Miguel encontrou-se comigo num café discreto, longe do centro da cidade.
Ele ouviu-me em silêncio enquanto eu lhe contava tudo. O empréstimo, a assinatura falsificada, as ameaças, o homem no cais.
Mostrei-lhe o contrato e as fotografias.
A expressão dele passou de confusão para preocupação, e depois para uma raiva fria.
"Cinquenta mil euros?" ele disse, incrédulo. "Porque é que o Leo precisaria desse dinheiro?"
"Eu não sei," respondi, sentindo as lágrimas a formarem-se nos meus olhos. "Ele nunca me disse nada."
Miguel pegou na minha mão por cima da mesa. Desta vez, eu não a afastei. O calor do seu toque era reconfortante.
"Eva, eu sinto muito," disse ele, a sua voz suave. "Por tudo. Eu devia ter estado lá para ti."
"Não, eu é que sinto muito," disse eu, abanando a cabeça. "O que eu disse sobre a tua mãe... foi imperdoável. Eu estava destroçada e ataquei."
"Esquece isso," disse ele. "Vamos resolver isto. Juntos."
A palavra "juntos" soou estranha, mas certa.
"O que vamos fazer?" perguntei.
"Primeiro, vais ficar comigo. Não é seguro ficares no teu apartamento," disse ele, com firmeza. "Depois, vamos descobrir porque é que o Leo pediu este dinheiro emprestado."
Ele olhou para o contrato novamente. "Soluções Rápidas Lda... Nunca ouvi falar."
Ele tirou o telemóvel. "Vou pedir a um amigo meu, um advogado, para investigar esta empresa. E vou pagar a dívida."
"Não, Miguel," disse eu imediatamente. "Eu não posso aceitar. Isto é problema meu."
"Era problema do Leo," corrigiu ele. "E o Leo era meu amigo. Deixa-me ajudar, por favor."
Olhei para os olhos dele, sinceros e preocupados. Senti uma onda de alívio tão forte que quase me fez chorar.
Eu não estava mais sozinha.
Assenti. "Está bem."
Naquela noite, fiz as malas com o essencial e mudei-me para o apartamento luxuoso do Miguel. Parecia um mundo diferente do meu pequeno T1.
Enquanto eu desfazia a minha mala, o Miguel entrou no quarto.
"O meu amigo já me respondeu," disse ele, o seu rosto sério. "A 'Soluções Rápidas Lda.' é uma empresa de fachada. Uma operação de agiotagem dirigida por um tipo chamado Rui Costa."
"Ele é perigoso?" perguntei.
"Muito," respondeu Miguel. "Tem um historial de violência e extorsão. A polícia anda atrás dele há anos, mas nunca conseguem provar nada."
O medo voltou.
"Mas há mais," continuou Miguel, o seu tom a escurecer. "O meu amigo descobriu para onde foi o dinheiro. Foi transferido para uma única conta bancária."
Ele fez uma pausa, olhando para mim.
"A conta pertence à tua antiga chefe. A dona da galeria de arte onde trabalhavas. Catarina Mendes."