Ricardo pareceu momentaneamente preocupado com a "enxaqueca" dela.
"Queres que chame um médico? Posso cancelar os meus compromissos."
Antigamente, ele teria largado tudo. Agora, era apenas uma oferta superficial.
"Não precisa, querido. Um analgésico resolve. Vai tratar dos teus assuntos."
Ele beijou-lhe a testa rapidamente.
"Se precisares de alguma coisa, liga."
Saiu, deixando para trás o rasto daquele perfume insuportável.
Sofia fechou os olhos. A imagem de Ricardo a dormir ao lado de Isabella voltou-lhe à mente.
A traição era uma presença constante, um fantasma a assombrá-la.
Mais tarde, Ricardo ligou.
"Amor, estou a caminho da joalharia na Garcia D'Ávila para vermos as alianças. Encontro-te lá?"
Sofia concordou, a voz neutra.
No carro, a caminho da joalheria, o telemóvel de Ricardo não parava de vibrar.
Ela viu de relance o nome do contacto: "Diabinha 🔥". Isabella.
Ele disfarçou, guardando o telemóvel rapidamente.
"Problemas na empresa, meu bem. Coisa urgente. Vou ter de resolver isto primeiro."
Parou o carro em frente à joalharia.
"Escolhe o que gostares mais. Tenho aqui o cartão, sem limite."
Entregou-lhe um cartão de crédito preto, como se isso compensasse a sua ausência e a sua traição.
Sofia entrou na loja. O luxo e o brilho das joias pareciam zombar dela.
"A senhora procura algo especial?" perguntou uma vendedora atenciosa.
"Alianças," respondeu Sofia, apática.
Apontou para o primeiro par que viu. Eram bonitas, certamente caras. Não importava. Ela nunca as usaria.
"São perfeitas," mentiu.
Voltou para casa sozinha. O apartamento parecia frio e vazio, apesar de todo o luxo.
Não conseguia dormir. Não conseguia comer. Apenas bebia café forte, revisando os detalhes do plano com a agência.
A sua nova identidade: Clara. Uma vida simples numa pacata vila de pescadores no litoral da Bahia. Longe de tudo e de todos.
O telemóvel vibrou. Outra mensagem de Isabella.
Desta vez, um vídeo. Curto, abafado. Gemidos. A voz de Ricardo, ofegante.
"És muito mais quente que ela, meu amor... muito mais..."
A mão de Ricardo no vídeo. A usar a pulseira de couro que Sofia lhe dera no aniversário de namoro.
Sofia sentiu o sangue ferver. A calma aparente deu lugar a uma onda de raiva fria.
Respirou fundo. Manteve a compostura.
A noite arrastou-se, longa e dolorosa. Ela suportou, agarrando-se ao seu plano.
De manhã, Ricardo regressou. A aparência desgrenhada, olheiras profundas.
Provavelmente passara a noite com Isabella.
"Meu amor, desculpa a demora. Aqueles problemas na empresa... não acabavam mais."
Ele aproximou-se, tentando abraçá-la.
"Estás bem? Pareces cansada."
A hipocrisia dele era sufocante.
"Estou bem, Ricardo. Só não dormi muito bem."
Uma desculpa vaga. Ele não insistiu. Provavelmente aliviado por não ter de dar mais explicações.