O Cais de Alcântara estava cinzento e ventoso. O cheiro a sal e peixe pairava no ar.
Um homem esperava por mim no final do pontão. Era alto, corpulento, com uma cicatriz a atravessar-lhe a sobrancelha.
Ele não sorriu.
"Eva Lima?" A voz dele era a mesma da chamada.
Eu assenti, a minha garganta seca.
"Onde está o dinheiro?" perguntou ele, direto ao assunto.
"Eu não o tenho," disse eu, a minha voz a sair mais fraca do que eu queria. "Eu nem sabia desta dívida. O meu irmão..."
"O teu irmão está morto," ele interrompeu. "Isso não é problema nosso. A dívida é tua."
Ele deu um passo na minha direção. Instintivamente, dei um passo atrás.
"Eu preciso de tempo," implorei. "Eu consigo o dinheiro, mas preciso de tempo."
O homem riu, um som desagradável. "Tempo é dinheiro. E tu não tens nenhum dos dois."
Ele tirou um maço de fotografias do bolso do casaco e atirou-mas para os pés.
Curvei-me para as apanhar.
Eram fotografias minhas. A sair do meu apartamento. A entrar no supermercado. No funeral do Leo.
Alguém me andava a seguir.
"Nós sabemos onde vives, Eva," disse o homem. "Sabemos tudo sobre ti."
Ele aproximou-se mais, o seu rosto a centímetros do meu. O hálito dele cheirava a café velho.
"Ou pagas, ou as coisas vão ficar muito feias. Para ti."
Ele virou-se e foi-se embora, deixando-me ali, a tremer, com as fotografias na mão.
Corri para casa, tranquei a porta e encostei-me a ela, a tentar controlar a minha respiração.
Eu estava encurralada.
Desesperada, fiz a única coisa que me ocorreu.
Liguei ao Miguel.
Ele atendeu ao segundo toque. "Eva?"
"Miguel," disse eu, a minha voz a quebrar. "Eu preciso da tua ajuda."