Sofia não conseguiu conter as lágrimas dessa vez. Chorou ali mesmo, no chão frio da sala, sentindo-se completamente destruída.
O seu mundo, antes perfeito e seguro, desmoronara.
Lembrou-se de Ricardo a dizer que ela era a única mulher da sua vida, que nunca a magoaria.
Lembrou-se de quando partilhavam sonhos, deitados na cama, a planear o futuro.
Tudo mentira.
Ele era um ator talentoso, e ela fora a sua audiência mais crédula.
O telemóvel apitou. Mais uma mensagem de Isabella.
Uma foto. A mão dela, com unhas vermelhas e longas, a exibir um anel.
Um anel de noivado. Não um qualquer.
Era o anel que a avó de Sofia lhe deixara, uma joia de família com um valor sentimental incalculável.
Sofia tinha-o guardado num cofre, mas Ricardo sabia a combinação.
A legenda da foto: "Ele disse que este me fica muito melhor. E que a antiga dona não fará falta. Obrigada pelo presente, ex-noiva! 😘"
Roubada. Não só o noivo, mas também as suas memórias, a sua herança.
A raiva substituiu a dor. Uma raiva fria e calculista.
No dia seguinte, Sofia recuperou a compostura.
Encontrou Ricardo na sala de estar, a ler o jornal como se nada tivesse acontecido.
"Ricardo," começou ela, a voz calma. "Estava a pensar. Aquela nossa casa de praia em Búzios... podíamos vendê-la. Quase não vamos lá."
Ele levantou os olhos do jornal, surpreendido.
"Vender Búzios? Mas tu adoras aquela casa."
"Mudei de ideias. E o anel da minha avó... não o encontro. Viste-o?"
Ele pareceu desconfortável.
"O anel? Não, não o vi. Deve estar guardado em algum lugar seguro."
Evasivo. Mentiroso.
"Antigamente, se eu quisesse vender a Torre Eiffel, tu concordarias," disse Sofia, um leve tom de acusação na voz.
"Não sejas dramática, Sofia. São coisas diferentes."
A campainha tocou.
Era Isabella. Radiante. Usando o anel da avó de Sofia.
"Ricardinho, querido! Esqueci-me da minha mala ontem."
Ela entrou, ignorando Sofia, e beijou Ricardo nos lábios.
Sofia observou a cena, o nojo a crescer dentro dela.
Quando Sofia saiu da sala por um momento, ouviu Ricardo a falar com Isabella num tom ríspido.
"O que estás a fazer aqui? E com esse anel? Eu disse-te para não o usares em público ainda!"
Preocupado com a imagem, como sempre.
Isabella começou a chorar. Lágrimas de crocodilo.
"Mas, Ricardo, eu pensei... pensei que me amavas. Pensei que este anel significava alguma coisa."
Ela aproximou-se dele, a blusa estrategicamente desabotoada, revelando um decote generoso.
"Não chores, meu bem," disse Ricardo, a voz a suavizar. A sua raiva dissipou-se rapidamente perante a sedução barata.
Ele abraçou-a.
"Claro que te amo. Anda, vamos sair daqui. Preciso de espairecer."
Ele pegou na mão de Isabella e saíram juntos, deixando Sofia mais uma vez sozinha com a sua dor e a sua determinação.
O plano da "morte" era a única saída.