Preso por Atração
img img Preso por Atração img Capítulo 4 Ao longo da costa
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Capítulo 6 Entre o dever e o desejo img
Capítulo 7 Onde o orgulho dói img
Capítulo 8 Limite de controle img
Capítulo 9 Onde ninguém olha img
Capítulo 10 Meias verdades img
Capítulo 11 Uma trégua inesperada img
Capítulo 12 O que resta depois img
Capítulo 13 A verdade em uma imagem img
Capítulo 14 O refúgio inesperado img
Capítulo 15 Onde o depois começa img
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Capítulo 4 Ao longo da costa

Javier tentou escrever para ela mais vezes do que conseguia admitir. Eu abria o chat, escrevia algo e apagava. Eu reescrevi, li e duvidei. E assim seu tempo passou entre turnos de patrulha e silêncios cheios de desejo. Eu queria vê-la. Eu queria saber mais sobre aquela mulher de olhar honesto e sorriso espontâneo. Mas ele não ousou.

Ela faz.

Certa tarde, enquanto organizava seu uniforme recém-lavado, ele recebeu uma mensagem que o perturbou e o entusiasmou em igual medida:

"Quer dar uma volta comigo pela costa esta tarde? Nada formal. Só você, eu e um pouco de brisa."

Ele não esperava por isso. Ele sorriu como se alguém tivesse aberto uma janela para ele justamente quando ele estava com falta de ar. Ele trocou de roupa às pressas, escolhendo uma camisa leve e calças de cor clara. Ele guardou o telefone, ainda sem resposta, e foi até o shopping.

Marina o esperava perto do supermercado, bem no estacionamento do shopping. Este não era o tipo de lugar que Javier esperava encontrá-la. Mas, à medida que se aproximava, ele percebeu que qualquer lugar seria perfeito se isso significasse passar mais tempo com ela.

A luz da tarde caía suavemente sobre o local, pintando as paredes do shopping com tons quentes. A brisa não era tão forte quanto na costa, mas ainda estava carregada da mesma essência salgada. Em frente ao supermercado, Marina estava parada, encostada na beirada de um muro, observando distraidamente os carros passarem.

Quando a viu, Javier parou por um momento. Ela usava uma camiseta clara sem mangas e shorts que destacavam suas pernas bronzeadas. O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo alto, e seu sorriso, enquanto ela o observava se aproximar, era mais brilhante que o sol surgindo no horizonte.

"Olá, policial", ela disse, com um sorriso divertido, mas genuíno. Estamos indo embora?

"Claro", ele respondeu, com um toque de nervosismo que não conseguia esconder.

Eles se cumprimentaram rapidamente, mas não foi a típica saudação cordial. Havia algo no ar, uma conexão que ambos sentiam sem palavras.

Eles começaram a caminhar pela rua que circundava o shopping. Pessoas passavam, algumas famílias saindo da loja, outras caminhando sem rumo. O calor da tarde refletia-se nas janelas dos carros estacionados, e o som da cidade - longe do ritmo tranquilo do mar - estava presente: o murmúrio das vozes, o som distante de um rádio, o rugido constante dos motores.

Marina caminhava ao lado de Javier, mas seus passos não eram apressados. Era uma caminhada calma, quase relaxada, como se não tivessem pressa de chegar a lugar nenhum.

-Como você tem estado? "Ela perguntou, quebrando o silêncio que havia se instalado entre eles.

"Tudo bem", respondeu Javier, embora por dentro sentisse que tudo estava acontecendo diferente do que ele havia planejado. De alguma forma, tudo parecia mais natural.

"Isso é ótimo", ela disse, sorrindo enquanto olhava ao redor. Tenho estado ocupado. Entre trabalho e alguns assuntos pessoais, não tenho tido muito tempo para aproveitar essas caminhadas.

Javier não conseguia parar de olhá-la, admirando o modo como ela se movia, como se nada nem ninguém pudesse perturbar sua paz. Naquele momento, parecia que o mundo girava em torno deles dois, mesmo que a agitação da cidade não desaparecesse.

De repente, Marina deu um passo à frente e se moveu um pouco, enquanto Javier a observava. Ela olhou para ele e, ao chegar a um cruzamento, virou-se rapidamente, ficando de costas para ele. Javier percebeu como sua figura se formava no ar, como ela se esticava levemente, como se ele estivesse se rendendo ao momento. Ele não pôde deixar de olhar para ela, apreciando sua silhueta contra a luz do pôr do sol.

Marina, com um sorriso travesso, virou o rosto para ele, deixando que seus olhares se encontrassem num olhar que, por um momento, pareceu carregado de promessas não ditas. Então, como se não tivesse feito nada fora do comum, ele voltou a andar, mas dessa vez com passos mais suaves e pronunciados.

Javier engoliu em seco, a tensão entre eles crescendo sem que nenhum dos dois mencionasse. O ar ainda estava carregado de eletricidade. Eles não poderiam continuar andando daquele jeito para sempre, ele pensou. Algo tinha que acontecer. Eu não sabia se era a hora, mas não pude deixar de desejar que fosse.

Chegando a um pequeno parque próximo, eles se sentaram em um banco de madeira, em um canto tranquilo. O sol já começava a se pôr e o céu ganhava tons avermelhados. As luzes do shopping estavam começando a acender, mas o ambiente permanecia tranquilo, com poucas pessoas circulando.

"Este é meu lugar favorito na cidade", disse Marina, olhando para o horizonte. Às vezes venho aqui só para pensar.

-O que te faz pensar? - perguntou Javier, intrigado.

Marina suspirou e olhou para ele, dessa vez com olhos mais suaves, como se estivesse procurando uma resposta que não conseguia expressar em palavras.

-A vida em geral. Os pequenos coisas. As pessoas. Às vezes sinto que tudo acontece tão rápido, que não nos damos tempo para aproveitar o que realmente importa. Como este momento, por exemplo. -Ela fez uma pausa e olhou-o diretamente nos olhos-. A vida não precisa ser tão complicada.

Javier assentiu, sem palavras. Era uma conversa simples, mas com um peso que ele sentia no fundo do peito. Afinal, eles se cruzaram em um momento que parecia saído de um filme, um momento em que tudo de repente fez sentido.

O silêncio entre eles não era mais constrangedor. Era algo bastante natural, cheio de uma expectativa que era sentida a cada passo, a cada olhar.

Marina quebrou o silêncio, dessa vez com uma pergunta que o fez corar levemente.

-Você gostaria de nos ver novamente?

A questão estava lá, pairando no ar entre eles. Javier não hesitou. Ele assentiu, seu sorriso mais genuíno do que nunca.

-Claro. Eu adoraria.

Ela olhou para ele por mais um momento, como se estivesse avaliando a sinceridade daquela resposta. Então ele baixou um pouco a voz, sem perder a calma.

"Eu também não tenho ninguém", ele disse, olhando para o chão por um segundo antes de olhar para cima novamente. Estou sozinho... Podemos nos encontrar novamente. Pelo menos estamos juntos.

Javier olhou para ela com uma mistura de ternura e admiração. Ele não tinha certeza do que o comovia mais: sua honestidade, sua beleza simples ou a maneira natural com que ela o deixava entrar em seu mundo.

E assim, enquanto a tarde se tornava azul e laranja, não houve promessas nem declarações grandiloquentes. Apenas uma certeza era compartilhada entre eles: a vontade de caminhar juntos, mesmo que fosse apenas um trecho da estrada.

            
            

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