprisse sua palavra, Alana seria a mais prejudicada.

Quando a comida chegou, ele organizou o espaço para o jantar e acordou Alana. Para melhorar o humor da filha, começou a lembrá-la de fofocas que ela contava quando criança. Foi assim que descobriu a conversa que Alana teve com as amigas e não pôde deixar de sentir um aperto no coração; Alana ainda não sabia sobre a confusão em que seu irmão estava metido.

Ao se despedir de Edgar, Alana se sentiu com sorte; pela primeira vez, teve um momento só dela com o pai. Ele estava diferente. Ao respirar fundo, sentiu vontade de fazer alguma coisa para o jantar na próxima vez! Em seguida, sentiu-se mal com a bagunça da casa; a bagunça teria que ficar para o dia seguinte, agora só queria dormir.

O domingo chegou, e Alana foi limpando a casa pela primeira vez; já fazia duas semanas desde que havia pago a diarista da família para limpar, mas se continuasse pagando, provavelmente não conseguiria nem comer direito.

Enquanto organizava tudo, percebeu ter coisas que realmente não sabia por que havia comprado; então, decidiu vender para recuperar algum dinheiro. Ela sentia que valeria a pena deixar seu pai orgulhoso!

Quando menos percebeu, a noite já havia chegado; em outro momento, com certeza iria querer se divertir, mas só de pensar em ter que trabalhar no dia seguinte e que naquela semana estava escalada para trabalhar no domingo, não quis nada a não ser deitar.

Pela primeira vez na vida, Alana considerou seriamente escolher uma área para se especializar: "O que seria importante estudar para cuidar da empresa do papai?

Acordou ao som do despertador e, apesar da vontade de ficar na cama, lembrou-se da visita do pai, sentindo que realmente precisava fazer alguma coisa. Depois de sair para trabalhar, uma angústia profunda a invadiu; parecia que algo estava errado, mas não sabia o quê.

Aquela segunda-feira estava muito agitada e, embora já estivesse perto da hora de ir embora, Alana certamente teria que fazer hora extra. Felizmente, Clarice havia informado que o pagamento das horas extras era feito mensalmente, o que a deixava um pouco mais animada.

Enquanto Alana limpava uma mesa, ouviu vozes conhecidas. Ao levantar a cabeça, viu suas antigas amigas.

- Olha só quem está aqui... Nunca imaginei te ver nessa situação, Alana - disse Camila.

- Nossa, Alana, o uniforme te deixou... diferente. Quase irreconhecível - Lívia não resistiu à provocação.

Alana sentiu o sangue ferver; "o que elas estão fazendo aqui? só pode ser para me provocar", não podia responder de qualquer maneira e também não podia virar as costas como da última vez. "Ok, só preciso fingir que são quaisquer pessoas que entram aqui para tomar um café."

- Boa tarde, esta mesa está disponível. Fiquem à vontade.

Dando espaço para as garotas se sentarem, Alana respirou fundo o mais silenciosamente possível.

Dando espaço para as garotas sentarem, Alana respirou fundo o mais silenciosamente que pode.

- Nossa, como a vida dá voltas, não é mesmo? Lembro de quando a gente só se preocupava com qual bolsa de grife ia usar... - mencionou Lívia, mas foi interrompida por Camila:

- Quem diria que a princesinha dos transportes agora estaria de um lado para o outro com uma bandeja?

Clarice, que observava o que estava acontecendo, achou o comportamento das garotas estranho. Por que se dariam ao trabalho de vir humilhar Alana? Seriam rivais? Alana, com um sorriso forçado, perguntou:

- O que desejam pedir?

- Nossa, Alana, você realmente gostou desse papel, não é? - Camila estava querendo fazer Alana perder o controle, mas não esperava que fosse tão difícil, ela sempre foi muito volátil.

- Será que é porque ser garçonete é o melhor que ela vai conseguir ser agora que perdeu tudo? - mencionou Lívia, que sempre teve inveja da facilidade em que Alana conseguia tudo o que queria do pai.

