Capítulo 5 Não é um tubarão

Emilia passou a tarde inteira refletindo sobre a mesma questão: o que Adrian esperava dela? Depois do jantar, ela se sentiu estranha, como se algo tivesse mudado, mas ela não sabia exatamente o quê. Eu estava pensando demais na situação, mas tudo que senti foi confusão e medo. Ele decidiu, então, que o melhor seria se desconectar por um tempo, tentar normalizar os pensamentos e se concentrar nas tarefas diárias.

Entretanto, o peso da conversa com Adrian permaneceu em sua mente. Não tanto a parte profissional - que havia sido fluida - mas a tensão não verbal que começou a se formar entre eles. No fundo, ele sentia que esse relacionamento poderia ir muito além dos projetos que compartilhavam. Mas eu não queria pensar nisso agora. Ela não queria ser apenas mais uma daquelas tentadas pelo que Adrian representava: poder, controle, mas também um desejo de intimidade que a desconcertava.

A noite se aproximava e com ela o reencontro com a família. Emília sempre teve um relacionamento difícil com os pais. Embora os amasse, ela sabia que eles não compartilhavam suas ideias sobre a vida ou o que significava ter uma carreira de sucesso. Ela era frequentemente criticada por suas decisões, por não seguir o mesmo caminho de seu irmão mais velho, um homem de família, casado, com filhos e com um emprego "seguro" nos negócios da família. Enquanto ele se conformava às expectativas tradicionais, ela lutava para criar seu próprio caminho, que nem sempre era compreendido.

Emília se olhou no espelho antes de sair. Ele sabia que não importava o quanto se preparasse, nada poderia impedir o que estava por vir. Não foi apenas um encontro casual. Era o momento em que seus pais testariam suas decisões, especialmente seu relacionamento recente com Adrián. Eu sabia que não seria fácil.

Quando ela chegou à casa da família, foi recebida por uma atmosfera pesada. A porta, sempre aberta em sinal de boas-vindas, fechou-se atrás dela com uma rigidez que já não passava despercebida. Sua mãe estava na cozinha, como sempre, e seu pai estava sentado na sala de estar, olhando o jornal. Emília sentiu a tensão aumentando no ar.

"Oi, mãe, pai", ele cumprimentou com um sorriso forçado enquanto entrava na sala de estar.

"Olá, filha", respondeu sua mãe, com um sorriso que não era exatamente genuíno. Eu sabia que algo não estava certo. Ele a observou com um olhar cheio de perguntas não formuladas. Os olhos do pai, sempre tão avaliadores, já a analisavam de cima a baixo. Ele sentiu o julgamento começar antes mesmo de dizer uma palavra.

Eles se sentaram à mesa e, como sempre, seu pai não perdeu tempo em dar a primeira dica.

-Então, como vão as coisas com o projeto? - perguntou ele, com uma calma que não condizia com o tom da conversa.

Emília assentiu e começou a falar sobre o trabalho, o progresso, os planos. Ele queria manter a conversa profissional, mas seu pai não parecia interessado nisso. Eu sabia que chegaria o momento em que a tensão não poderia mais ser contida.

-E aquele... cara? -sua mãe, sempre mais delicada, não pôde deixar de perguntar. Eu sabia que Emília estava incomodada com a insistência, mas não conseguia parar de tentar entender o que estava acontecendo. Adrian Vega, certo? Está tudo bem entre vocês?

Emília parou de comer. A questão era mais carregada do que parecia. Era a vigilância constante de seus pais, suas tentativas de investigar além do que ela estava disposta a compartilhar.

- Certo, mãe. "Estamos trabalhando juntos", ele respondeu calmamente, mantendo a compostura.

Mas seu pai, sempre mais direto, logo interveio.

-Trabalhando juntos? Você não acha que é um pouco arriscado? - ele disse, com a voz carregada de julgamento. Aquele homem é um tubarão, Emília. Ele não é alguém com quem você pode manter um relacionamento profissional sem que isso se torne complicado. Você sabe o que eu quero dizer. Ele é um homem poderoso que não joga limpo. Não quero que você fique preso em uma teia que não consegue desembaraçar.

A raiva começou a ferver no estômago de Emília. Aquele olhar de superioridade que seu pai sempre teve, aquela sensação de que ela era incapaz de tomar decisões por si mesma, a irritava mais do que ela podia suportar. Mas eu não queria perder a compostura, não na frente deles.

-Não estou preso, pai. E Adrian não é o que você pensa. Nem tudo precisa ser tão preto no branco - sua voz tremeu um pouco, mas ela disse com firmeza.

Sua mãe suspirou, tentando acalmar a situação, mas o olhar de desaprovação de seu pai permaneceu fixo nela como uma espada.

-Eu simplesmente não entendo por que você insiste em complicar tanto as coisas. Você tem um futuro brilhante pela frente. Por que perder tudo por um homem? - disse seu pai, sem olhá-la nos olhos, como se não conseguisse entender o caminho que ela havia escolhido. Este não é o tipo de relacionamento que gostaríamos para você.

Emília se levantou abruptamente da mesa, com as mãos tremendo de frustração.

-Você não entende! - gritou ele, largando a cadeira que estava ocupando. O som do estrondo fez com que todos ficassem em silêncio por um momento. Não se trata apenas de suas expectativas! Você não vê que estou tentando viver minha vida? Eu não quero fazer as coisas do jeito que você quer! Sou eu quem tem que tomar as decisões!

Sua mãe olhou para ela com tristeza, mas foi seu pai quem quebrou o silêncio.

-Você acha que consegue lidar com isso sozinho? - disse ele, também se levantando. Nós lhe demos tudo para ajudar você a ter sucesso. E agora você vai se arruinar por alguém como ele? Um homem sem princípios, que usa as pessoas para chegar mais alto? Não é isso que queremos para você.

Emília sentiu uma pontada de raiva. A rejeição que sentia deles, por não conseguirem entender suas decisões, era insuportável. Ela sabia que seus pais só queriam o melhor para ela, mas esse "melhor" era baseado em uma ideia que ela não compartilhava mais. Aquela visão estreita, cheia de medos e dúvidas sobre o mundo, a sufocava.

-Suficiente! -gritou ele, incapaz de conter suas emoções-. Estou cansado de ouvir o que fazer. Cansado de cada decisão que tomo ser analisada, criticada e destruída antes mesmo que eu possa entender o que ela significa para mim. Eu não sou você. E eu não vou viver minha vida de acordo com o que vocês acham que é certo!

Ao perceber o que havia dito, ela ficou em silêncio, e sua raiva se transformou em algo mais sombrio: uma sensação de dor, de separação, de que as barreiras entre ela e sua família estavam se tornando intransponíveis.

Seu pai olhou para ela, mas não disse mais nada. Ele simplesmente se virou e saiu da sala. Sua mãe se levantou lentamente e, embora tentasse se aproximar dela, Emília a empurrou com uma das mãos.

"Não quero mais falar sobre isso", ele disse com a voz embargada.

Sem esperar mais, ele saiu de casa, deixando-a para trás. A noite estava fria e silenciosa, mas Emília não conseguia deixar de sentir o peso da tensão que havia criado. Não apenas com seus pais, mas consigo mesma. Ele sabia que não importava o quanto tentasse se distanciar das expectativas dos outros, a batalha interna continuaria sendo a mais difícil de todas.

                         

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