Eu conhecia a Sofia. Ela era a razão de muitas das minhas noites sem dormir.
Pedro sempre disse que eles eram apenas amigos, que a relação deles era puramente profissional. Mas eu via a forma como ele olhava para ela, a forma como o rosto dele se iluminava quando ela estava por perto.
Ele levantou-se abruptamente.
"Tenho de ir. A Sofia precisa de ajuda com um fornecedor."
Ele nem sequer olhou para mim.
"Pedro, espera", pedi. "Podes ficar só mais um pouco?"
Ele virou-se, a impaciência evidente no seu rosto.
"Lia, eu não posso. O restaurante depende de nós. Tu sabes disso. Para de ser tão carente."
As suas palavras foram diretas, sem suavidade.
Ele saiu do quarto sem olhar para trás, deixando-me sozinha com a minha sopa fria e o meu coração partido.
Eu peguei na colher, mas as minhas mãos tremiam tanto que a deixei cair. O som metálico ecoou no silêncio.
As lágrimas que eu tinha segurado finalmente começaram a cair, quentes e silenciosas no meu rosto.
Não era por ser carente. Era por me sentir invisível.
Eu sabia que tinha de tomar uma decisão. Eu não podia continuar a viver assim, a sacrificar a minha saúde e a minha felicidade por alguém que claramente não me valorizava.
Peguei no meu telemóvel. As minhas mãos ainda tremiam, mas eu estava determinada.
Abri a conversa com a minha irmã, Clara.
"Clara, preciso de ajuda."
A resposta dela foi quase imediata.
"O que aconteceu, Lia? Onde estás?"
"No hospital. O Pedro deixou-me aqui sozinha."
"Estou a caminho."
A simplicidade da sua resposta foi um bálsamo para a minha alma ferida. Pelo menos eu não estava completamente sozinha.