Com passos sem energia, entrou na van da equipe, que fazia a rota do dia para deixar todas as faxineiras. Enquanto isso, ela pensava na vida e curtia a paisagem até o local de trabalho, que não fazia ideia de onde seria, em Milano.
Sem se lamentar por ter vindo para a Itália apesar de que nem de longe pensara em trabalhar como faxineira, afinal, ela viera por uma ilusão criada pela prima, que lhe dizia que sua vida seria só de estudante.
Uma baita mentira de Aline, e quase Thaila se vira em algo muito errado para seu modo de ver a vida. Porém, ela conseguiu escapar da rede de prostituição, e mesmo tendo que quase morrer de tanto trabalhar, para pagar uma dívida enorme com prima, ela preferia mil vezes isso à vida de mulher fácil.
Além disso, para ela, não tinha preço ainda ser virgem.Talvez algo bobo hoje em dia.
Ela até chegou a pensar sobre isso, e quase mudou de ideia ao conhecer um rapaz legal na escola de gastronomia que frequentava, mas ela era tímida e com pensamentos quadrados, além disso ser virgem era um tipo de orgulho por ter visto algumas amigas da adolescência se dar muito mal.
Valent só queria levá-la para a cama, como fazia com todas, e seu lindo rosto escondia bem o cafajeste que ele era.
Ainda bem que ela não cairá no papo dele e só agradecia o livramento, e assim Thaila resolveu focar definitivamente nos estudos e trabalho, e esqueceu a parte de relacionamento, ficando sempre sozinha e aproveitando totalmente o tempo com trabalho extras que arrumava.
Desde muito cedo, no Brasil, ela sonhava em se tornar uma chef de renome. E quando Aline, depois de dois anos morando na Itália, a convidou dizendo que conseguiria uma bolsa para ela de gastronomia.
Thaila chorou com sua grande sorte. Afinal, a Itália é um dos berços da culinária mundial, e ser uma grande chef era sua meta de sucesso na vida.
A família de Aline, e Thaila nem sonhava que ela, tão querida por todos, a trouxera para a Itália com segundas intenções. Mas Thaila entendia que a prima estava desesperada com a doença da mãe dela e, no fim, pela família, ela perdoou tudo.
Criada pela tia Ângela, mãe de Aline desde pequena, já que sua mãe Regina, e seu pai Carlos haviam morrido no hospital quando ela tinha apenas três anos, por um acidente de carro.
Thaila só não se tornará uma órfã problemática, graças ao carinho da tia, que a tratava igual a uma filha. E, isso sempre fez Thaila se sentir amada, apesar do tio, que nunca a aceitava e sempre a criticava.
Pois ele reclamava de tudo que ela fazia e só elogiava a filha dele, Aline.
Por esse motivo, Thaila fazia serviços domésticos com extrema qualidade, cozinhava e fazia tudo dentro de casa. Afinal, ela passou toda a infância e adolescência tentando mudar a opinião do tio Gilson, mas infelizmente sem sucesso.
Porém, graças a isso ela se tornou uma obsessiva por limpeza. Sendo assim uma profissional na escala ouro na empresa de limpeza Bianchi, e também com muito empenho ela já estava fazendo estágio na cozinha de um grande restaurante famoso da Itália.
Sua vida corrida e diária era extremamente exaustiva, porém finalmente estava dando muito certo, e nenhuma gripe nojenta iria fazê-la parar.
Thaila fungou, limpando o nariz.
Mesmo porque ela agora finalmente iria começar a trabalhar para os mais VIPs da empresa Bianchi, e isso certamente iria aumentar seu salário e melhorar ainda mais seu currículo.
Apesar do alto padrão e dos valores excelentes, os ricos que solicitavam os serviços eram muito exigentes.
Lhe disse Sônia, a gerente, mais cedo, quando explicava a mudança de escala.
Na verdade, alguns eram excêntricos, com manias de limpeza específicas. Como nunca tirar nada do lugar, era preciso manter lustres e espelhos brilhando com produtos de limpeza importados.
Fora os aromas caros de especiarias de rosas, e até muitas das vezes sigilo sobre a vigência de contratos, e endereço onde a confidencialidade era firmada com uma alta multa, caso fosse quebrada.
