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Capítulo 2 Dois

Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim.

- Puta que pariu. - Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. - Como trabalharei 08h00 de relógio assim?

Trabalhando. Penso.

-Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. - Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz.

Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo.

Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas.

Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas.

Isso ele não me contou.

Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa "COORDENAÇÃO", olho para a sala da direita e vejo escrito "GERÊNCIA DO PROSTÍBULO". Parecia uma piada ler algo assim.

Eu poderia rir se a porta da gerência não se abrisse de repente e uma loira de meia-idade toda elegante, usando um conjunto de terno tubo listrado preto e branco aparecesse em minha frente.

-Até que enfim, pensei que você havia se perdido. - A sua voz não era de uma pessoa chateada, mas sei lá, eu não a conheço, por isso, sem querer, fico na defensiva.

- Desculpa, eu não imaginei que o corredor fosse tão longo. - Logo que falei isso, me arrependi.

Ela pode pensar que estou dando desculpas. Cogitei com raiva de mim em ter dado essa mancada. Mas, ela apenas sorriu com diversão no olhar. Quase respirei aliviada.

- É, nem me fale. Entre, conversaremos um pouco... Beatriz, não é?

- Sim, Ana Beatriz. - Respondo entrando na sala. - É um prazer conhecê-la, senhora Cláudia. A Lourdes me contou muito sobre a senhora.

- Lourdes aquela linguaruda. - Rir ao dizer. - Sente-se querida.

A sala era bem estreita, mas confortável, só havia uma estante de livros com poucos livros disposto na mesma e a mesa de escritório com duas cadeiras.

- Senhora Cláudia, a Lourdes me explicou um pouco sobre o trabalho que farei aqui...

- Ela explicou serem apenas diárias? - Afirmei com a cabeça. - A menos que queira mudar de profissão. Você é linda, gostosa.

Onde é que ela está vendo isso? Questionei-me envergonhada.

- cheia de carne.

Nisso ela tem razão! Torno a pensar escondendo minha insatisfação com esse detalhe sobre meu corpo.

- Do jeito que os homens aqui gostam. - Arregalei os meus olhos, assustada com suas palavras.

- Senhora, eu...

- Calma menina, quem olha esse nervosismo todo pensa até que você é virgem. _l- Voltei a arregalar meus olhos. - Ah! Não acredito! __ Ela exclamou surpresa. - Não me diga que você realmente é virgem. - A senhora começou a rir de mim a ponto de perder o fôlego.

Como ela chegou a essa conclusão? Não falei nada.

- Você não sabe nem disfarçar. - Diz com ironia no tom de sua voz. - Não me diga que decidiu esperar? - Questionou-me rindo.

- Eu...

Eu nem sabia o que falar, a vontade que eu tinha era em ser grosseira, dizer-lhe em alto e bom som um não te interessa, mas estou precisando do serviço, então não podia fazer isso.

Nunca que imaginei que seria motivo de riso de alguém só porque sou virgem.

Puta que pariu, devia era ter ficado calada.

- Isso nunca foi a minha preocupação, senhora. - Respondo me sentindo ofendida e envergonhada em simultâneo, pois a mesma ainda esperava uma resposta minha.

- Calma querida, não estou debochando de você, estou rindo porque achei graça essa situação.

- Situação? Não entendi! - Retruquei sincera.

- Nesse instante um dos clientes me pediu uma virgem e você aparece. Ele quer pagar meio milhão, topa?

- Eu não! - Respondi rápido a fazendo rir mais uma vez. - Vim trabalhar de camareira, apenas. Ela estava para me responder alguma coisa, mas alguém bate a porta a impedindo e eu respiro aliviada.

- Entre! - Ela avisou com sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção da mesma. - Diga Carla. - Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia está cansada e assustada.

Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra.

Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez.

- Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. - Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora.

Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida.

- Agora?

- Sim! Com urgência.

- Ok, já estou indo. - A senhora Cláudia balançou a cabeça em negativo e se levantou visivelmente irritada. - Beatriz, me aguarde uns instantes que já volto.

- Sim, senhora!

- Senhora? Melhore, viu? - Volta a rir e sai da sala ainda com o semblante aborrecido.

Assim que ela saiu com a moça chamada Carla, voltei a respirar aliviada.

Minha mãe nunca que me deixaria trabalhar aqui, nunca. Suponho que por isso a voz em minha cabeça tema em dizer ser errado. Agora, se essa voz colocasse comida na mesa para me alimentar e alimentar meu irmão, eu já teria escutado ela.

O tempo foi passando lentamente e nada da senhora Cláudia voltar. Tirei meu celular da bolsa e olhei as horas. Já era um pouco mais de uma da manhã.

Será que ela não vai me deixar trabalhar hoje?

- Meu Deus! Como voltarei para casa? Andando eu não terei condições. - Gemi angustiada com meus pensamentos negativos.

- Me perdoe pela demora Beatriz, voltei. - Dona Cláudia surge vindo de trás da estante de livro que só agora notei ser uma porta falsa. Quase pulo da cadeira pelo susto.

- Misericórdia dona Cláudia, quase morri do coração.

- Ô querida, desculpa, não foi a minha intenção te assustar. Só quis usar um atalho, não imaginei que te assustaria. Vim da cozinha e quando venho de lá para minha sala, uso esse atalho.

As palavras dela pareciam uma desculpa de última hora e me fez cogitar se a saída dela não foi uma estratégia para ela me testar, talvez julgando que eu fosse roubá-la.

Atrás da mesa dela tem um vidro enorme. Pode ser um espelho falso, em minha faculdade tem, então não duvido nada que aqui também possa ter. Minha mente fica cheia de ideias.

Ignorando os meus pensamentos, limpei a minha garganta, esperei dona Cláudia se acomodar em seu assento, só então voltei a falar.

- A senhora está bem? Parece nervosa.

- Estou sim, não se preocupe.

- Senho... Dona Cláudia?

- Sim?

- Desculpa a pergunta, mas quero muito saber se a senhora irar querer os meus serviços hoje?

- Por quê? Não poderá ficar?

- Pelo contrário, preciso e muito dessa diária.

- Quero sim! __ Ela volta a sorrir. - Contudo, antes quero conhecê-la. Já sei que você é virgem, quero saber o resto. - Sorriu envergonhada não sabendo onde enfiar a cara.

- O que a senhora quer saber? - A questiono limpando a garganta outra vez.

- Tudo! - Ergo as minhas sobrancelhas.

Nunca vi isso, estou fazendo uma entrevista em uma casa de prostituição e ainda tenho que contar a minha vida toda...

Aff!

- A senhora precisará perguntar, não tenho muito o que contar. - Aviso.

Sou péssima quando se trata de falar sobre mim.

            
            

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