O sal ainda ardia em sua pele. O vento da praia, que entrava pelas dobras do vestido molhado, deixava seus cabelos negros desgrenhados, grudados no rosto, e com aquele cheiro de maresia que ela tanto gostava. Marina estava no seu restaurante de sempre - o dos amigos Leo e Luis - com uma toalha no ombro, sandálias na mão e aquela deliciosa sensação de liberdade que só vem quando você sai da água.
Às vezes, seu olhar se desviava para algum barco distante, mas logo retornava para as mãos daquele homem. Inquieta, ela olhou para baixo e apertou os olhos; sentiu seu olhar sobre ela. Num ato de bravura, ela procurou os olhos dele, apenas para confirmar o que sua pele já estava gritando.
O lugar era perfeito para se perder nas paisagens. Era uma churuata, mas não qualquer uma. Tinha um telhado feito de grossas toras de madeira que sustentavam uma estrutura sólida, coberta com telhas rústicas de cor terracota que se destacavam à luz do sol. Não tinha paredes, apenas a sombra generosa oferecida pelo telhado e um piso de cerâmica terracota que retinha o calor do dia. Ficava bem na beira do mar, o que permitia que o som das ondas, o cheiro do sal e a brisa do mar fossem partes essenciais da experiência.
Marina escolheu uma das mesas mais próximas da borda, de onde podia ver o movimento das ondas e sentir o vento quente acariciando sua pele. Ela sentou-se sozinha, como fazia tantas vezes. Aquele lugar era quase uma extensão de sua casa, um refúgio da rotina, onde ele sempre sabia o que esperar: uma refeição saborosa, um papo com os amigos quando podiam sentar um pouco, e seu momento de paz em frente ao mar.
De qualquer ponto do restaurante era possível ver o oceano se estendendo como uma promessa sem fim. Barcos de diversos tipos e alguns cais completavam a paisagem. Tudo era aberto, natural, envolto em luz dourada. Só que dessa vez a paisagem que ele tanto apreciava tinha um primeiro plano que capturou toda a sua atenção: um homem, um policial.
Naquela tarde, a rotina foi quebrada.
Poucos minutos depois de se sentar, com água salgada ainda pingando na cadeira de plástico, uma sombra foi projetada sobre a mesa. Ela olhou para cima... e lá estava ele.
Um homem alto - muito alto, ela pensou - com um uniforme azul imaculado e uma presença que fez todo o restaurante desaparecer ao seu redor por um momento. Ele estimou que ele tinha cerca de dois metros de altura, talvez um pouco mais. O uniforme lhe caía perfeitamente: destacava ombros largos, braços grossos e peludos e um porte que parecia saído de um filme. Mas não era ficção. Estava ali, na frente dela.
-Este lugar está ocupado? - perguntou ele com uma voz profunda e clara, e com um tom respeitoso que a desarmou imediatamente. Só quero tomar uma bebida rápida, se não se importar.
Marina hesitou por meio segundo, não por desconforto, mas por surpresa. Em tantos anos frequentando aquele restaurante, nunca um estranho - muito menos um como ele - pediu para sentar à sua mesa. Era uma cena nova. Inesperado. E profundamente agradável. Principalmente se o resto das mesas estivessem vazias.
"Não, claro que não", ela respondeu com um sorriso tímido e um nó curioso no estômago. Avançar.
Ele sentou-se cuidadosamente, como alguém que sabe que está ocupando espaço e não quer invadir. Seus movimentos eram calmos, controlados, mas ainda firmes. De perto, Marina conseguia perceber ainda mais detalhes. Ele tinha pele clara, dourada pelo sol, com grossos cabelos castanhos cobrindo seus braços e aparecendo pela gola da camisa. Ele tinha um corpo forte e sólido. Ele devia pesar pelo menos cem quilos. Cem quilos de pura presença.
E então ele viu o rosto dela.
Os olhos. Verdes. Incrivelmente verdes, como se contivessem uma história ainda a ser contada. Ele tinha sobrancelhas grossas e masculinas que emolduravam seu olhar com intensidade. Um pescoço firme e masculino, e lábios carnudos que completavam aquela expressão entre séria e serena, o que provocava um pequeno incêndio interno.
Ela, encharcada, com o vestido molhado grudado no corpo, os cabelos ainda pingando, sentiu por um momento que não poderia estar pior. Mas ele olhou para ela como se ela fosse a imagem mais bonita da tarde.
E o que mais a cativava, o que a fazia engolir em seco, era aquela deliciosa mistura de elegância e cavalheirismo, reforçada pelo azul do uniforme. Um uniforme que em qualquer outro poderia ser intimidador, mas que nele o fazia parecer tão atraente, tão provocativo. Como se a seriedade do dever estivesse revestida de desejo.
-Você vem aqui com frequência? "Eu nunca vi você antes", ele perguntou, com aquela voz profunda, mas gentil.
"Ele costumava vir com frequência", ela respondeu, deixando seu sorriso falar mais alto que sua voz. Mas já faz sete meses que não venho aqui.
Ele ergueu as sobrancelhas, curioso.
"Que coincidência..." ele disse pensativo. Estou na sede da polícia na praia, bem aqui, há exatamente sete meses. Fui transferido para esta área e desde então trabalho a poucos metros deste lugar.
Os dois ficaram em silêncio por um momento. Não era preciso dizer em voz alta: algo os mantinha separados, como se o universo estivesse esperando por esse exato momento para uni-los.
Eles conversaram por um longo tempo. Mais tempo do que ela havia planejado ficar. Ele contou a ela sobre seu trabalho, sua paixão pelo mar, o quanto gostava de trabalhar perto da costa, mesmo que o uniforme às vezes fosse um fardo. Ela lhe contou sobre seu trabalho como escritora, seu amor pela tranquilidade, pela arte, pelos pequenos detalhes.
A conversa fluiu facilmente, como se eles se conhecessem antes. Seus olhares se entrelaçavam com cada vez menos dissimulação. A tensão era doce, mas clara.
Marina aproveitou o momento, com medo de que algo o interrompesse. Embora, de fato, ela estivesse sendo observada. Antonio, que sempre se interessou por ela, aproximou-se e sentou-se à sua frente. Felizmente, não por muito tempo.
Antonio era um homem trabalhador, atencioso, amoroso... e ciumento. A presença de Javier na mesma mesa que a mulher que ele amava silenciosamente não lhe caía bem. Marina percebeu isso imediatamente.
Javier se levantou e, com uma expressão amigável, perguntou se poderia levá-la para tomar café da manhã. O nervosismo a deixou sem palavras por um segundo. Ele pensou rápido: Se eu aceitar, Antonio vai ficar chateado.
Então ele disse não.