A minha mãe recebeu alta do hospital. Tentei manter uma fachada de normalidade, mas ela era demasiado perspicaz.
Uma noite, enquanto jantávamos a nossa refeição simples, ela pegou na minha mão.
"Eva, conta-me a verdade. O que se passa com o Pedro?"
As lágrimas que eu tinha reprimido durante tanto tempo finalmente vieram. Contei-lhe tudo. O divórcio, as ações, a traição de Pedro, a crueldade de Sofia e a perda do Leo.
Ela ouviu em silêncio, o seu rosto a endurecer de raiva.
"Aquele monstro", sussurrou ela. "Como é que ele pôde fazer-te isto?"
"Eu fui estúpida, mãe. Confiei nele."
"Não, querida. Tu amaste-o. Não há nada de estúpido nisso. Ele é que é o monstro."
O seu apoio inabalável deu-me força.
"Eu vou recuperar o Leo, mãe. Eu prometo."
"Nós vamos recuperá-lo", corrigiu ela. "Juntas."
Naquela noite, senti uma centelha de esperança pela primeira vez em muito tempo. Eu não estava sozinha.
Comecei a planear. Eu sabia que não podia lutar contra Pedro nos tribunais. Ele tinha os melhores advogados que o dinheiro podia comprar.
Tinha de encontrar outra maneira. Tinha de expor o Pedro pelo que ele era.
Lembrei-me de algo que o meu pai costumava dizer sobre os negócios. "Mantém sempre uma cópia de segurança."
O meu pai era um homem meticuloso. Ele mantinha registos de tudo. Talvez houvesse algo nos seus ficheiros antigos que eu pudesse usar.
No fim de semana, fui ao antigo armazém onde os pertences do meu pai estavam guardados. Estava escuro e poeirento, cheio de caixas e móveis velhos.
Passei horas a vasculhar caixas de documentos, à procura de algo, qualquer coisa.
Finalmente, encontrei-a. Uma pequena pen USB escondida dentro de um livro antigo.
Liguei-a ao meu computador portátil. Continha cópias de todos os e-mails e transações financeiras da empresa, incluindo os que Pedro pensava ter apagado.
Percorri os ficheiros, o meu coração a bater mais depressa. E então, vi.
Prova de que Pedro tinha estado a desviar fundos da empresa durante anos, muito antes de eu lhe entregar o controlo. Ele tinha estado a levar a empresa à falência de propósito, para poder comprá-la por uma ninharia.
Havia também e-mails entre ele e Sofia, a planear tudo desde o início. A sua relação não era recente. Tinha começado anos antes, enquanto eu ainda estava de luto pelo meu pai.
A traição era mais profunda do que eu alguma vez imaginei.
Mas agora, eu tinha a prova. Tinha a arma de que precisava para o destruir.