No histórico de mensagens, um contato identificado como "senhora Shaw" havia enviado uma proposta direta: "Me ajude a fazer Ashley sumir, e eu quitarei suas dívidas, além de te dar um milhão extra."
"Como posso saber que você cumprirá sua promessa?", o motorista do carro respondeu.
"Sou a esposa de Kristian Shaw. Um milhão não é nada para mim", dizia a resposta da "senhora Shaw".
O motorista respondeu cautelosamente: "Vou confiar em você desta vez. Mas se você voltar atrás, não hesitarei em fazer um escândalo no Grupo Shaw! Me envie uma foto dela."
Logo em seguida, a tal "senhora Shaw" enviou uma imagem e acrescentou uma última instrução: "Não deixe rastros."
Freya devolveu o celular, mantendo a expressão impassível. "É só isso?"
Kristian a observou atentamente, buscando algum sinal de nervosismo ou culpa, mas não encontrou nenhum. "Sim."
"Não fui eu. Com seus recursos, não deveria ser difícil rastrear quem está por trás dessa conta."
"A conta é nova. Sem verificação de identidade", Kristian respondeu, sua voz com um toque de frieza.
"Então rastreie o IP de login", Freya sugeriu, sem hesitar.
Kristian franziu ligeiramente as sobrancelhas enquanto ainda a observava.
Nos anos em que estiveram juntos, Freya sempre o deixara lidar com os detalhes mais técnicos e complexos, nunca demonstrando esse tipo de perspicácia.
No entanto, agora, ela falava com uma confiança que ele não esperava.
"Não vai me dizer que o IP está oculto, não é?", Freya perguntou quando o silêncio dele se prolongou demais.
Em vez de responder, Kristian deu uma ordem: "Gerard, peça ao departamento de tecnologia para rastrear todos os IPs de login vinculados a essa conta."
"Entendido", Gerard respondeu, pegando o celular antes de sair do quarto, aliviado por escapar da tensão crescente.
Ainda com os olhos cravados em Freya, Kristian questionou: "Tem certeza absoluta de que não foi você?"
Desde o momento em que viu as mensagens, ele teve certeza de que Freya era a responsável, pois ultimamente tudo sobre ela contradizia a impressão anterior que ele tinha dela.
Apesar de nunca ter se importado muito com dinheiro antes, ela exigira uma quantia exorbitante durante o divórcio.
De gentil e discreta, Freya se tornara afiada e implacável.
Isso o fazia se questionar se sua natureza descontraída sempre fora uma ilusão.
Freya cruzou os braços, mantendo o tom firme: "Em vez de perder tempo me questionando, talvez devesse se preocupar mais com como o motorista teve acesso à agenda da senhorita Bradley hoje."
Kristian estreitou os olhos, mas não respondeu.
"Ah, e mais uma coisa."
"O que é?", ele perguntou.
"Em situações como esta, o primeiro passo lógico seria chamar a polícia, em vez de vir atrás de alguém irrelevante como eu", ela argumentou, fitando os olhos dele.
A lógica dela era impecável, e isso o irritava. Seu primeiro instinto fora confrontá-la - não procurar as autoridades.
Por um momento, o silêncio se estendeu entre eles.
Kristian se viu preso no olhar da esposa. Os olhos dela, antes sempre calorosos, piscavam lentamente, com cílios tremulando suavemente.
Nenhum dos dois desviou o olhar até que o momento foi quebrado pela voz suave de Ashley.
"Kristian", ela murmurou.
O homem virou a cabeça ligeiramente. "O que foi?"
Ashley hesitou por um instante antes de dizer: "Quero descansar."
Era um pedido simples, mas ficou claro que ela queria que Freya fosse embora.
Freya, porém, não tinha intenção de partir ainda. Um sorriso frio curvou seus lábios enquanto ela se aproximava mais da cama. "Antes de você descansar, não deveria se desculpar comigo?"
"O quê?" Os olhos de Ashley se arregalaram de confusão fingida.
Kristian captou o significado do pedido de Freya no mesmo instante. Sua voz saiu como um rosnado quando ele disse: "Freya."
A mulher permanecia inabalável, seu tom glacial: "Não vou te culpar por seduzir meu marido. Afinal, um relacionamento exige consentimento mútuo. Mas vamos tratar da sua falsa acusação primeiro."
Ashley se encolheu, os dedos se apertando nos lençóis. "Me desculpe! Quando vi 'senhora Shaw', eu apenas... presumi que fosse você."
Freya soltou uma risada baixa, quase divertida. "Ah... pensei que você encenou este 'acidente' porque não suportava a ideia de Kristian fazer compras comigo."
"De jeito nenhum!", o protesto de Ashley foi reflexivo.
"Freya", Kristian grunhiu, fervendo de raiva.
Freya deu de ombros, o olhar desafiador. "Não gosta de piadas?"
Kristian deu um passo à frente, protegendo Ashley com seu corpo. "Você chama isso de piada? Se a atacar novamente, terá que lidar comigo."
Freya riu, uma risada aguda que reverberou pelas paredes da enfermaria. "Você se enfurece por uma piada, mas quando ela me acusa de tentativa de assassinato, onde está essa sua lealdade para comigo?"
Por um instante, ele congelou, sem resposta.
"Kristian Shaw", Freya disse seu nome como um veredicto.
Algo se contorceu dentro do peito do homem, o fazendo cerrar o maxilar para reprimir o sentimento.
Ao continuar, a voz dela tremeu, mas logo voltou à frieza de antes: "Preciso te lembrar de que ainda somos casados?"
Porém, seu orgulho sufocou o resto das palavras: "O jeito que você defende ela machuca mais do que você imagina."
Ashley interveio, tentando apaziguar a situação: "Kristian, isso é culpa minha. Não fique bravo com ela."
Freya quase revirou os olhos. Até então, ela escolhera ignorar os joguinhos mesquinhos da mulher, mas sua paciência tinha limites.
"Desde quando estranhos se intrometem em assuntos de família?", ela disparou.
"Eu só odeio ver vocês brigando."
Freya respondeu lentamente: "Estamos brigando por sua causa."
"Eu... sinto muito", Ashley sussurrou, dando uma aula de falsa penitência.
"Se desculpas resolvessem tudo, não precisaríamos de justiça."
Kristian agarrou o pulso de Freya, mas desta vez, seu aperto carecia da sua brutalidade anterior. "Chega! Venha comigo, agora."
Freya não resistiu e pegou sua bolsa, deixando que ele a puxasse para o corredor.
No final do corredor, ele a soltou, voltando a usar sua máscara de indiferença. "O que você quer?"
"Colocá-la no lugar dela."
Um momento de silêncio se seguiu.
"Fazer com que ela reconheça o que realmente é - uma destruidora de lares."
"Ela não é", ele rebateu.
"Então eu sou?"
"Não."
"Então quem é?", Freya inquiriu.
A pergunta pairou entre eles como uma lâmina.
Kristian foi o primeiro a desviar o olhar. Ele queria explicar, mas a expressão sarcástica dela e a ausência de calor nos seus olhos o impediram.
"Você mudou", ele finalmente disse.