Acordei no hospital. O quarto estava branco e estéril, e o cheiro a antisséptico enchia o ar.
Uma enfermeira entrou e sorriu-me com simpatia.
"A senhora acordou. O seu amigo pagou a sua conta. Ele está lá fora, quer que o chame?"
"Amigo?" perguntei, confusa.
A enfermeira assentiu. "Sim, um homem chamado David. Ele disse que era um colega de faculdade."
David. O meu coração deu um salto. Eu não o via há anos. Como é que ele sabia que eu estava aqui?
"Sim, por favor," disse eu, a minha voz ainda rouca.
David entrou no quarto. Ele parecia o mesmo, talvez um pouco mais maduro. O seu cabelo escuro estava cortado curto, e os seus olhos castanhos estavam cheios de preocupação.
"Ana. Ouvi o que aconteceu. Sinto muito," disse ele suavemente, sentando-se na cadeira ao lado da minha cama.
"Como... como soubeste?"
"A minha irmã, Clara, é enfermeira neste hospital. Ela reconheceu o teu nome. Ligou-me imediatamente."
Senti as lágrimas a formarem-se nos meus olhos. "Obrigada por teres vindo, David. E por teres pago a conta."
"Não te preocupes com isso. Onde está o Leo?" perguntou ele, a sua expressão a endurecer.
Eu ri, um som oco e sem alegria. "Ele está ocupado. A dar banho ao cão da mãe dele."
David cerrou os punhos. Ele não disse nada, mas a raiva no seu rosto era evidente. Ele sempre tinha sido protetor comigo, mesmo quando éramos apenas amigos na faculdade.
"Vou-me divorciar dele, David."
As palavras saíram antes que eu pudesse detê-las. Mas assim que as disse, soube que eram verdadeiras.
David olhou para mim, os seus olhos a suavizarem. "Tens a certeza?"
"Mais do que nunca," respondi, a minha voz firme. "Este bebé era a minha última esperança. Agora que ele se foi... não há mais nada."
Ele estendeu a mão e apertou a minha. "Eu estou aqui por ti, Ana. Para o que precisares."
Naquele momento, o meu telefone tocou. Era um número desconhecido. Hesitante, atendi.
"Ana? É o Leo. A mãe disse-me para te ligar. Ela disse que eu devia verificar se estavas bem para que não possas dizer que não nos importamos." A sua voz era monótona, desprovida de qualquer emoção.
"Onde estás, Leo?"
"Ainda na casa da mãe. O Bobo apanhou um resfriado, tivemos de o levar ao veterinário. Estás bem? Já paraste com o drama?"
Eu não conseguia acreditar no que estava a ouvir.
"Eu perdi o bebé, Leo."
Silêncio. Por um longo momento, pensei que ele tinha desligado novamente.
"Oh," disse ele finalmente. "Bem... isso é uma pena. Mas talvez seja para melhor. Nós não estávamos realmente prontos."
A crueldade casual das suas palavras roubou-me o fôlego.
"Eu quero o divórcio," disse eu, a minha voz a tremer de raiva contida.
"O quê? Outra vez essa conversa? Não podes estar a falar a sério. Estás apenas a ser emocional. Vamos falar sobre isto quando voltares para casa."
"Não. Eu estou a falar a sério. Acabou, Leo."
Desliguei o telefone antes que ele pudesse responder.
David ainda segurava a minha mão. O seu aperto era a única coisa que me mantinha ancorada.