O médico entregou-me o relatório do teste de gravidez, os seus olhos mostravam pena.
"Senhora, o seu nível de progesterona está muito baixo, e há sinais de um aborto ameaçado."
"O seu marido precisa de vir para assinar os papéis do tratamento de preservação fetal."
Senti a minha cabeça a zumbir, e o meu corpo ficou frio.
Liguei imediatamente para o meu marido, Pedro. A chamada tocou durante muito tempo antes de ele atender.
"O que foi, Ana? Estou ocupado."
A sua voz era fria, sem qualquer emoção.
"Pedro, o médico disse... eu posso perder o bebé. Precisas de vir ao hospital para assinar os papéis."
Houve um silêncio do outro lado da linha, seguido pela sua voz impaciente.
"Eu não te disse para não me incomodares com coisas pequenas? A perna da Lúcia está magoada, não posso sair agora."
"Lúcia? A tua ex-namorada?"
Fiquei chocada. Ele ainda estava em contacto com ela?
"Não fales disparates. Somos apenas amigos. Ela caiu e não tem ninguém para cuidar dela."
"Pedro, mas este é o nosso filho!"
A minha voz tremia.
"É só um aborto ameaçado, não um aborto real. Toma algum medicamento primeiro. Eu vou quando tiver tempo."
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele desligou o telefone.
Olhei para o telefone em silêncio, o meu coração parecia ter sido esvaziado.
Este bebé, tínhamos tentado durante dois anos para o ter. Agora, na sua boca, tornou-se uma "coisa pequena".
E a sua ex-namorada, Lúcia, era mais importante do que o nosso filho.
As minhas mãos tremiam enquanto assinava os papéis sozinha.
O médico olhou para mim com simpatia.
"Descanse bem. Tente não se stressar."
Assenti com a cabeça, sentindo-me completamente exausta.
Deitada na cama do hospital, o cheiro de desinfetante enchia o ar. Olhei para o teto branco, sentindo-me perdida.
Será que este casamento ainda tinha algum sentido?