O meu filho, Lucas, morreu no dia do seu quinto aniversário.
O médico disse que a causa da morte foi uma reação alérgica grave a amendoins.
Eu estava sentada no chão frio do hospital, o relatório do médico nas minhas mãos parecia pesar uma tonelada.
O meu marido, Pedro, estava ao meu lado, a consolar a sua irmã mais nova, Sofia.
"Não chores, Sofia, não foi culpa tua. Tu não sabias que o Lucas era alérgico a amendoins."
A voz dele era suave, cheia de uma ternura que eu não ouvia há muito tempo.
Sofia soluçava nos braços dele.
"Mas... mas fui eu que lhe dei o bolo, Pedro. Eu matei o meu sobrinho. Eu sou uma assassina."
"Não digas disparates," o Pedro repreendeu-a gentilmente, "Foi um acidente. Ninguém queria que isto acontecesse."
Um acidente.
Ele chamou a isto um acidente.
Eu tinha dito a todos, a cada membro da família, inúmeras vezes, que o Lucas tinha uma alergia fatal a amendoins.
Eu tinha colado um aviso na porta do frigorífico.
Eu tinha enviado mensagens de texto em grupo.
Eu tinha mencionado isso em todas as reuniões de família.
A Sofia sabia. Ela sabia perfeitamente.
Eu levantei a cabeça, a minha voz soava rouca e estranha aos meus próprios ouvidos.
"Pedro, vamos divorciar-nos."
O Pedro parou de consolar a Sofia e virou-se para me olhar, a sua expressão era de incredulidade e raiva.
"Do que estás a falar, Clara? O nosso filho acabou de morrer, e estás a falar em divórcio? Onde está o teu coração?"
"O meu coração?" Eu ri, um som seco e sem alegria. "O meu coração morreu com o meu filho. O filho que a tua irmã matou."
"Clara!" A voz do Pedro era cortante. "Eu já disse que foi um acidente! A Sofia já está a sofrer o suficiente, não precisas de a atacar!"
Atacá-la? Eu estava a atacar a mulher que deu ao meu filho o bolo de amendoim que o matou, e ele achava que eu estava a ser cruel?
A dor no meu peito era tão intensa que me deixou sem fôlego.
Eu queria gritar, queria bater-lhe, queria fazê-lo sentir uma fração da agonia que me consumia.
Mas eu não fiz nada. Apenas o olhei, sentindo o último vestígio de amor que eu tinha por ele a transformar-se em cinzas.
"Eu vou para casa tratar do funeral do Lucas," eu disse, a minha voz vazia de qualquer emoção. "Tu podes ficar aqui e consolar a tua irmã."
Levantei-me, as minhas pernas tremiam, e afastei-me sem olhar para trás.
O som dos soluços da Sofia e das palavras reconfortantes do Pedro seguiram-me pelo corredor, cada palavra era um novo golpe no meu coração já destroçado.
Eu sabia, naquele momento, que o meu casamento tinha acabado.
Tinha acabado no momento em que o Pedro escolheu a sua irmã em vez do seu filho morto.