O funeral do meu pai tinha acabado há três dias.
Finalmente, a casa estava vazia, exceto por mim e pelo meu marido, Leo.
Ele estava no sofá, a cara séria, os olhos fixos no telemóvel.
Eu sabia o que ele pensava: a herança.
O meu pai deixou-me toda a empresa, uma construtora que valia milhões.
Leo esperava uma parte, mas o pai tinha sido claro: tudo era meu.
"Precisamos de falar, Sofia," disse ele, a voz fria.
"Sobre o quê?", perguntei, já sabendo a resposta.
"Sobre a empresa. Sobre o nosso futuro." Era o futuro dele que ele queria.
Mas eu sabia de tudo.
"A decisão do meu pai foi final, Leo. Não há nada para falar."
A sua cara contorceu-se de raiva. "O teu pai fez isto de propósito!"
Ele achava que tinha direito, que tinha trabalhado pela empresa, por "nós".
"Eu amo-te!", ele insistiu, palavras ocas que não dizia há meses.
"Leo, eu sei de tudo sobre a Clara. Sei que ela não é a tua irmã."
O silêncio na sala era pesado. A sua falta de negação confirmou tudo.
"O meu pai contratou um investigador há dois meses. Ele deu-me o relatório. Fotos. Mensagens. Registos de hotel."
Mostrei-lhe a foto dele a beijar uma loira.
A cor fugiu-lhe da cara. "Foi um erro, eu estava fraco!"
"Fraco? Tu planeaste isto, tu e ela. Casar-me, esperar que o meu pai morresse, e depois ficar com o dinheiro."
Ele deu um passo. "Não me toques." A minha voz, agora gelada.
"Quero o divórcio, Leo."
A sua máscara caiu, revelando ódio puro.
"Não te vais livrar de mim. Metade de tudo o que tens é meu!"
"Não, quando há provas de fraude e adultério. O testamento do meu pai tem uma cláusula: se o casamento terminar por tua culpa, não recebes nada."
"Vais arrepender-te disto, Sofia!" Ele saiu, batendo a porta.
O vazio era imenso. O meu pai tinha razão, mas agora a batalha era minha.
Não ia deixar que ele levasse o que era meu por direito, o legado do meu pai.
Não, este jogo tinha acabado. E eu ia jogar para ganhar.