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A cidade de Estilo Capital parecia engolir Emilia Torres a cada passo que ela dava. Enquanto caminhava pelas ruas, cercada por edifícios imponentes que se erguiam como paredes de vidro e aço, ela se sentia como se fosse apenas mais uma engrenagem em uma máquina sem fim. O barulho do trânsito, as buzinas, as vozes das pessoas cruzando seu caminho, tudo parecia uma torrente de ruído da qual ele não conseguia escapar. Tudo ao seu redor estava em movimento, mas ela, como uma sombra, não conseguia encontrar seu lugar.
O sol, brilhante e frio, filtrava-se entre os arranha-céus, projetando longas sombras na calçada como tentáculos, tentando prendê-la.
Hoje não foi um dia qualquer, longe disso. Algo havia mudado no ar, algo que Emília não conseguia identificar, mas tinha certeza de que afetaria irreversivelmente seu futuro. Ele caminhou lentamente, mas com uma tensão crescente no peito. Com a maleta debaixo do braço, ela sentiu o peso da cidade, a pressão do que estava por vir, se apoderar dela, sufocando-a, aos poucos.
A Vega Industries, gigante empresarial liderada por Adrián Vega, era o desafio que ele havia decidido aceitar. A oportunidade de trabalhar no projeto da nova sede representou mais do que apenas uma tarefa profissional. Era sua chance de provar que estava à altura da tarefa e de mudar sua vida. Mas cada vez que pensava nisso, uma onda de incerteza e ressentimento o inundava. Como chegou a esse ponto? Por que ela concordou em trabalhar para um homem como ele, um homem que tinha mais poder do que qualquer outro na cidade? O que se esperava dela?
Enquanto ela caminhava em direção ao prédio da Vega Industries, o nó em seu estômago ficou mais apertado. O edifício em si não era apenas uma estrutura de vidro e aço, mas um símbolo de controle, de ambição desenfreada, de poder absoluto sobre a cidade. Não era apenas um projeto arquitetônico. Era a chave para algo muito maior, algo que poderia mudar sua vida para sempre. Mas quanto mais perto ele chegava, mais parecia uma armadilha.
"Não é pessoal", ela repetia para si mesma como um mantra, mas sabia que não era verdade. Ele não conseguia ignorar o que sentia por dentro. Havia algo nela que lhe dizia que esse projeto não seria apenas profissional. Havia algo muito mais profundo que a conectava a esse lugar, a essas pessoas, a esse homem, e ela não conseguia deixar de se perguntar o quê.
Ao atravessar a rua, seus passos ficaram mais pesados. Alguns segundos depois, eu estava em frente à porta principal do prédio da Vega Industries. O saguão era impressionante, de mármore branco e impecavelmente decorado, mas tudo nele parecia projetado para intimidar. Ao entrar, a recepcionista olhou para ela com um sorriso perfeitamente polido, mas havia algo em seus olhos que a fez se sentir ainda menor, mais insignificante.
-Arquiteto Torres? "O elevador privativo está pronto", disse uma das recepcionistas, com um tom frio e profissional, como se já soubesse de tudo o que iria acontecer. Emília assentiu sem dizer nada e seguiu a recepcionista em silêncio, sentindo como cada passo a aprofundava no labirinto daquela empresa que parecia feita sob medida para isolar aqueles que ali viviam.
O elevador, cercado por vidro e metal polido, não oferecia nenhum calor, nenhuma sensação de boas-vindas. Era apenas uma cápsula que a transportava para o centro do poder. A sensação de perder o controle sobre sua própria vida a sufocava. No 47º andar, as portas se abriram automaticamente, e Emilia foi recebida por um escritório que era, simplesmente, avassalador. Não havia espaço para dúvidas, nem mesmo para trégua. Cada parede branca, cada janela enorme com vista para a cidade, não deixava espaço para privacidade. Tudo parecia planejado para fazê-la se sentir uma intrusa em um lugar ao qual ela não pertencia.
E lá estava ele.Adrian Vega. Em pé, com as costas retas e as mãos apoiadas na mesa. Quando seus olhares se encontraram, Emília sentiu uma onda de desamparo. Sua presença dominava a sala. Ele não era apenas um empresário, ele era um homem cuja sombra parecia cobrir a cidade inteira. O dono da Vega Industries. O mesmo homem que criou esse império e que agora a olhava como se ela fosse apenas mais uma ferramenta em seu arsenal.
"Arquiteta Torres", disse ele, sem se virar, como se já soubesse quem ela era, como se sua chegada fosse uma formalidade. Seu tom profundo, tão confiante, tão autoritário, a fez se sentir ainda menor. Pontual. Eu gosto disso.
Emília ficou em silêncio por um momento. Ela não esperava um elogio, mas algo naquelas palavras a intrigou. Ele estava brincando com ela? Você estava tentando manipulá-la desde o começo? A tensão em seu estômago aumentou e, de repente, todo o ambiente do escritório parecia uma prisão invisível. Eu não estava lá apenas para fazer um trabalho. Havia algo mais. Algo que eu não conseguia controlar.
"Tenho os planos preliminares", disse Emília, tentando manter a calma, e colocou os documentos sobre a mesa de vidro, que de alguma forma parecia não ter fim.
Finalmente, Adrian se virou para olhá-la. A intensidade do olhar dele a perfurou, quase como se ele estivesse examinando sua alma. Não era a primeira vez que Emilia encontrava homens poderosos, mas havia algo naquele homem, algo em seus olhos, que a perturbava profundamente.
-Eu não quero um escritório bonito, Torres. "Quero um espaço que funcione como uma extensão da minha mente", disse ele, em voz baixa, quase um sussurro, enquanto se aproximava da mesa sem dar mais um passo.
Emília sentiu o ar ficar denso. A pressão não vinha apenas da magnitude do trabalho, mas da maneira como ele falava, como se cada palavra carregasse um peso de responsabilidade que ele não havia pedido. A sensação de estar presa naquele lugar, de estar à mercê das expectativas de um homem que parecia não conhecer limites, tomou conta dela com força.
"Então teremos que derrubar algumas barreiras mentais, Sr. Vega", respondeu Emília, quase sem pensar. Essa resposta saiu de seus lábios como um ato de rebelião interna. Ele sentia que sua vida, sua identidade, estava sendo reduzida aos limites daquele prédio, às paredes de vidro e aço que o cercavam.
Adrian sorriu. O sorriso foi tão rápido, tão imperceptível, que Emília não teve certeza se o tinha visto. Mas havia algo em sua expressão que a desconcertou. Foi um sorriso de aprovação? Um sorriso de desafio? Eu não sabia, mas a resposta que ele deu não foi apenas sobre o projeto. Não era mais.
"Gostei disso", disse ele, voltando o olhar para os planos.
O momento se estendeu em silêncio. Emília não sabia se havia ganhado alguma coisa com aquela conversa ou se, pelo contrário, havia perdido ainda mais o controle sobre sua vida. Tudo deixou de ser apenas um trabalho. Ela estava em algo muito mais complexo, algo que não apenas a testaria como arquiteta, mas a forçaria a confrontar seus próprios medos, seus próprios limites. E talvez o que mais a aterrorizasse fosse saber que não tinha ideia de como sairia de tudo aquilo.