MINHA PRECIOSA
img img MINHA PRECIOSA img Capítulo 3 Três
3
Capítulo 6 Seis img
Capítulo 7 Sete img
Capítulo 8 Oito img
Capítulo 9 Nove img
Capítulo 10 Dez img
Capítulo 11 Onze img
Capítulo 12 Doze img
Capítulo 13 Treze img
Capítulo 14 Quatorze img
Capítulo 15 Quinze img
Capítulo 16 Dezesseis img
Capítulo 17 Dessete img
Capítulo 18 Dezoito img
Capítulo 19 Dezanove img
Capítulo 20 Vinte img
Capítulo 21 Vinte e Um img
Capítulo 22 Vinte e Dois img
Capítulo 23 Vinte e Três img
Capítulo 24 Vinte e Quatro img
Capítulo 25 Vinte e Cinco img
Capítulo 26 Vinte e Seis img
Capítulo 27 Vinte e Sete img
Capítulo 28 Vinte e Oito img
Capítulo 29 Vinte e Nove img
Capítulo 30 Trinta img
Capítulo 31 Trinta e Um img
Capítulo 32 Trinta e Dois img
Capítulo 33 Trinta e Três img
Capítulo 34 Trinta e Quatro img
Capítulo 35 Trinta e Cinco img
Capítulo 36 Trinta e Seis img
Capítulo 37 Trinta e Sete img
Capítulo 38 Trinta e Oito img
Capítulo 39 Trinta e Nove img
Capítulo 40 Quarenta img
Capítulo 41 Quarenta e Um img
Capítulo 42 Quarenta e Dois img
Capítulo 43 Quarenta e Três img
Capítulo 44 Quarenta e Quatro img
Capítulo 45 Quarenta e Cinco img
Capítulo 46 Quarenta e Seis img
Capítulo 47 Quarenta e Sete img
Capítulo 48 Quarenta e Oito img
Capítulo 49 Quarenta e Nove img
Capítulo 50 Cinquenta img
Capítulo 51 Ciquenta e Um img
Capítulo 52 Ciquenta e Dois img
Capítulo 53 Ciquenta e Três img
Capítulo 54 Ciquenta e Quatro img
Capítulo 55 Ciquenta e Cinco img
Capítulo 56 Ciquenta e Seis img
Capítulo 57 Ciquenta e Sete img
Capítulo 58 Ciquenta e Oito img
Capítulo 59 Ciquenta e Nove img
Capítulo 60 Sessenta img
Capítulo 61 Sessenta e Um img
Capítulo 62 Sessenta e Dois img
Capítulo 63 Sessenta e Três img
Capítulo 64 Sessenta e Quatro img
Capítulo 65 Sessenta e Cinco img
Capítulo 66 Sessenta e Seis img
Capítulo 67 Sessenta e Sete img
Capítulo 68 Sessenta e Oito img
Capítulo 69 Sessenta e Nove img
Capítulo 70 Setenta img
Capítulo 71 Setenta e Um img
Capítulo 72 Setenta e Dois img
Capítulo 73 Setenta e Três img
Capítulo 74 Setenta e Quatro img
Capítulo 75 Setenta e Cinco img
Capítulo 76 Setenta e Seis img
Capítulo 77 Setenta e Sete img
Capítulo 78 Setenta e Oito img
Capítulo 79 Setenta e Nove img
Capítulo 80 Oitenta img
Capítulo 81 Oitenta e Um img
Capítulo 82 Oitenta e Dois img
Capítulo 83 Oitenta e Três img
img
  /  1
img

Capítulo 3 Três

- Comece me contando a sua idade e como conheceu a Lourdes.

- Ah! Sim... Bem, tenho vinte e quatro anos...

- Novinha ainda. - Ela diz recostando em sua cadeira me encarando pensativa. Ignorando a vontade de desviar os olhos, voltei a falar.

- Eu e a Lourdes fazemos aula na mesma faculdade, na UFBA. Ela Ciências Sociais e eu fisioterapia. - Entortei a boca escondendo a minha contrariedade.

- Não gosta do que faz?

- Como assim?

- Não quer ser fisioterapeuta?

- Para dizer a verdade, eu quero mesmo é estudar moda, quem sabe um dia focar na moda plus size. Observo o empenho da indústria têxtil diante a inclusão de pessoas gordas na moda, contudo, há um longo caminho a ser trilhado. Espero um dia trilhar-lo.

- Por que não faz?

Sério que ela me fez essa pergunta? Não é óbvio?

- Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu.

E como uma pessoa que nem tem condições em comprar roupas decentes fará moda? Questionei-me em pensamento.

Quero ser uma, "design", ditar a moda, criar roupas que todos queiram usar, mas parece um sonho tão grande para mim.

Sim, eu poderia começar costurando, colocando meus desenhos em prática, mas tecido está caro, eu não tenho condições e Mainha nunca tinha o suficiente, então deixei esse sonho de lado.

- Ah! Você fez pelo Enem.

- Sim, não tenho condições de pagar uma faculdade. - Digo com pesar.

- Entendo! - Ela fica em silêncio e eu me sinto no dever de quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós.

- Eu e Lourdes fazemos... Quero dizer, fazíamos a aula de saúde pública juntas, no início eu e ela nos sentíamos deslocadas, ela por ser a mais velha e eu por ser a única negra cotista na sala. Nós meio que criamos uma proximidade e ficamos amigas. Ela só me contou ser uma... - Calo-me sem saber como continuar.

- Uma puta aposentada? Não tenha vergonha em falar Beatriz, a Lourdes não tem.

- Sei disso, ela sempre falava abertamente, mas confesso que no início pensei que fosse brincadeira dela. - Rir ao lembrar de minha cara quando ela afirmou ser verdade. - Eu nem acreditei de início. - Confessei ainda sorrindo.

