No dia do meu casamento, o noivo desapareceu.
Liguei para o telemóvel dele, mas estava desligado.
Os convidados começaram a murmurar, os seus olhares a passarem de pena para desprezo.
O meu pai, com o rosto pálido, tentava manter a compostura, mas as suas mãos a tremer denunciavam o seu nervosismo.
"Eva, o que se passa com o Leo? Porque é que ele ainda não chegou?"
Eu não sabia o que responder.
Agarrei com força o meu vestido de noiva, o tecido caro a amachucar-se nos meus dedos.
Nesse momento, o meu telemóvel vibrou.
Era uma mensagem de um número desconhecido, com uma fotografia anexada.
Abri a imagem e o meu mundo desabou.
Era o Leo, o meu noivo, deitado numa cama de hospital, com o rosto pálido e os olhos fechados. Ao seu lado, a segurar-lhe a mão, estava a minha irmã mais nova, a Sofia. Ela olhava para ele com uma expressão de profunda preocupação.
A legenda da foto dizia: "O Leo desmaiou de repente. Os médicos dizem que é uma arritmia grave. Eva, ele precisa de mim agora. Não posso deixá-lo."
Arritmia.
A mesma doença cardíaca que eu tinha. A doença que me fez passar a infância e a adolescência dentro e fora de hospitais.
Senti o meu próprio coração a falhar uma batida, não por causa da doença, mas pela traição.
O Leo sabia tudo sobre a minha condição, ele prometeu cuidar de mim para sempre.
E agora, ele estava no hospital, e a pessoa ao seu lado não era eu, a sua noiva, mas a minha irmã.
A minha mãe correu para o meu lado, arrancando o telemóvel da minha mão.
Quando viu a foto, o seu rosto ficou lívido de raiva.
"Aquela desgraçada! Como é que ela se atreve? Depois de tudo o que fizemos por ela!"
Ela agarrou no seu próprio telemóvel e ligou para a Sofia. A chamada foi para o altifalante.
"Sofia! O que pensas que estás a fazer? Volta já para aqui! Hoje é o casamento da tua irmã!"
A voz da Sofia soou do outro lado, calma e desafiadora.
"Mãe, o Leo está doente. Ele precisa de mim."
"Ele tem a Eva! Ela é a noiva dele! É com ela que ele se vai casar, não contigo!" gritou a minha mãe, a sua voz a ecoar pela sala silenciosa.
"Mas eu sou a única que o pode salvar," respondeu a Sofia, a sua voz baixa mas firme. "Os médicos disseram que ele precisa de um transplante de coração, e o meu tipo de sangue é compatível. O da Eva não é."