Quando o Amor Se Torna Veneno
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Capítulo 2

Dois dias depois, recebi alta do hospital.

O Miguel veio buscar-me. Não sozinho, claro.

A Clara estava com ele, no banco da frente do carro.

"Olá, Sofia. Estás melhor?"

A voz dela era falsamente doce.

Não respondi. Entrei no carro e fechei a porta.

O silêncio no carro era pesado.

O Miguel tentou puxar conversa.

"A mãe disse que cuidou bem de ti."

"Sim," respondi, seca.

A Clara virou-se no banco.

"Sofia, não fiques assim. Eu sei que é difícil, mas tens de ser forte. O Miguel precisa de ti."

Precisa de mim? Ou precisa de alguém para culpar em silêncio?

Chegámos a casa. O nosso apartamento parecia frio, vazio.

O quarto do bebé, que tínhamos começado a decorar, estava de porta fechada.

Não consegui olhar para lá.

O Miguel deixou as minhas coisas no quarto e saiu.

Ouvi-o a falar ao telefone na sala, a rir.

Provavelmente com a Clara.

Sentei-me na cama, o corpo dorido, o coração em pedaços.

Lembrei-me do dia em que descobrimos a gravidez.

O Miguel parecia feliz, abraçou-me, fizemos planos.

Mas essa felicidade durou pouco.

A Clara começou com os comentários.

"Tens a certeza que queres isto agora, Miguel? Um bebé dá tanto trabalho."

"Sofia, vais ter de deixar o teu emprego, claro."

E a Dona Isabel, sempre a concordar com a filha.

O Miguel nunca as contrariou. Apenas sorria, desconfortável.

A alegria dele foi-se esvaindo, substituída por uma preocupação constante com o "bem-estar" da irmã.

Levantei-me e fui até à sala.

O Miguel desligou o telefone rapidamente quando me viu.

"Estava a falar com quem?"

"Com ninguém importante."

"Era a Clara, não era?"

Ele suspirou, irritado.

"Sim, era. Qual é o problema?"

"O problema, Miguel, é que eu acabei de perder o nosso filho. E tu pareces mais preocupado com a tua irmã do que comigo."

"Não digas isso, Sofia. Claro que me preocupo contigo."

Mas as palavras dele soavam vazias.

"Então demonstra," pedi, a voz embargada.

Ele aproximou-se, tentou abraçar-me, mas eu recuei.

"Não me toques."

"Sofia, por favor..."

"Eu preciso de ficar sozinha."

Voltei para o quarto e tranquei a porta.

Deitei-me na cama e chorei até adormecer.

O divórcio parecia cada vez mais a única saída.

                         

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