- Imagino. - Ela rir também. - Mas, me diga, você realizar as diárias aqui, não vão te atrapalhar nos estudos?

- Não, eu tranquei, estou no último ano, talvez consiga terminar ano que vem. - Eu nem acreditava em minhas palavras, sinto que nunca mais estudarei.

- Mas porque isso menina?

- Perdi a minha mãe a seis meses, ela tinha câncer, fiquei com a guarda de meu irmão, ele só tem nove anos, meu pai também é falecido, então fiquei com a responsabilidade de cuidar dele e da casa. Serviço está difícil, não sei mais o que fazer, então falei com a Lourdes e pedir ajuda.

- Você queria trabalhar como puta? - Afirmei com a cabeça, sentindo-me sem graça e ela me olhou surpresa.

- Mas a Lourdes disse que antes eu poderia tentar outra coisa, talvez limpeza, ou camareira. Admito que fiquei bastante aliviada. Eu sempre fui uma menina centrada nos estudos, nunca fui de me importar com sexo, minha mãe dizia: Bea, só abra as pernas para um homem que te faça se arrepiar da cabeça aos pés, se te fazer arrepiar, pode te fazer gozar. Nunca encontrei essa pessoa, então não liguei muito.

E ainda não ligo.

Porém, isso não digo em voz alta, ela não precisa saber que tenho uma baixa auto estima que só fez piorar no decorrer dos anos, às vezes eu me sinto uma mulher assexuada, não sinto atração por ninguém, nem mesmo me tocando sinto algo.

Só pode ter algo errado em mim, só pode! Mas, dona Cláudia não precisa saber disso também.

- Você cogitou em se entregar por dinheiro? - A voz dela me traz de volta a realidade.

- Isso vai contra tudo que a minha mãe me ensinou, mas pelo meu irmão, eu faria, ele é mais importante que qualquer coisa.

- Você é tão novinha, querida, deveria estar estudando, curtindo, transando muito por aí.

- Eu não sou assim dona Cláudia, sou careta demais, não sei flertar. Acredito que me perdi no tempo, perdi meu tempo de juventude.

- Credo, garota, você fala como se fosse uma velha. - Riu sabendo que ela está certa.

- Agora sou mãe dona Cláudia, irmã e mãe.

- Isso não quer dizer que você tem que se descuidar. Acredite, você ainda pode fazer a faculdade que quer, conhecer alguém e ainda cuidar de seu irmão, positividade sempre. - Diz levantando às duas mãos para o céu e rindo.

Diferente de mim, ela age mais como jovem do que eu.

- Ultimamente não tenho sido muito positiva, a realidade me pegou em cheio.

- Otimismo é tudo! Agora chega desse negativismo, ficarei de olho em meus contatos, se eu souber de algum emprego te digo.

- A senhora faria isso? - Perguntei com um largo sorriso surpresa por suas palavras. Sorrir com alívio pela primeira vez após meses.

- Claro, gostei muito de você! Agora venha, ela se levanta e eu a imito. - Vou te mostrar o lugar. - Afirmei. - Hoje quero que você apenas limpe às duas suítes principais.

- E como faço quando os clientes tentarem algo comigo? - Perguntei não escondendo o meu medo.

- Eles são avisados para não tocar nas domésticas daqui.

- E eles o fazem?

- Às vezes eles tentam algo, mas se acontecer você chuta as bolas dele e me avisa para eu tomar providências.

- Certo, farei isso!

- Olhe, às duas suítes serão ocupadas hoje, mas os cavaleiros vão demorar um pouco, estão em uma reunião muito importante. Um deles é muito exigente, gosta de tudo certo, então você limpa o quarto dele primeiro.

- Certo! Hum! Aqui também é hotel?

- Mais ou menos, a maioria dos clientes vem, faz a putaria e vai embora, mas os senhores, os clientes em questão, às vezes gostam de marcar suas reuniões de negócio aqui, então quando isso acontece, ele pede o local só para ele e seus acompanhantes. Ele sempre paga muito bem, muito bem mesmo.

- Ele deve ser bem rico. - Comentei acompanhando ela que saia pela porta que entramos a pouco.

O cara deve ser um velho gordo e asqueroso. Penso não freando a minha cara de nojo. Ainda bem que dona Cláudia está andando na frente e não viu.

- Rico? Esse homem transborda dinheiro. - Ela para de andar e me fita. - Um gostoso que transborda dinheiro.

Sei! Volto a pensar não acreditando nas palavras dela. Ela parece exagerar um pouco... Sei lá.

- Qualquer dúvida você me fala, tudo bem?

- Sim, senho... - Ela me encara séria e eu me calo. - Desculpa, esqueço. - Sorriu envergonhada pela quinta, décima vez? Nem sei mais. - Agradeço dona Cláudia, pela oportunidade.

- Por nada menina, te ajudarei no que eu puder.

Quando Lourdes me contou sobre dona Cláudia, avisou que ela é uma ótima pessoa, eu fiquei na dúvida, acredito que pelo preconceito de ela ser uma espécie de cafetina e eu assisto a muitos filmes para tirar a conclusão que essas pessoas são más, contudo paguei com a minha língua, ela não me parece uma má pessoa.

Tirando a parte que ela riu de mim por ser virgem, não tenho do que reclamar.

Ela prometeu tentar me ajudar e eu acredito, acredito de verdade, mesmo que ela não consiga fazer muito por mim.

Afirmei com a cabeça para dona Cláudia e sorriu aliviada, sabendo que no outro dia teria dinheiro para comprar algo para Levi comer. Só esse pensamento renovou todas as minhas forças.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022