Capítulo 4 4 A Sombras do Passado

Maleke , ao confrontar as sombras do passado, começou a entender que o poder que tanto almejava não poderia preencher o vazio deixado pela ausência de amor e compreensão em sua vida.

As memórias da infância, repletas de conflitos e tensões, se tornaram um peso insuportável, que o acompanhava a cada passo.

Ele se lembrava das disputas entre reinos, sempre instigadas pela ambição desenfreada de seu pai, que o ensinou que a força e a conquista eram os únicos caminhos para a grandeza.

No entanto, enquanto refletia sobre suas escolhas, Maleke percebeu que sua busca por poder estava, na verdade enraizada em um anseio mais profundo: o desejo de se libertar das correntes do ódio que herdara.

Ele queria acima de tudo, encontrar uma forma de redimir sua história, de transformar a dor em algo significativo.

A paz que tanto almejava não poderia ser conquistada através da força ou da opressão, mas sim pela capacidade de amar e ser amado. As interações com aqueles que cruzavam seu caminho começaram a abrir novas perspectivas. Pequenos gestos de bondade e compaixão, mesmo que inicialmente estranhos, começaram a tocar seu coração endurecido.

Maleke se viu questionando seus valores, refletindo sobre o que realmente ele queria com aquela busca pela rosa.

Soudyn , perdida em reflexões, observava Maleke com uma mistura de curiosidade e preocupação.

A transformação em seu olhar a intrigava; a ferocidade que antes emanava dele agora dava lugar a uma tristeza profunda, quase palpável.

O deserto ao redor parecia refletir seu estado de espírito, árido e solitário. "Por que ele está assim?", pensou Soudyn. "O que será que ele testemunhou para que essa sombra se instalasse em seu ser?" A lembrança de suas disputas e rivalidades pesava sobre ela, mas agora, naquele momento de fragilidade compartilhada a clareza surgia como uma miragem. "Devo perguntar ou esperar que ele se abra?" Essa dúvida a assolava.

A vontade de saber o que atormentava Maleke era intensa, mas a empatia que começava a nascer dentro dela a fazia hesitar.

O silêncio entre os dois era pesado, mas Soudyn sentia que uma nova dinâmica estava se formando.

Um pacto implícito e necessário se estabelecia naquela aridez: a necessidade de colaboração para sobreviver, não apenas ao deserto, mas ao que cada um carregava dentro de si. Enquanto observava Maleke , Soudyn sentiu seu coração se suavizar. Ele não era apenas um rival, mas um ser humano com suas dores e fantasmas.

A tensão de um passado combativo começava a se dissipar, permitindo que a compaixão surgisse.

O deserto poderia ser um lugar de transformação e talvez juntos, pudessem descobrir caminhos além da dor que ambos carregavam.

"-Maleke," ela começou a voz hesitante, mas firme. "-O que te aflige? Eu posso sentir que há algo pesado sobre ti." Ao fazer a pergunta, Soudyn não apenas buscava entender, mas também oferecia um espaço seguro para que ele se abrisse, se assim desejasse.

O deserto poderia ser implacável, mas ali entre as areias e os ventos, uma nova esperança começava a brotar. Maleke olhou para Soudyn , os olhos refletindo uma confusão interna que parecia querer transbordar.

Ele respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem para abrir seu coração.

"-Desde pequeno, eu fui ensinado a lutar, a ser impiedoso com os mais fracos. Meu pai sempre dizia que isso era a única maneira de sobreviver que a força era tudo o que importava. Eu nunca questionei isso. Apenas obedeci, como um soldado que cumpre ordens sem pensar.

Mas agora, depois de tudo o que vi... depois de conhecer a Rosa, percebo que estava tão errado."

As palavras saíam com dificuldade, como se cada uma carregasse o peso de anos de repressão". Ele continuou a voz trêmula.

"-Eu sempre desejei ser uma criança normal, brincar, sentir alegria sem medo". Mas em vez disso, fui moldado para ser um monstro.

E agora vendo o desprezo nos olhos dos outros, percebo que não é só o que eles veem em mim... "É o que eu mesmo deixei de ver."

            
            

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