Não sei quanto tempo passou. A última coisa de que me lembro é do som de uma porta a ser arrombada e de um bombeiro a gritar.
Quando acordei, o cheiro de antisséptico encheu os meus pulmões em vez de fumaça. As paredes brancas do hospital eram ofuscantes.
Uma enfermeira estava a ajustar o meu soro. Ela sorriu para mim com tristeza.
"Você teve sorte. Mais alguns minutos e..." Ela não terminou a frase.
A minha mão foi instintivamente para a minha barriga. Estava vazia. Plana.
O meu coração parou.
"O meu bebé..." a minha voz era um fio. "Onde está o meu bebé?"
O rosto da enfermeira contraiu-se de pena. "Lamento muito. Devido à inalação severa de fumaça e ao stress extremo, você entrou em trabalho de parto prematuro. Nós fizemos tudo o que podíamos, mas o bebé era muito pequeno... ele não sobreviveu."
Um som oco ecoou na minha cabeça. O mundo inteiro ficou em silêncio. O meu filho. O meu menino. Tinha-o perdido.
As lágrimas que eu não sabia que tinha começaram a rolar silenciosamente pelas minhas têmporas, molhando o travesseiro.
A porta abriu-se e Leo entrou. Ele parecia cansado, mas não havia um pingo de fuligem nele.
"Clara, graças a Deus estás bem," ele disse, aproximando-se da cama. "Foi um caos. A Sofia ficou tão assustada, coitadinha. O médico disse que foi uma entorse feia."
Ele nem sequer olhou para a minha barriga. Ele não fazia ideia.
Eu olhei para ele, o meu rosto desprovido de qualquer expressão. A dor era tão grande que se transformou em nada. Num vazio.
"O bebé morreu, Leo."
Ele parou. Piscou os olhos, como se estivesse a processar uma língua estrangeira.
"O quê? Como assim? O que aconteceu?"
"A fumaça. O stress. Perdi-o." As minhas palavras eram frias e precisas.
O seu rosto ficou pálido. "Oh meu Deus, Clara... eu... eu não sabia."
"Claro que não sabias. Estavas ocupado com a Sofia."
"Não é justo! Como é que eu podia adivinhar que era tão grave?" ele começou a defender-se. "Pensei que estavas a exagerar, tu fazes sempre isso!"
Eu ri. Um som seco e amargo que arranhou a minha garganta.
"Vamos divorciar-nos, Leo."
Ele olhou para mim, chocado. "O quê? Estás a brincar? Acabaste de perder o nosso filho, não estás a pensar com clareza!"
"Estou a pensar com mais clareza do que nunca," eu disse, a minha voz firme pela primeira vez. "Acabou."