Além disso, em sua maioria, a solicitação das limpezas era sempre quando o cliente estivesse fora, para evitar contato com os empregados.
Nem todas regras chatas citadas faria Thaila desistir de passar para a escala VIP da empresa Bianchi Limpo, e assim, ela não pensou duas vezes ao assinar o contrato, com cláusula confidencial de até nunca, em nenhuma circunstância, alegar que fora assediada ou algo do tipo.
Já era tarde quando Thaila finalmente estava quase iniciando a limpeza do último cliente novo do seu turno.
O apartamento era mais luxuoso que ela já havia feito faxina, e sinceramente, a surpreendeu com a organização e beleza de cada item charmoso da decoração moderna. Mas o excesso de vidros, espelhos e aço foi algo que a deixou no limite, e, para piorar, a gripe que ela estava desde da semana passada não ajudava em nada, e a medicação cheia de corticóide só piorava tudo.
Com sua dedicação exemplar, ela tentava deixar tudo impecável, mas realmente estava péssima e precisava de algo para se manter em pé.
Mas sua sorte estava boa, e ao abrir a geladeira moderna de duas portas logo encontrou várias latas de energéticos.
E com alívio ela suspirou sabendo que tinha finalmente algo para acordá-la. Enfim ela não resistiu, acabou pegando uma lata e tomou seu remédio junto, para aguentar até o final do trabalho.
Com certeza um cliente tão VIP não iria fazer conta de um simples energético, pensou ela, finalizando de bebe a lata.
Em seguida, ela saiu andando pelo apartamento luxuoso, marcando as tarefas a realizar. Porém, de repente, viu o bar na lateral da sala de estar. E por que não fazer um drink? Parecia uma ideia maluca, mas ela não estava normal, apesar de nunca ter gostado tanto de beber, e realmente ela precisava de um gás extra para dar conta de fazer uma limpeza bem feita, sendo assim andou até o local repleto de garrafas caras e começou a verificar cada bebida disponível.
Thaila, assim que chegou do Brasil, trabalhou como ajudante do barman da casa noturna Blue Nightclub onde Aline trabalhava.
Isso fora sua tábua de salvação, pois ela se deu muito bem com Mário, um ex-soldado aposentado que tomava conta do bar, Ele gostou tanto dela que a livrou da loucura que Aline, sua prima, armara para ela. Só pela proteção do senhor já idoso, Aline desistiu de forçá-la a ser como ela era, uma prostituta profissional.
Depois disso, por um tempo, Thaila até queria seguir trabalhando no bar, pois gostava de Mário. Mas Fred, o dono da casa noturna e filho dele, logo tentou convencê-la a aceitar ser uma das garotas do local.
Mário a ajudou novamente, ficando contra o filho, e logo a aconselhou a esquecer o trabalho de barman, já que infelizmente a profissão não era segura para uma mulher tão jovem e bonita.
Uma pena, ela lamentou, pois realmente era boa com drinks e aprendera tudo que Mário lhe ensinara. Todos diziam até que ela fazia uma mistura sensacional, que dava um gás de fazer até a alma mais cansada reagir.
Pensando nisso, ela sem pensar, fez a sua mistura favorita de drinks, que ela mesma batizou como "Viva a Primavera". Em seguida, tomou degustando cada gole. Realmente, a sensação foi maravilhosa, deixando-a leve, e o sabor incrível a fez suspirar.
Em seguida, ela com calma tomou todo drinks, e totalmente relaxada, sem sintomas de gripe e muito animada, voltou ao serviço.
Acabou sendo irresistível fazer mais outro copo do mesmo drink delicioso, afinal era muito trabalho para fazer, e assim ela foi limpando e bebendo sem ver, mas ao terminar de limpar, tomou um susto quando deu por si.
Thaila, já havia tomado mais de três latas de energético, fora os drinks que nem fazia ideia da quantidade, e ainda estava fazendo mais, afinal era muito grande a quantidade de bebida da adega, e o cliente nunca iria perceber.
Como sabia que o cliente estava fora, viajando segundo as informações da escala de trabalho, ela sabia que podia continuar sem medo a loucura que começará.
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Autora: Graciliane Guimarães