- Eu posso saber do que vocês estão falando? - Alana chegou ao limite e não pôde conter a raiva.

- Camila, será que ninguém contou para a princesa que ela está falida?

- Não me surpreenderia; provavelmente, ela não sabe que o irmão também é um foragido...

- O quê?!

- Com licença, Alana, alguém vomitou no banheiro feminino; a gerente mandou você ir limpar.

Clarice era a responsável pelo treinamento de Alana e, se acontecesse qualquer problema, poderia ser prejudicada; então, decidiu intervir antes que as coisas piorassem.

Alana simplesmente foi pegar as coisas para limpar o banheiro, já que Clarice mencionou que era uma ordem da gerente, mas, quando chegou lá, o banheiro estava em ordem. Foi então que percebeu que Clarice estava ganhando tempo para ela. Respirou fundo várias vezes antes de conseguir raciocinar. Não importava o que acontecesse, não podia entender nada enquanto estivesse em horário de trabalho; para não prejudicar Clarice, decidiu fazer uma geral nos banheiros e, depois, foi ajudar na limpeza de outras áreas.

Como o dia estava movimentado, as garotas não tiveram espaço para continuar provocando; então, foram embora. Finalizado o expediente, Alana foi agradecer a Clarice pela ajuda, e esta a advertiu a tomar cuidado, porque as garotas poderiam voltar outro dia e ela não poderia ajudar sempre.

Voltando para casa, Alana ligou para seu pai; após alguns minutos, ele atendeu.

- Pai?!

- Oi, minha princesa! Você me ligando... está tudo bem?

- Hm... Estou bem; foi um dia agitado na cafeteria, e meus pés não aguentam mais o corpo.

Alana estava hesitante em perguntar sobre o que estava acontecendo, mas, apesar de as garotas serem provocativas, elas costumavam provocar com temas que seriam irrefutáveis, pois gostavam de ter razão; as únicas do grupo que não faziam muita questão dessa atitude eram ela e Alice.

- Eu te entendo, mas, no meu lugar, são as costas, hahaha.

Depois de tantas notícias ruins, receber um telefonema de Alana era realmente um presente; e ainda falando de uma experiência em comum. Edgar só gostaria que fosse em situações diferentes, seria mais gratificante.

- Papai, por que não marcamos um jantar com o Julian? Faz tempo que ele não me manda mensagem.

Nesse momento, Edgar sentiu a cabeça latejar.

- Hm, faz tempo que não ouço falar do Julian e já tentei entrar em contato; parece que ele não quer atender.

- Bom, se ele não quer aparecer, ninguém vai fazê-lo aparecer.

- É o que parece... Mas eu estou disposto a um jantar. Não vamos pedir um delivery de novo, vamos?

Alana não pôde evitar dar risada da provocação.

- Bom, isso vai depender do dia do jantar, mas eu posso pensar em cortar umas frutas e fazer uma salada.

Ela devolveu a provocação na mesma medida.

- Hahahaha! Acho que alguém realmente não gostou da minha sugestão de dieta.

- Como é que eu poderia? A propósito, estou pensando em estudar alguma coisa para poder te ajudar na empresa. Você tem alguma sugestão?

Se fosse em outro momento, essa também teria sido uma alegria para Edgar, mas a empresa estava no fundo do poço; ele não poderia sugerir nada a Alana que estivesse relacionado ao negócio.

- Bom, vou verificar em que departamento estamos com maior espaço de contratação e te aviso.

Se você gostar de alguma área, podemos trabalhar a partir disso.

- Tudo bem! Eu amo falar com você, mas estou muito cansada e quero dormir.

- Bom descanso!

- Obrigada, e você também vá descansar logo.

- Entendido.

Após terminar a ligação, os dois suspiraram profundamente: Edgar, por exaustão, e Alana, por um pressentimento ruim.

                         

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